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Pimenta e prisão de ventre geram hemorroidas? Veja mitos e verdades

Prisão de ventre, diarreia, obesidade e doença no fígado são as causas mais importantes do distúrbio - Thinkstock
Prisão de ventre, diarreia, obesidade e doença no fígado são as causas mais importantes do distúrbio Imagem: Thinkstock

Rosana Faria de Freitas

do UOL, em São Paulo

06/05/2013 07h00

O assunto é delicado, mas é preciso enfrentá-lo antes que o problema piore. Estamos falando da hemorroida. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), este problema acomete mais de 50% da população mundial acima dos 50 anos. O índice de prevalência da doença é em torno de 4,4%, na população geral, sendo que indivíduos brancos parecem ser mais afetados do que os negros e a ocorrência cresce na medida em que o nível socioeconômico da população aumenta.

Hemorroida é a veia dilatada na região anal que inflama, causando dor e sangramento. Quando isso acontece, é preciso procurar um especialista que indique o melhor tratamento – que pode começar com a aplicação de uma pomada anestésica e acabar necessitando de uma cirurgia.

A região terminal do intestino é composta pelo reto, canal anal e ânus. Trata-se de uma área muito vascularizada por artérias e veias que, à medida que o tempo passa, vai sofrendo pressão – ainda mais porque somos bípedes, quer dizer, andamos em pé.

Maus hábitos, como alimentação inadequada e sedentarismo, aliados a características pessoais, podem determinar a dilatação dessas veias, explica o coloproctologista João Gomes Netinho, médico especialista em doenças do aparelho digestivo, cólon, reto e ânus e professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).

Prevenção e mitos

“Prisão de ventre, diarreia, gravidez, obesidade e doença no fígado são as causas mais importantes do distúrbio”, completa Carlos Augusto Rodrigues Véo, cirurgião do Departamento de Oncologia de Colorretal do Hospital de Câncer de Barretos. Alteração comum na população, a hemorroida requer tratamento, mas raramente traz problemas graves à saúde.

Como medidas preventivas evite o papel higiênico e procure lavar a região anal, secando com toalha de algodão; adote uma dieta à base de itens ricos em fibras; beba muito líquido, evitando bebidas alcoólicas; não permaneça muito tempo sentado no vaso sanitário, apenas o necessário para evacuar; e não imprima esforço demasiado para não afetar veias que já podem estar enfraquecidas.

O assunto, por provocarconstrangimento, levanta muitos mitos como um bem difundido: que o uso de pimenta na alimentação provocaria hemorroidas. Isso é falso, porém, em pessoas que já desenvolveram a doença, o condimento não deve ser consumido por ser irritante em tecidos inflamados, piorando os sintomas.

Outro famoso: hemorroida não tratada evolui para um câncer.  Isso não ocorre, mas alguns sintomas, no entanto, são parecidos com os apresentados quando se tem câncer do reto e ânus – como sangramento. “Por isso, é importante ir atrás do diagnóstico correto, especialmente quem tem mais de 50 anos”, conta Carlos Augusto Rodrigues Véo, reforçando a recomendação de que todo sangramento anal deve ser avaliado por um médico.

Tratamentos e cirurgias

Em relação aos tratamentos contra o incômodo, um dos menos invasivos, e mais utilizados atualmente, é o da ligadura elástica, conforme explica o coloproctologista João Gomes Netinho. O laser de CO2, outra arma no combate ao problema, atua vaporizando os tecidos e eliminando fissuras e fístulas. “Os pacientes recebem alta em algumas horas e retornam ao trabalho no terceiro dia”, diz Véo.

Alguns médicos lançam mão da fotocoagulação infravermelha – aplicação de pulsos de radiação infravermelha para cauterizar a mucosa próxima às veias – nas pequenas hemorroidas internas, que não podem ser tratadas com ligadura elástica por causa da sensibilidade à dor. A escleroterapia é outro recurso possível: consiste na injeção de um líquido apropriado nos mamilos, fazendo a secagem das veias.

Já a ligadura elástica só é recomendada para as hemorroidas internas que sangram ou prolapsam durante as evacuações. “É o procedimento ambulatorial mais aceito na literatura médica mundial para o tratamento de tais casos, além de ser mais efetivo e apresentar menos complicações do que outros métodos ambulatoriais. Os resultados são tão positivos que há redução em 80% das indicações de cirurgia, ou seja, a cada dez pacientes, oito se beneficiarão da ligadura. O índice de satisfação dos pacientes é de 90%, sendo que a chance de cura em uma única aplicação é de 60% a 70%. O método tem esta grande aceitação por evitar a operação em si, não necessitar de anestesia e ser curativo e eficiente”, defende o cirurgião.

Vale ressaltar que a ligadura elástica é a que apresenta melhores resultados se comparada com a escleroterapia (injeção, com agulhas especiais, de uma solução química que causa necrose da hemorroida, que seca e é absorvida) ou a coagulação a laser ou por infravermelho (uso da luz ou do calor para destruir a inflamação).

“Há uma técnica, ainda pouco utilizada, que parece interessante: a THD, ou desarterialização hemorroidária transanal guiada por Doppler. Com a ajuda de um aparelho de ultrassom, mede-se o fluxo sanguíneo e, depois, o cirurgião costura a veia em um ponto específico, cessando a causa da doença.”

De uma maneira geral, a única alternativa para se livrar definitivamente da hemorroida externa é recorrer à remoção cirúrgica do excesso de tecido que causa a hemorragia e o prolapso, a chamada hemorroidectomia. A intervenção não requer anestesia geral e exige um curto período de internação, que normalmente não ultrapassa 24 horas. A dor no pós-operatório é controlada com analgésicos adequados.