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Especialistas criticam como suicídio é abordado no Brasil

Em São Paulo

04/09/2014 12h10

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que suicídio se tornou uma epidemia de proporções globais, mata mais de 800 mil pessoas por ano e 75% dos casos são registrados em países emergentes e pobres, não nas capitais escandinavas, como a cultura popular insiste. Especialistas criticam o modo como o tema é abordado no Brasil.

O médico José Manoel Bertolote, referência em estudos sobre suicídio e ex-funcionário da Organização Mundial da Saúde, vê com pessimismo a maneira como o tema é tratado no Brasil. Para ele, apesar de a taxa brasileira ser relativamente baixa em relação a outros países, o problema tem sido negligenciado. "Não vejo autoridades fazendo nada sobre o assunto. São raros os municípios que tratam de alguma forma o problema", disse.

Segundo ele, o tema é incômodo para muitos que preferem "varrer para debaixo do tapete" ao invés de analisar e tentar solucioná-lo. "Esse aumento dos números deveria ser sinal de alerta. Mas não é tratado dessa forma", acrescentou.

Pesquisadora especializada em prevenção de suicídios e revisora do relatório da OMS, a psicóloga Karen Scavacini compartilha da opinião de Bertolote. "Ainda vai piorar muito antes de começar a melhorar", disse a especialista sobre as estatísticas.

Karen considera importante o relatório da OMS para que o assunto seja retomado e ganhe atenção da população. "É importante por despertar a conscientização sobre o tema. O suicídio está mais perto da população do que ela pode imaginar", destacou.

Ela ressaltou que, enquanto em países desenvolvidos o número de pessoas que tiraram a própria vida começaram a diminuir, o mesmo não se repetiu em nações em desenvolvimento. Isso se explica, na visão dela, pela ausência de estratégias nacionais que debatam o assunto e proponham melhoras no sistema de saúde pública.

O Ministério da Saúde instituiu em 2006 as diretrizes nacionais para prevenção de suicídios. A portaria destacava o "aumento observado na frequência do comportamento suicida" e a "possibilidade de intervenção nos casos de tentativas de suicídio e que as mortes por suicídio podem ser evitadas". Para combater, o documento listava uma série de medidas a serem tomadas, como o desenvolvimento de estratégias de promoção de prevenção de danos e linhas de cuidado integrais em todo os níveis de atenção.

De acordo com Karen, por falta de vontade política, a estratégia não apresenta mais nenhuma ação desde 2008. "A situação vai continuar se agravando, pois é difícil conseguir algum tratamento via governo. É difícil trabalhar sem esse apoio", disse. Para a psicóloga, é necessário "políticas de vários setores" para mudar a situação.