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Sua menstruação anda ausente ou irregular? Pode ser estresse

Ana Sachs

Do UOL, em São Paulo

27/11/2012 07h00

Cada pessoa reage ao estresse de uma forma. Dores de estômago, depressão, infarto e pressão alta são algumas condições que podem surgir com o excesso de adrenalina. E, para as mulheres, essa lista pode incluir alterações na menstruação.

“Para menstruar há necessidade de uma harmonia de todo o sistema reprodutor. O equilíbrio hormonal é dado por uma interação entre o cérebro e os ovários, e as emoções interferem nesse balanço”, explica o ginecologista Angela Maggio da Fonseca, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Esse descompasso hormonal pode atrasar ou adiantar as menstruações, gerar a falta de menstruação ou o prolongamento do ciclo. "Tem mulher que chega a menstruar por duas semanas”, relata a ginecologista e obstetra Amanda Barreto Volpato Alvarez, especialista em medicina reprodutiva do Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Assistida (IPGO). “Como os hormônios responsáveis pelo ciclo menstrual são comandados pelo cérebro, podem ocorrer as alterações quando algo não vai bem”, explica ela.

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    O estresse pode gerar tanto a falta de menstruação quanto o prolongamento do ciclo

Segundo o artigo "Irregularidades menstruais – inter-relações com o psiquismo", publicado na Revista de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), os primeiros relatos da associação entre o estado psicológico e as alterações menstruais foram descritos durante o período das guerras na Europa, em que estados de extremo estresse relacionaram-se a quadros de ausências prolongadas da menstruação.

Da lá para cá, diversos estudos têm comprovado essa ligação. “Dados provenientes de estudos em animais e humanos indicam que o estresse psicológico pode determinar alteração relevante sobre a função menstrual”, cita o artigo. 

O ciclo menstrual considerado normal ocorre entre 25 e 35 dias, e tem duração de três a cinco dias. São considerados desvios menstruais os intervalos menores que 21 ou maiores que 35 dias, ou com duração menor que dois ou maior que oito dias. Vale sempre observar o fluxo também: se for muito maior que o normal, pode ser sinal de que algo não vai bem.

Quando se usa pílula, isso muda, pois a pausa acaba deixando o ciclo regular. "Há também aquelas que emendam a cartela de pílulas para não menstruar, e isso dificulta a avaliação de como anda a saúde menstrual”, lembra Alvarez.

Como detectar

Antes de tudo, é preciso descartar outras doenças que podem levar a irregularidades no ciclo, como problemas na tireoide, ovários policísticos, tumores na hipófise ou algum cisto no ovário. Perda acentuada de peso, como nos casos de bulimia e anorexia, e excesso de atividade física também podem levar à ausência ou à irregularidade da menstruação.

Existem, ainda, aquelas mulheres que apresentam um ciclo menos regular desde a primeira menstruação. Nestes casos, a irregularidade é considerada normal, segundo Alvarez.  “O problema é quando ela sempre foi regular e começa a apresentar mudanças. Aí é preciso investigar as alterações hormonais que levaram a isso”, aponta.

Um atraso ou ausência de menstruação eventual em quem sempre teve o ciclo regular também são considerados normais. Isso porque, para que ele aconteça, além das questões hormonais, há a interferência de problemas alimentares (tanto a deficiência alimentar como o excesso), ambientais e de relacionamento.

Qualquer desordem em algum desses outros itens pode causar uma alteração que, desde que seja pontual, não causará danos à saúde da mulher. “Como vários fatores interferem, pequenos atrasos, desde que não repetitivos, podem ocorrer sem que isso seja prejudicial à saúde, mas sempre é importante a orientação médica”, avalia Fonseca.

Se em dois meses a menstruação não voltar a dar as caras ou retornar à regularidade, Alvarez recomenda procurar um ginecologista para uma investigação mais completa do que pode estar causando o problema.  “Grandes atrasos menstruais por deficiência hormonal podem levar a alterações físicas como diminuição da lubrificação vaginal, mal-estar físico com sudorese e ondas de calor”, lista Fonseca.

Segundo a ginecologista do HC, quando ocorrem atrasos menstruais, a mulher não ovula e isso interfere na fertilidade. Essas alterações hormonais responsáveis pelos atrasos, da mesma forma como acontece na menopausa, podem ainda levar a diminuição da absorção do cálcio e perda da massa óssea, a alterações no metabolismo das gorduras e, como consequência, levar a osteoporose e alterações cardiovasculares.

“O diagnóstico é feito ouvindo as queixas das pacientes e examinando-a, afastando todas as causas orgânicas que levam a distúrbios hormonais”, fala Fonseca. O tratamento é feito com psicoterapia e hormônios, se houver necessidade.

Junto a isso, uma dieta alimentar adequada, exercícios físicos e convívio social podem ajudar, ainda, a amenizar e solucionar o problema, de acordo com Fonseca.

TPM

Além de alterações no fluxo menstrual, o estresse pode aumentar a percepção da mulher a respeito da TPM. “Não há nada comprovado, mas há indícios de que a mulher estressada percebe mais a TPM do que as demais”, diz Alvarez.

Com isso, o incômodo que ela causa pode ser superestimado. “Se ela é uma pessoa que já tem depressão e uma ansiedade maior, isso pode ter repercussões importantes sobre a TPM”, afirma a ginecologista Elizabeth Leão, da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Isso não quer dizer que a mulher estressada tem mais TPM que as demais. Mas, por já estar sensível e com o humor afetado, a impressão que se tem é que o incômodo desse período é muito maior do que o real.