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Acesso a diagnóstico e tratamento muda perfil de Aids em SP

Do UOL

Em São Paulo

10/02/2012 10h56

A disponibilização do acesso universal e gratuito ao diagnóstico e tratamento da Aids em São Paulo a partir de 1996 resultou em uma queda de, em média, 30% da mortalidade e em um aumento de 50% na prevalência (número de pessoas vivendo com a doença) no estado nos últimos anos.

Essa queda drástica da mortalidade e aumento da sobrevida de pacientes com Aids está mudando o perfil da doença e provocando mudanças nas estratégias de atendimento dos pacientes em São Paulo, que tende a se tornar muito diferente da que o sistema de saúde conhecia e estava acostumado a lidar.

As constatações são de um projeto realizado por pesquisadores de quatro instituições no Estado de São Paulo, incluindo as Faculdades de Medicina e Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Saúde e a Coordenação Estadual de DST/Aids da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).

Financiado pela FAPESP, o objetivo do estudo foi criar uma sistemática de diagnóstico de vulnerabilidade à Aids em São Paulo por meio da seleção de indicadores sociais, individuais e programáticos, com a finalidade de identificar comunidades e segmentos populacionais em áreas geográficas no estado que devem merecer políticas públicas e intervenções específicas.

Para isso, os pesquisadores avaliaram o impacto da introdução dos antirretrovirais altamente potentes no estado a partir de 1996, analisando três indicadores epidemiológicos: taxa de mortalidade, prevalência e incidência (número de casos novos).

Alguns dos principais apontamentos do estudo foram que, em função da introdução do programa, houve uma queda da mortalidade por Aids em todo o Estado de São Paulo e a incidência também passou a cair a partir de 1998.

De acordo com Eliseu Alves Waldman, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenador do projeto, de modo geral, o programa estadual de prevenção e controle de DST/Aids tem sido bem-sucedido em 93% dos municípios paulistas que apresentam casos de Aids. Entretanto, o desempenho do programa não é igual em aglomerados urbanos pequenos, médios e grandes.

O programa apresenta desempenho melhor nos centros urbanos médios e grandes, que dispõem de melhores serviços de assistência básica à saúde, maior número de serviços especializados e onde os níveis de escolaridade da população são mais elevados, o que aumenta a probabilidade de diagnóstico precoce e introdução do tratamento.

Já nos municípios muito pequenos, que correspondem a, aproximadamente, 5% das regiões analisadas no estudo, os resultados do estudo apontam a necessidade de estratégias específicas de intervenção.

Waldan acredita que muitos municípios são tão pequenos que não dispõem de serviços próprios de atendimento especializado e, portanto, o diagnóstico e tratamento dos casos acabam sendo tardios.

Na Grande São Paulo, por exemplo, que foi uma das áreas homogêneas estudadas na pesquisa, a taxa de mortalidade e incidência de Aids nos últimos anos caiu, aproximadamente, 60%, e houve um aumento mais acentuado da prevalência.

Mudança de perfil

Segundo Waldman, entre alguns dos resultados mais bem-sucedidos do programa paulista estão a expressiva diminuição da transmissão vertical (de mãe para filho) no Estado de São Paulo e um aumento da sobrevida de pacientes que já nasceram infectados.

Em todas as regiões do estado, incluindo os pequenos municípios e com maior predominância nos grandes centros, os pesquisadores verificaram que, em consequência da ampliação da sobrevida, houve aumento no número de adolescentes e adultos jovens vivendo com Aids, que representam um tipo de paciente muito diferente dos que os serviços de assistência à saúde conheciam e estavam acostumados a lidar.

Isso, segundo Waldman, implicará a necessidade de políticas públicas que promovam o desenvolvimento de novas tecnologias e a criação de atendimento adequado a esse tipo de paciente no sistema público de saúde paulista.

Outra constatação do estudo foi que a queda da mortalidade por Aids entre pessoas acima de 50 anos não ocorreu de forma tão intensa como a observada entre jovens, indicando que esse grupo também necessita de cuidados especiais de profissionais e serviços ambulatoriais e demandará estratégias específicas do programa de controle e prevenção de Aids paulista, como as que já vêm sendo implementadas em outros países.

Segundo o pesquisador, algumas das possíveis implicações em políticas públicas dessas mudanças no perfil da Aids no Estado de São Paulo poderão ser a necessidade de recursos para pesquisa e desenvolvimento tecnológico, que possibilitem condições para a criação de novas estratégias para o tratamento e acompanhamento desses pacientes afetados pela doença, de evolução crônica, e que são vulneráveis, por exemplo, aos efeitos colaterais decorrentes do uso prolongado de medicamentos.

Um dos resultados do projeto foi um conjunto de indicadores sociais, demográficos e programáticos para o monitoramento da epidemia de Aids no estado de São Paulo, que foram disponibilizados na forma de um aplicativo no site do CRT DST/Aids para os gestores municipais, que são responsáveis pela execução do programa no estado.

(Com Agência Fapesp)