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Marcha pelo parto humanizado reúne centenas no Rio de Janeiro

Rodrigo Teixeira

Do UOL, no Rio de Janeiro

05/08/2012 22h23

A forte chuva que caiu no início da tarde deste domingo (5) não desanimou as mães, as grávidas, as doulas e outros profissionais da saúde que acompanharam a Marcha pelo Parto Humanizado no Rio de Janeiro. O protesto reuniu cerca de 200 pessoas na orla de Ipanema, na zona sul da cidade.

Resoluções do Cremerj (Conselho Regional de Medicina) que consideram infração ética a participação de médicos nos partos em casa e de parteiras e doulas nos partos em hospitais foi suspensa pelo juiz Gustavo Arruda Macedo, da 2ª Vara Federal do Rio, no último dia 30. Cabe recurso, e o Cremerj deve recorrer da decisão.

Ellen Paes, uma das organizadoras da marcha, conta que teve sua filha no hospital, mas que sonha com um parto natural para seu próximo filho. "Ainda não estou grávida, mas espero que meu próximo filho tenha um parto natural e em casa. No hospital a gente é tratada como número. Alguns médicos não nos dão autonomia na escolha da melhor posição. Outros fazem piada da dor. O momento de parir é da mulher e ela deve gritar se sentir dor sem nenhum constrangimento", afirma Ellen.

Fabíola Duarte, 37, é doula e mora em São Paulo. Ela, que veio ao Rio para defender sua categoria, explica a diferença entre doula e parteira e opina sobre a posição do Cremerj. “ Essa proibição é um sintoma de uma certa insegurança do Cremerj, um problema profundo na formação dos médicos. A parteira assiste ao parto, entende do nascimento. Já a doula é uma espécie de terapeuta, que apoia emocionalmente a mãe,  sugere posições e acompanha todo o processo da gravidez com a gestante”, diz Fabíola, enquanto amamentava seu filho Hari, de dois anos e três meses.

Conselho quer punir médico

O Cremerj chegou a pedir à entidade paulista, o Cremesp, a punição do obstetra Jorge Francisco Kuhn, que defendeu em uma entrevista à televisão o direito de mulheres saudáveis optarem pelo parto domiciliar. Kuhn, que diz que fez questão de participar da marcha realizada no Rio, disse a jornalistas que o parto “não é um procedimento cirúrgico”, mas “um ato natural”, e que mulheres sem problemas clínicos ou obstétricos podem optar pelo parto em casa.

O médico disse ao UOL que aguarda o andamento do processo que responde no Cremesp em função de suas declarações a favor do parto em casa. “Há um advogado me acompanhando e acredito que não serei condenado. Para que o parto seja em casa, é necessário que a mulher e o bebê estejam em condições normais e que haja um hospital a 20 minutos da residência. É preciso que a mulher tenha o desejo de ter o filho dessa forma e assuma os riscos. As mães se sentem com mais controle do processo e não precisam tomar remédios que aceleram as contrações”, disse ele.

Segundo a organização da marcha, dados do Ministério da Saúde apontam que, em 2010, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais. Enquanto em 2009 o país alcançava uma proporção de 50% de partos cesáreos, em 2010 a taxa subiu para 52%. Na rede privada, o índice de partos cesáreos chega a 82% e, na rede pública, 37%.

Há estudos que comprovam que as chamadas “cesáreas eletivas” são as que representam maior risco à mulher. Nesse tipo de parto, a mãe agenda o dia do nascimento e o bebê nasce sem que ela entre em trabalho de parto, o que pode causar problemas de saúde, principalmente respiratórios, na criança.