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Primeiro turno mostrou volatilidade do eleitor de oposição

Especial para o UOL

05/10/2014 23h16

As eleições de 2014 foram atípicas, independentemente do resultado que virá no segundo turno. Foram atípicas porque o eleitor se colocou duas perguntas neste pleito: a primeira diz respeito às diferentes propostas para presidente, e a segunda esteve relacionada a sua visão da polarização PT versus PSDB.

É possível dizer que, em relação à preferência principal do eleitor, ela se estabilizou na candidatura da presidente Dilma Rousseff desde o início de agosto e pouco mudou até hoje, quando ela teve 41,59% dos votos.

No entanto, o que tornou este primeiro turno emocionante e atípico foi a maneira como o eleitorado oscilou entre os dois candidatos da oposição, Aécio Neves e Marina Silva, colocando em questão a disputa entre petistas e tucanos. Nesse sentido é possível analisar o primeiro turno desta eleição como o momento da volatilidade do eleitor da oposição, decidida apenas nesta semana.

Essa volatilidade girou, por sua vez, em torno de uma questão principal: a escolha ou não de Aécio Neves e do PSDB como representante da oposição. O partido tem sido um dos dois que concentra a disputa político-eleitoral no Brasil desde 1994, tendo vencido as em 1994 e 1998 e ido para o segundo turno em 2002, 2006 e 2010.

Assim, no interior do sistema político que existe no Brasil, o eleitorado chegou a colocar em questão um dentre os dois partidos fundamentais que estruturam o nosso sistema político.

A derrota de Marina Silva hoje mostra – embora tenha alcançado um terceiro lugar significativo com 21% dos votos – que a disputa política no país retornou ao eixo fundamental em que está travada há vinte anos.

Há outro fenômeno que merece ser discutido, que é a relação do eleitorado com o PSDB e, em especial, com a candidatura de Aécio Neves. O tucano escapou por pouco de sair fortemente chamuscado do primeiro turno. Sua não ida ao segundo turno poderia significar uma forte derrota pessoal dele.

Vale a pena analisar o contexto da candidatura de Aécio, para entendermos melhor seus desafios no segundo turno. O PSDB enfrenta, desde 2002, o problema de uma nacionalização deficiente. O partido tem excelente estrutura, fortemente centrada nos dois maiores colégios do país, São Paulo e Minas Gerais.

Depois de disputar e perder três eleições, em 2002, 2006 e 2010 com candidatos paulistas, o PSDB fez a aposta em uma candidatura oriunda de Minas Gerais, e contava com apoio quase imediato candidatura do eleitorado paulista. No entanto, Aécio Neves só conseguiu resolver o problema da aceitação da sua candidatura pelo eleitorado paulista na última semana antes da eleição.

Quando analisamos as pesquisas, desde o início de agosto, percebemos esse problema: Aécio tinha em São Paulo algo em torno de 19% das intenções de voto no início de agosto, caiu para 15% no final do mesmo mês e lá ficou um bom tempo. Apenas hoje ele ultrapassou este patamar, alcançando 40% dos votos no Estado de São Paulo.

Por último, vale a pena comentar as perspectivas e os problemas de cada um dos candidatos para o segundo turno. Do lado da presidente Dilma Rousseff, as perspectivas dela parecem boas pela proximidade da maioria absoluta, já que a porcentagem de votos recebidos por ela a aproximam dos 50% mais um dos votos necessários para vencer o segundo turno.

Ao mesmo tempo, ainda que não esteja definido um apoio de Marina Silva a qualquer um dos candidatos, parte do apoio a Marina pode ir para Dilma, devido à proximidade histórica entre alguns dirigentes do PSB e o PT. A grande incógnita da campanha petista será o patamar de intenção de votos que ela terá em São Paulo no segundo turno. Se Dilma crescer no Estado, pode ter um segundo turno tranquilo.

Já Aécio tem problemas, mas também tem motivos para comemorar. Seu principal problema é a forte derrota sofrida pelo PSDB nas eleições para governador em Minas Gerais, que certamente terá forte impacto no partido, especialmente porque joga areia na candidatura no colégio eleitoral em que deveria estar engajada mais fortemente. O segundo problema de Aécio consiste na baixa presença da sua candidatura no Nordeste, onde ele ficou abaixo dos 20% das intenções de voto em todos os estados, com exceção de Sergipe.

Assim, as duas candidaturas principais saem com preocupações e motivos para comemorar deste primeiro turno. A campanha de Dilma Rousseff sai com mais gás porque está mais bem organizada e oscilou menos no primeiro turno. Seu grande calcanhar de Aquiles é o Estado de São Paulo.

A campanha de Aécio tem certamente motivos para comemorar a sua passagem para o segundo turno, mas evidentemente a derrota em Minas Gerais não fazia parte dos planos. Cada campanha terá de resolver os seus problemas e encontrar uma estratégia alternativa. Surpreendentemente, o PT terá de fazê-lo onde nasceu, São Paulo, e Aécio Neves no seu berço político, Minas Gerais. 

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