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Minhocão pode se transformar em favela suspensa caso vire parque

Especial para o UOL

15/10/2014 06h00

São Paulo, a 6ª maior metrópole do mundo tem seus atrativos e problemas. Quem não se encanta com a proposta da efetivação de mais um parque nessa selva de pedra, onde todos possam passear, respirar ar puro e desfrutar das sombras acolhedoras das árvores?

Precisamos não só de um parque, mas de vários. Entretanto, é inviável a ideia bucólica de se fazer um parque sobre a velha estrutura do Minhocão, por se tratar de local o mais inapropriado que se possa imaginar.

Quando o Elevado Costa e Silva foi construído, há 43 anos, a comunidade ao longo do seu trajeto, que seria diretamente afetada, não foi consultada. Nenhum estudo de impacto social, ambiental e de saúde foi feito, pois se tivesse sido realizado, seria rejeitado. O Minhocão foi uma obra imposta.

Agora, pela segunda vez querem decidir o futuro do Minhocão. Novamente nenhum estudo de impacto foi feito, apesar de afetar aproximadamente mais de 232 mil munícipes que pagam em dia seus impostos e que são eleitores.

O Plano Diretor de São Paulo prevê a desativação do elevado e sua demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque. Por que a comunidade é a favor do desmonte do Minhocão em vez de um parque?

Os moradores e comerciantes das avenidas ao longo do Minhocão enfrentam quatro problemas básicos: a degradação da região, altos índices de poluição do ar, de poluição sonora e de poluição visual.

Ao longo de seu trajeto, as pistas do elevado funcionam como um tampão, retendo os gases tóxicos dos escapamentos de milhares de carros que passam diariamente sob ele, impedindo que esses elementos nocivos à saúde humana se dispersem pela atmosfera, invadindo casas, apartamentos, comércios e gerando toda espécie de doenças respiratórias e pulmonares, entre outras.

Portanto, é de interesse da saúde pública o desmanche urgente do Minhocão. Não podemos crer que vereadores, eleitos pelos nossos votos, aprovem um projeto contra os interesses e saúde dos moradores e comerciantes locais e queiram perpetuar essa situação.

O projeto de lei do Parque Minhocão não traz nenhum benefício para moradores, comerciantes, nem para aqueles que por aqui passam de carro durante a semana, além de não requalificar a parte de baixo do elevado, que está totalmente degradada. Basta circular, por exemplo, pela região em frente à estação Marechal do metrô para constatar a lamentável situação da qual somos vítimas.

Os milhares de moradores e comerciantes temem que um parque sobre o Minhocão o transforme em uma favela suspensa, pois sendo local público não poderá ser proibido de ser frequentado por moradores de rua, “noias”, traficantes, assaltantes etc. que lá venham a se estabalecer, como já fizeram na parte de baixo.

O referido projeto deveria dar soluções para tais problemas e não criar outros a mais para a comunidade local.  Aos domingos, com apenas um dia de fechamento ao trânsito, sofremos problemas seríssimos de segurança que não tínhamos antes.

Para exemplificar, podemos citar casos em que assaltantes pulam do Minhocão para o telhado de estabelecimentos. Ou entram nos apartamentos, através de árvores situadas na frente dos prédios.

Até tampa de bueiro jogaram de cima do Minhocão em carros que estavam estacionados na avenida, estilhaçando seus vidros, o que inclusive poderia ter matado pessoas. Vidros de janelas dos apartamentos e estabelecimentos comerciais são constantemente quebrados por pedras ou objetos lançados de cima do Minhocão.

Domingo é o dia em que os moradores gostariam de sossego para passar com a família, mas em vez disso são incomodados com o ruído das apresentações e festas que acontecem no Minhocão, com caixas de som em volume ensurdecedor, insuportável, infernizando o dia de descanso das pessoas.

Sem falar nos coitados pacientes do Hospital Santa Cecília e da própria Santa Casa, que tentam se recuperar dos sofrimentos que padecem.   

Além disso, é preciso dar uma solução para o trânsito que passa em cima do Minhocão. O projeto precisa apresentar soluções para todos esses problemas. Entretanto, nele nada consta.

Os adeptos do parque usam como exemplo o High Line de Nova York. Em reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, em 27 de setembro de 2013, a urbanista americana Lisa Switkin, responsável pelo projeto paisagístico do parque em Nova York, afirmou que tanto o Minhocão, em São Paulo, como o elevado da Perimetral, no Rio, não comportariam um High Line, pois o mesmo era uma linha de trem abandonada.

Apesar disso, aqui ainda se insiste na transformação do Minhocão em parque, mesmo sabendo que seria um desastre para a comunidade. Enquanto o Rio Janeiro, mais ágil, já tomou a providência de retirar a Perimetral.

Nosso movimento é ordeiro e pacífico, congregando centenas de moradores por onde passa o Elevado Costa e Silva. Não pactuamos e nunca pactuaremos com nenhum ato ilícito. Nosso projeto de revitalização dessa região é o que segue abaixo. São sugestões simples, com baixo custo e que agradariam a todos:

  1. Desmonte total do Minhocão com aproveitamento de suas partes em outras obras da cidade, visto que são vigas pré-moldadas e que foram montadas em suas partes. O projeto Parque do Minhocão aumenta os problemas de poluição sonora e não elimina os problemas de poluição do ar e visual.  Além disso, o parque cria outros problemas muito graves de segurança que não tínhamos até então, além de falta de privacidade.
  2. Após o desmonte, fazer uma bonita avenida arborizada e belamente iluminada, a exemplo da Avenida Sumaré, interligando o primoroso Parque da Água Branca ao Parque Augusta.
  3. Reduzir o impacto nas redondezas com medidas de engenharia de tráfego. Há estudos sérios de soluções viárias, como a construção de eventual túnel com duas pistas superpostas, acompanhando o traçado do antigo Minhocão.

Creio que desta forma todos terão seus direitos preservados, melhor qualidade de vida, uma região requalificada, o que será uma melhora a mais em nossa cidade. 

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