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Falta de remédios interrompe metade dos tratamentos de câncer no Rio

Células cancerígenas aparecem dentro de uma veia ao lado de células sanguíneas - iStock
Células cancerígenas aparecem dentro de uma veia ao lado de células sanguíneas Imagem: iStock

Clarissa Thomé

No Rio de Janeiro

14/03/2017 20h20

A partir do relatório do conselho, o defensor encaminhou ofícios pedindo abertura de inquérito pelo Ministério Público Federal para investigação de improbidade administrativa nos Hospitais Federais de Bonsucesso, Andaraí e Cardoso Fontes, além de solicitar uma varredura pelo Tribunal de Contas da União nos procedimentos de licitação para a compra de medicamentos.

O conselho fez a fiscalização entre outubro e novembro de 2016 em hospitais federais, universitários, estaduais e um filantrópico. O trabalho mostrou que 46% dos pacientes eram internados mais de seis meses após serem diagnosticados com a doença e que 59% apresentavam câncer em estado avançado no momento da doença.

"Esses dados comprovam que a lei federal de 2012 (que prevê o início do tratamento 60 dias após o diagnóstico) não está sendo cumprida. O paciente chega com exames feitos há mais 6 meses e têm de repeti-los. Estamos perdendo o tempo ideal para o início do tratamento.


Isso diminui a chance de cura. E, nos casos em que ela não é possível, impede que o paciente tenha maior expectativa de vida e em melhores condições", afirmou o presidente do Cremerj, Nelson Nahon.

Para o defensor Daniel de Macedo, falta gestão adequada. Ele também vê indícios de corrupção. "O chefe de um dos almoxarifados contou que é comum o fornecedor entregar a nota para recebimento dos medicamentos, mas os insumos não chegaram nunca", relatou.

A modelista Letícia Lázaro, de 56 anos, parou a quimioterapia contra um câncer de mama por duas vezes devido à falta de medicamento. "Fiz os últimos dois ciclos no mesmo mês. Porque já tinha aviso da falta do quimioterápico e a minha médica achou melhor garantir, porque podia faltar de novo", contou ela.

No ano passado, a modelista ficou sete meses sem o remédio que impede a recidiva da doença. "O câncer é um rato. Ele está o tempo todo roendo a gente por dentro. A gente não tem tempo para perder", comentou.