Preconceito ainda inibe busca de ajuda contra alcoolismo
Na semana em que se conscientiza sobre o alcoolismo, não podemos nos esquecer de tratá-lo como se deve: uma questão de saúde. O alcoolismo é uma doença e ela não pode continuar invisível aos olhos do cidadão e, principalmente, aos olhos do poder público.
Uma pesquisa recente, publicada no “Journal School of Health”, dos Estados Unidos, mostra que o álcool –e não a maconha, como diz o senso comum– é a verdadeira “porta de entrada” para as outras drogas. Ou seja, essa é a primeira substância consumida por aqueles que mais tarde apresentam graves problemas relacionados ao uso de entorpecentes.
A doença do alcoolismo atinge cerca de 10% da população brasileira e, diferentemente de outras enfermidades como a Aids, a zika ou a dengue, ela não é tratada como tal. Para se ter uma ideia, apenas na cidade de São Paulo, a maior do Brasil, cerca de um milhão de pessoas são afetadas pelo álcool.
Outra pesquisa, esta do Comitê Científico Independente para Drogas da Grã-Bretanha, com dados mais do que alarmantes, revela que o álcool é uma droga pior até do que o crack e a heroína. O levantamento considera não só os males que o álcool causa na vida de quem usa, mas também de quem vive com o dependente e acaba sendo afetado por este drama.
Quando pensamos em forma de se evitar uma doença, qual é a primeira medida que vem à cabeça? A prevenção, claro! A prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo, é a camisinha. Todo mundo sabe, inclusive os adolescentes, que recebem este tipo de instrução cada vez mais cedo.
Ora, se uma doença como o alcoolismo ameaça dessa maneira uma população, e se faz, a cada dia, mais presente no cotidiano das pessoas, por que não começamos a trabalhar a prevenção, informando e esclarecendo sobre o assunto?
A profilaxia tem que começar na base da sociedade, que são as nossas crianças e jovens. Se já conseguimos quebrar alguns tabus ao falar sobre prevenção à Aids, é hora de falar sobre o alcoolismo. O alcoolismo doença –causas, prevenção, tratamentos– e não o uso esporádico e excessivo de álcool, como o porre de festa que vez ou outra alguém toma. É uma questão de saúde, inclusive pública.
Não estou propondo uma bravata contra o álcool. Jamais teria essa pretensão, até porque a maioria esmagadora das pessoas pode beber sem causar problemas para si e para os outros que a cercam. Estou propondo, isso sim, que se haja a devida atenção para a doença do alcoolismo. E a prevenção, como para qualquer outra doença, é a saída mais acertada.
Talvez por não haver uma educação sobre o alcoolismo, pense-se que o dependente de álcool seja apenas um sujeito mau caráter, sem-vergonha, egoísta. O preconceito inibe inclusive que pessoas com problemas com o álcool (ou que sofram com o alcoolismo de seus familiares) tomem a iniciativa de buscar ajuda.
Afinal, se achamos que o alcoólatra é uma pessoa fraca, irresponsável, sem controle ou até pior que os demais, de onde virá a força para pedir ajuda e encarar o problema do modo adequado? A informação dada desde cedo é a melhor forma para educar, lutar contra preconceitos e salvar vidas. É hora de falar sobre o alcoolismo e não é só por hoje, mas todos os dias.
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