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São Paulo precisa de uma rádio municipal educadora e cultural

Especial para o UOL

28/07/2015 06h00

Tuitei no início de julho, a propósito de uma notícia do Meio e Mensagem, que 58% da população ouve música no rádio. Todo o mundo ainda gosta de ouvir música no rádio enquanto faz outra coisa.

A música no rádio vem com algum comentário, fala-se do artista, do sucesso do momento ou da lembrança de que a música traz sempre um contexto, uma moldura para a música, uma familiaridade, como alguém que conhecemos e que conversa conosco. Penso nisso em oposição aos novos modos de consumir música, através de aplicativos no computador ou no celular, que são impessoais, por mais que nos conheçam.

Temos experiências bem recentes mostrando que o rádio pode tecer e unir uma comunidade, especialmente da cena musical, envolvendo todos os participantes, artistas, mediadores e público, de uma forma que fortalece e projeta essa cena musical.

A onda dos artistas do Pará foi criada a partir de uma rádio pública, a Funtelpa FM, que gravava e punha no ar os artistas locais. Bastava a audiência pedir e ouvia de novo, daí vinha a popularidade, os artistas ganhavam destaque e, a partir desse início, alcançaram reputação nacional.

Aqui perto de nós, em São Carlos, a rádio universitária Ufscar FM conseguiu criar audiência e relevo com uma rica programação envolvendo dezenas de programadores amadores fazendo programas semanais de suas especialidades e uma sábia mistura de músicas, com um ciclo de uma nova, uma velha e uma internacional. Hoje fazem parte do circuito das bandas e tem um festival importante na América Latina e no Brasil.

Por isso o rádio pode ser tão importante para a música que acontece hoje, aqui. São Paulo não nos parece, mas é uma "cidade da música", uma das mais importantes do mundo, tanto pela produção quanto pelas múltiplas audiências da música ao vivo.

Temos dezenas de casas de música autoral, centenas de festas de todos os matizes, os grandes festivais do mundo convergem para cá; temos os clássicos de qualidade mundial e também os novos gêneros arrastando multidões no funk. Os novos artistas do Brasil inteiro vêm consolidar suas carreiras aqui e daqui saem para fazer turnês pelo mundo todo, artistas brasileiros de São Paulo.

Ironicamente, apesar dessa pujança na música ao vivo, que deve crescer muito ainda, nada disso toca nas rádios daqui. Nada de variedade, nada do que queremos. O grosso da programação está comprometido com um único gênero: o sertanejo de mil caras, e por uma questão comercial.

Talvez, como Mário de Andrade já queria, precisemos de uma rádio municipal, que seja educadora e cultural, paulistana, jovem, imersa nesse fluxo de talentos e criatividade que não para, não para. Uma rádio que ouça os seus ouvintes e nos mostre os saraus, as batalhas, o choro, esse tanto de música instrumental e autoral, as big bands, o rock, o jazz e o samba, o experimental, os esquecidos dos anos 1980, dos 1990, o violão brasileiro, as cantoras, os grandes produtores, as parcerias e colaborações com o mundo todo. AM, FM e Web, afinal, todo o mundo quer ouvir isso.

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