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Pesquisa em Jundiaí (SP) testa videogame para tratamento de Parkinson

Pesquisadora da Faculdade de Medicina de Jundiaí mostra jogo usado no tratamento do parkinson - Divulgação
Pesquisadora da Faculdade de Medicina de Jundiaí mostra jogo usado no tratamento do parkinson Imagem: Divulgação

Fábio Pescarini

Do UOL, em Jundiaí (SP)

30/08/2013 07h00

Você emprestaria o videogame para seu avô de 84 anos fazer uma prova de slalom (esqui na neve)? Não se assuste se o resultado superar o da turma que não sai da frente da TV ou do computador. Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) usa o videogame Nintendo Wii para o tratamento de mal de Parkinson. E os resultados mostraram-se animadores, de acordo com os pesquisadores, que fazem o estudo há cerca de um ano e meio.

O trabalho, premiado no começo do ano pelo Proter (Programa da Terceira idade) da USP (Universidade de São Paulo), tem à frente a fisioterapeuta Luciana Maria Pires dos Santos, aluna do quinto ano do curso de medicina, do geriatra e orientador José Eduardo Martinelli e da psicóloga Juliana Cecato, mestre em ciências pela própria FMJ.

De acordo com a fisioterapeuta, dez pessoas, com idade entre 65 e 85 anos, fizeram 16 sessões de 40 minutos cada. A equipe usou o Nintendo Fit Wii, que tem uma prancha com comandos sensíveis como acessório, na qual os pacientes precisavam de equilíbrio para vencer desafios propostos por cinco jogos: skate, slalom, corredeira, simulação de arremessos de bolas e malabarismo de circo.

A imagem era projetada em uma parede branca. “Pelos depoimentos que tivemos, estas pessoas ficaram menos expostas a quedas”, afirma a pesquisadora.

Condição motora

Com o videogame, explica, conseguiu-se trabalhar a condição motora do paciente, o equilíbrio e a capacidade de percepção da mente. De acordo com a FMJ, o parkinson tem como principal fator de risco o envelhecimento e gera alterações nas funções motoras e cognitivas.

A fisiterapeuta conta que foram realizadas duas sessões semanais para cada um. A penúltima, porém, teve um espaço maior de sete dias e a última foi realizada apenas um mês depois. E, mesmo com o afastamento do consultório, os pacientes conseguiram ter um desempenho ainda melhor no jogo.

A pesquisadora explica que o mais difícil foi convencer os pacientes de que aquilo era um trabalho científico e não uma brincadeira. “Mas no fim, eles adoraram. Quando não tinham um bom resultado, pediam para jogar de novo [o que não era permitido por causa do teor científico], pois queriam vencer desafios. O jogo pedia algo para o cérebro, como uma mensagem lúdica, e ele conseguia responder”, comemora.

Segundo a conclusão do trabalho, os pacientes foram capazes de aprender a maioria dos jogos que lhe foram propostos. E mesmo com habilidades prejudicadas pela doença, podem ter seu desempenho e suas demandas cognitivas e motoras melhoradas por meio do treino e com o auxílio da realidade virtual.

Nova etapa

De acordo com o orientador, já começaram as buscas por novos voluntários para um segundo teste, programado para começar em duas semanas – a equipe tem entrado em contato com hospitais, universidades e clínicas especializadas em geriatria.

Para fazer parte do projeto, o paciente precisa ter capacidade visual e auditiva, saber ler (para seguir instruções dos jogos) e não pode ter problemas ortopédicos graves.

O trabalho, em fase de tradução para o inglês, será enviado para publicação em revista científica especializada nos Estados Unidos. “Mas ainda não sabemos qual”, diz Martinelli.

Brincadeira séria

Santos, nascida em Sorocaba, interior de São Paulo, pretende se especializar em geriatria. Como fisioterapeuta, já tinha sua carreira voltada ao tratamento de idosos e a ideia de usar o videogame nasceu por acaso, quando conheceu o Nintendo Wii (jogo na qual não é preciso usar cabos no controle) na casa de uma prima. “Peguei o aparelho emprestado, comecei a testar jogos que poderiam ser usados para o tratamento de parkinson e apresentei a ideia na faculdade”, afirma.

Conforme a pesquisadora, as mulheres se divertiram mais com o tratamento, principalmente no jogo de malabarismo (“Big Top Juggling”). “No final de cada sessão sempre reclamavam que o tempo havia passado muito rápido”, brinca a aluna do curso de medicina, que pretende emprestar o aparelho da prima mais uma vez para testar mais alguns jogos nos próximos dias. “Meu estudo está divertido.”

O trabalho faz parte da listagem dos projetos de iniciação científica da FMJ e da Esef (Escola Superior de Educação Física, também de Jundiaí) apresentada no último dia 23 para representantes do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Ao todo foram mostrados 27 projetos de alunos contemplados com bolsas no período de agosto de 2012 a julho de 2013.