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Tons de voz estridentes como de Anamara do BBB13 podem ser mudados, dizem especialistas

Internautas chegaram a criar páginas nas redes sociais criticando a voz da participante do BBB13 - Divulgação/João Cotta/TV Globo
Internautas chegaram a criar páginas nas redes sociais criticando a voz da participante do BBB13 Imagem: Divulgação/João Cotta/TV Globo

Cármen Guaresemin

Do UOL, em São Paulo

25/02/2013 07h00

Alguns tipos de voz não costumam agradar. Isso porque se destacam muito das demais e incomodam pela intensidade alta e som agudo. São aquelas consideradas irritantes e que as pessoas costumam apelidar de “taquara rachada”.  

A concorrente do BBB13 Anamara é um exemplo. Desde sua primeira participação no reality show, em 2010, internautas vêm criando páginas com títulos como “Não aguento mais a voz de taquara rachada da Anamara” nas redes sociais.

“Culturalmente, há padrões mais ou menos aceitos como ‘normais’, ‘bons’ e ‘bonitos’. Há culturas nas quais vozes fortes são bem aceitas, em outras somente a baixa e suave é tida como ideal", explica a fonoaudióloga e coordenadora do departamento de voz da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) Maria Lúcia Dragone. Por outro lado, a especialista observa que muita gente acha vozes um pouco roucas ou ‘soprosas’ agradáveis, embora nesse caso possam estar presentes alterações na prega vocal.

Eduardo Ortiz, otorrinolaringologista do Hospital e Maternidade São Luiz, comenta que a voz é fundamental para o ser humano, que é o único animal que se comunica falando. “Ninguém tem a mesma voz. É como se fosse uma impressão digital. Pessoas com a voz como a de Anamara costumam ter sulco na corda vocal e podem passar por cirurgia, se quiserem”.

Ele frisa que o problema costuma ser mais comportamental que físico: “Uma voz diferente muitas vezes impede a pessoa de ter uma ascensão profissional, por exemplo. Fora que as pessoas costumam caçoar de quem tem voz mais fina, que irrita por causar um desconforto auditivo”.

Cordas vocais

Se a situação está incomodando, o médico diz que o primeiro passo é procurar um otorrinolaringologista, que fará exames para verificar as cordas vocais. Em seguida, se for necessário, o paciente pode ser encaminhado para uma fonoaudióloga ou terá de passar por uma cirurgia ou fazer as duas coisas.  

A fonoaudióloga concorda: “Há algumas alterações decorrentes de irregularidades nas pregas vocais que podem resultar em vozes agudas, ásperas e tensas. Desta forma, é sempre interessante que seja investigada a causa desse tipo de voz por um otorrinolaringologista”.

Dá para mudar

Mas é possível mudar a voz? “Sim, é possível melhorar padrões inadequados de produção de voz”, admite Dragone, acrescentando: “A produção da voz depende de processos mioelásticos e aerodinâmicos, ou seja, de corrente de ar e de movimentação muscular das pregas vocais. Sendo assim, podem ser controlados e modificados pelas pessoas, desde que bem orientadas por profissionais especializados como os fonoaudiólogos”.

Ortiz vai além: “Existe uma cirurgia que muda a voz. É a fonocirurgia, feita com anestesia local. A pessoa vai falando e nós vamos modulando. O lutador Anderson Silva, por exemplo. Muita gente brinca com a voz dele, mas ele poderia mudá-la se quisesse. Hoje em dia o arsenal terapêutico é imenso”. Porém, o médico enfatiza que a mudança só é feita se for realmente necessária: “É preciso uma indicação técnica, não basta querer”.

Duração

Algumas pessoas acabam não procurando ajuda por achar que o problema não tem conserto, ou porque seria algo longo, trabalhoso e caro. “Além disso, poucos observam qual o impacto que suas próprias vozes causam no ouvinte. Ao perceberem algo negativo, muitas vezes não acreditam na possibilidade de melhorar uma voz que ‘foi sempre assim’”, afirma a fonoaudióloga.

Ela diz que o comum é a pessoa buscar ajuda quando passa por algum episódio de rouquidão intensa, dificuldade em falar por longos períodos e prejuízos no exercício profissional.

“O custo de tratamentos de voz, tanto otorrinolaringológico como fonoaudiológico, varia segundo as diversas regiões do país, a capacitação do profissional, do tipo de exame a ser realizado e do tratamento indicado.  No serviço público, em hospital-escola, e nos diversos planos de saúde existem profissionais muito bem qualificados atendendo os casos de voz com muita adequação”, avisa Dragone.

Aprimoramento vocal

Dragone frisa que é importante as pessoas saberem que sempre é possível aprimorar as formas de falar, além de melhorar a qualidade da voz isoladamente: “A comunicação oral tem nuances vocais que compõem o conteúdo da mensagem. São elementos fundamentais na expressividade humana como pausas, velocidade, timbre e intensidade da voz, tipo de ressonância”.
 
Ela acrescenta ainda que o trabalho de aprimoramento vocal, ou o tratamento para melhorar condições vocais alteradas, exige dedicação: “Assim como tudo na vida que fazemos para obter bons resultados. Dedicação não significa ser trabalhoso. É sempre prazeroso quando o que fazemos traz bons resultados!”.
 
O tempo para se ver os resultados depende do tipo de alteração que está provocando a alteração de voz. “Evidentemente, se a causa for comportamental, somente relacionada à ressonância e tensão na voz, os resultados serão mais rápidos do que se houver presença de lesões nas pregas vocais”, admite Dragone.

Já Eduardo Ortiz conta que os tratamentos costumam durar por volta de três meses. “Depois disso, o paciente volta e refaz o exame, que pode ser nasofibrolaringoscopia, laringoscopia ou estroboscopia”, afirma o médico.