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Urgência criada pela Black Friday acaba com espírito crítico do consumidor

Especial para o UOL

23/11/2014 06h00

Se já é difícil segurar a tentação na frente de uma vitrine de liquidação, controlar os impulsos quando dezenas de e-mails sobre descontos e mais descontos começam a lotar a sua caixa de entrada pode ser uma missão impossível. Afinal, parece tão simples: muitas vezes, você não precisa nem abrir a carteira, pois basta digitar seu e-mail e uma senha para comprar aquele celular novo com desconto, e ainda parcelado em uma dezena de vezes.

E eis que se aproxima novamente a Black Friday, a já famosa data-chave do ano do comércio online, que neste ano será realizada no dia 28 de novembro. Muitos que não planejavam comprar nada no dia, em versões passadas, acabaram se animando com os enormes descontos oferecidos. E quem não ama fazer um bom negócio?

Nessa altura do campeonato, muitos já sabem que muitas promoções oferecidas são pura enganação: os preços dos produtos são elevados nos dias que antecedem a Black Friday, somente para serem reduzidos na data. Com tanta maquiagem assim, a data ganhou fama nas edições passadas por ser a melhor forma de comprar “tudo pela metade do dobro”.

Neste ano, teremos uma novidade para tentar evitar este tipo de pegadinha: a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico vai lançar um selo de qualidade para todos os vendedores que fugirem da maquiagem de preços e oferecerem descontos reais. A iniciativa é positiva, pois ajuda o consumidor naquela tarefa de acompanhar os preços dos produtos desejados e saber identificar onde existe, de fato, uma boa oportunidade – é uma tentativa de acabar com a tal da “Black Fraude”.

Opinião - Carolina Ruhman Sandler

  • O desconto cria a sensação de que a compra vale a pena, o que a justificar para nós mesmos a aquisição

    Carolina Ruhman Sandler, jornalista, sobre as armadilhas da Black Friday

O problema da Black Friday é que ela estimula o consumismo e a impulsividade em casos onde não há a necessidade específica de comprar algo. Estudos mostram que o ato de fazer uma compra traz uma descarga emocional enorme. A data aproveita-se desta carga emocional e apela para os sentidos de fazer uma compra prática, rápida e, ainda por cima, barata. Quem resiste?

O desconto cria a sensação de que aquela compra “vale a pena”, o que nos ajuda a justificar para nós mesmos a aquisição. Você passa a enxergar uma boa oportunidade de compra para o que não precisa, mas deseja, e logo acaba soltando o cartão de crédito.

Para completar, as promoções duram apenas 24 horas. Com isso, é criada uma sensação de urgência, de que a compra deve ser feita naquele minuto, pois de outra forma os estoques podem se esgotar e você fica a ver navios. O problema é que com este cenário o consumidor não faz uma pausa para refletir se a compra vale mesmo ou não, se ele precisa mesmo daquele produto. A urgência acaba com o nosso espírito crítico.

Não sou contra o consumo, pelo contrário. Comprar faz parte da nossa vida, estimula nossa economia e ainda é fonte de prazer. No entanto, sou contra o consumo inconsciente, que é aquele levado por impulsos momentâneos. Segundo uma pesquisa recente do SPC, 80% da população já comprou algo por impulso – itens que muitas vezes nem chegam a ser usados.

A Black Friday pode ser aproveitada pelo consumidor para comprar algo que ele realmente necessite. Quem está de mudança de casa pode aproveitar para pesquisar – antes da data, por favor – os preços de eletrodomésticos, para saber identificar os bons negócios. Se é uma pessoa organizada, pode aproveitar para comprar agora os presentes de Natal para a família – e assim por diante. Então aproveite para pesquisar os preços daquilo que você precisa – e também daqueles produtos que vem namorando. Quando chegarem os descontos, você conseguirá identificar onde estão as boas oportunidades e o que vale, de fato, a pena comprar.

Se a internet é a fonte de todas estas tentações, ela também traz bons aliados. Há sites criados para encontrar os descontos reais dados na data e comparar preços, enquanto outros trazem um histórico completo das reclamações feitas contra os vendedores. É uma forma prática de checar a reputação do vendedor e se ele costuma honrar as ofertas e o prazo de entrega.

E, acima de tudo isso, pare para refletir sobre o que vale e o que você precisa. Manter um pouco de calma é a chave para fugir das armadilhas da Black Friday.

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