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Padilha diz que boa vontade é mais importante que dominar português

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

26/08/2013 11h37Atualizada em 26/08/2013 12h49

Em mais uma atividade de apresentação do programa Mais Médicos, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, defendeu, nesta segunda-feira (26), que mais importante que dominar a língua portuguesa é ter experiência e vontade de ajudar as pessoas. Ele fez uma palestra a médicos estrangeiros que começaram hoje o período de treinamento e avaliação na Universidade de Brasília.

Ele destacou o fato de ter trabalhado em uma região indígena no interior Pará e não saber, até hoje, nem uma palavra do idioma daquela comunidade. "Salvei vidas lá", completou.

Entenda a proposta do governo

  • Arte/UOL

    Governo quer atrair médicos para as periferias e interior do país

“Não se envergonhem de falar”, acrescentou o ministro. “O que tem de mais importante em vocês é a experiência e o sentimento de querer ajudar a população brasileira."

Depois do ministro,  a vice-ministra da Saúde de Cuba, Marcia Cobas, falou aos médicos. Ela rebateu as críticas e desconfianças sobre como o governo cubano pagará os médicos que vieram e virão ao Brasil para participar do programa Mais Médicos.

"Cuba não mercantiliza (...). [Os médicos] Eles não são desempregados. São empregados e deixaram seus trabalhos. Quando terminam aqui, eles voltam para seus empregos", afirmou a ministra em espanhol durante exposição em Brasília. 

Resposta

Após sua apresentação, Alexandre Padilha foi questionado por jornalistas sobre declaração do presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), João Batista Gomes Soares, de que iria orientar médicos a não socorrerem erros de cubanos.

"Repudio e lamento veementemente a declaração. Não sei em que código de ética e em qual juramento ele se baseou para fazer uma declaração como essa", respondeu o ministro.

Ele acrescentou que o governo não vai admitir posturas como a sugerida pelo presidente do CRM mineiro. "MP é lei. E lei tem que ser cumprida. Temos a segurança jurídica disso", completou.

 

Avaliação

Durante três semanas, os médicos estrangeiros e brasileiros que se inscreveram terão aulas sobre saúde pública brasileira, com foco na organização e funcionamento do SUS ( Sistema Único de Saúde) e língua portuguesa (no caso dos estrangeiros), totalizando uma carga horária de 120 horas.

Os profissionais permanecerão, nesse período, em oito capitais: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza. Durante o curso de formação, os médicos também serão avaliados.

 Durante as três semanas, os médicos participação de aulas expositivas, oficinas e simulação de consultas e de casos complexos. Os profissionais também farão visitas técnicas aos serviços de saúde. Nas aulas, serão abordados temas como legislação, funcionamento e atribuições do SUS, doenças prevalentes e aspectos éticos e legais da prática médica.

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Aos médicos que vão atuar em áreas indígenas, além do módulo que será oferecido a todos os profissionais estrangeiros, haverá aulas complementares específicas sobre a saúde desses povos. Nesse caso, as aulas ocorrerão em Brasília. Todo o material que será usado foi elaborado por uma comissão formada por professores de universidades federais inscritas no programa, escolas de saúde pública e programas de residência, sob orientação do Ministério da Educação (MEC).

Após a capacitação, os médicos aprovados receberão um registro provisório do Conselho Regional de Medicina. O documento terá validade restrita à permanência do médico no projeto e para atuar na atenção básica apenas na região indicada pelo programa. Por isso, segundo argumenta o governo, esses profissionais não precisarão passar pelo chamado Revalida (Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior), que se aplica para o trabalho por período indeterminado de médico com diploma de instituição estrangeira.

Veja argumentos a favor e contra o programa Mais Médicos

PRÓSCONTRAS
O programa vai aumentar o número absoluto de médicos em atuação no Brasil (hoje há 1,8 profissionais para cada 1.000 habitantes). Na Argentina, esse índice é 3,2; em Portugal, 3,9 e na Espanha, 4)Sem o Revalida, o médico estrangeiro poderá colocar a vida do paciente em risco, já que sua capacidade não foi testada adequadamente. Eventuais defasagens no currículo não podem ser supridas em apenas três semanas (período de treinamento para os estrangeiros)
Vai levar médicos para áreas onde há carência desses profissionais (em certos Estados há só 0,58 profissionais por habitante, como no Maranhão)Dificuldades com a língua portuguesa podem trazer problemas de comunicação entre o médico e o paciente
Permite melhorar o conhecimento dos profissionais em atenção básica e saúde pública, áreas nas quais os recém-formados não costumam ter interesse em atuarO programa não resolve a questão da falta de infraestrutura, nem a falta de outros profissionais importantes para o atendimento à população, como fisioterapeutas, dentistas, enfermeiros, nutricionistas etc
O programa vai melhorar o atendimento à população indígena que vive em regiões distantes e carentes onde os médicos não chegamOs estrangeiros podem não ter conhecimento suficiente sobre as doenças tropicais que assolam o país, como a dengue
Os empregos dos médicos brasileiros não estão ameaçados, porque os estrangeiros só atuarão em locais pré-determinados. Se eles fizessem o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira), aí sim poderiam atender em todo o paísOs estrangeiros podem não ter conhecimento suficiente de certos medicamentos e equipamentos utilizados no país
O programa deve suprir uma demanda imediata e agilizar a regularização do sistema de saúde, dado o longo tempo de formação de novos médicosOs médicos inscritos no programa têm vínculo empregatício precário: não têm 13º salário, não recebem horas extras nem FGTS
Ainda que o foco do programa não seja a infraestrutura, extremamente precária em certas regiões, a população terá acesso ao médicoCom o acordo para a vinda de médicos de Cuba, o governo está sendo conivente com um esquema de trabalho que é alvo de críticas: os profissionais recebem apenas parte da bolsa