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Fumo, bebida e grito são os principais inimigos da voz

Vozes treinadas, como as de cantores, tendem a manter o padrão mesmo com o decorrer dos anos - Mario Anzuoni/Reuters
Vozes treinadas, como as de cantores, tendem a manter o padrão mesmo com o decorrer dos anos Imagem: Mario Anzuoni/Reuters

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

21/11/2012 07h00

Fale e ouça, com atenção, o som da sua voz. Parece calma, modulada, agradável e no tom certo? Ótimo, mas provavelmente nem sempre é assim. A voz, além de revelar muito sobre a nossa maneira de ser, também denuncia bastante sobre nosso estado de espírito. Duvida? É só se lembrar das situações em que você sentiu sua voz tremer.

“Isso acontece porque ela é uma forte expressão da personalidade e das circunstâncias emocionais por que passamos. Nesse sentido, quando estamos em um momento que nos causa desconforto, estresse ou ansiedade, ela pode, sim, soar trêmula”, diz a fonoaudióloga Anna Alice Almeida, vice-coordenadora do departamento de voz da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.  

Se você quer dispor de uma boa condição vocal por muito, muito tempo, é bom começar a se preocupar com o assunto desde cedo.

Fumar, por exemplo, nem pensar. “O vício não faz mal apenas para a voz, mas para o corpo todo. A nicotina se fixa às cordas vocais e as deixa rígidas, enquanto a fumaça quente do cigarro irrita o trato respiratório. Tudo isso gera dificuldade de mobilização das cordas vocais, que repercutirá na qualidade do som. Sem falar que pessoas que fumam têm maior chance de desenvolver câncer de laringe e de pulmões”, adverte a fonoaudióloga Maria Lúcia Dragone.

Tudo que é exagerado faz mal

Exagerar no álcool também não é recomendado. Como o cigarro, ele irrita os tecidos da laringe e, ingerido em excesso, diminui o controle da voz, além de aumentar as chances de a pessoa colocar emoção nas cordas e falar de forma esganiçada e nervosa, o que resulta em dor e rouquidão.

Gritar também é contraindicado. “O grito é produzido a partir de um forte impacto entre as pregas vocais, o que provoca muito atrito na região. Consequentemente, pode gerar um edema que interferirá na vibração das cordas, com rouquidão em graus variados e até lesões na mucosa local”, salienta Dragone.

O ato também promove danos à laringe, fazendo surgir os famosos calos, ou nódulos, nas cordas vocais. “Os calos são alterações benignas causadas justamente pelo emprego abusivo e intenso, com tensão fonatória", acrescenta ela. Tensão fonatória é um esforço muscular extra que gera atrito das cordas vocais (elas se chocam umas contra as outras), acarretando problemas na voz.

Outro fator importante, e que você deve considerar, é que a voz envelhece. Isso mesmo. Em função do decréscimo das taxas hormonais, e pelas modificações do organismo próprias da idade, as vozes de homens e mulheres vão perdendo a qualidade.

No entanto, vozes treinadas (como as de cantores líricos), que passaram por um trabalho para melhorar as condições aerodinâmicas e musculares de fonação, tendem a manter o padrão mesmo com o decorrer dos anos. “De qualquer forma, em todos os casos, o fonoaudiólogo pode atuar na tentativa de manter ou rejuvenescer a voz da melhor forma possível”, diz Anna Alice Almeida.