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Terapia antirruga de famosas que usa sangue pode ativar células cancerosas

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

10/07/2014 06h00

O tratamento que usa injeções de sangue do próprio paciente para acabar com rugas ficou conhecido no Brasil depois que a apresentadora Luciana Gimenez postou um vídeo de uma sessão feita por ela em Nova York. “Estou sofrendo pela beleza”, disse.

A técnica conhecida nos Estados Unidos como Vampire Facelift (lifting do Vampiro) promete acabar com rugas pouco profundas da pele, usando o plasma do sangue do paciente separado em uma centrífuga.

Embora adotada por outras celebridades como a socialite norte-americana Kim Kardashian e pela modelo israelense Bar Refaeli, a técnica é proibida no Brasil pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e condenada por médicos que acreditam que ela pode ativar células cancerosas no organismo.

“O plasma rico em plaquetas vem sendo utilizado por alguns médicos com resultados diversos. Em virtude da variedade de tais resultados, ainda não é possível se definir o grau de utilidade nem aprovar em definitivo seu uso na prática terapêutica, tratando-se de procedimento experimental”, diz um parecer do CFM de 2011. Nos Estados Unidos e na Europa o procedimento é legal. 

Ciência não comprova efeitos

Segundo o hematologista Dante Langhi Jr, diretor da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular) a técnica não é autorizada no Brasil por ainda ser usada sem um protocolo específico.

“Esse não é um procedimento médico padrão, pois tem sido feito de forma experimental. Faltam evidências científicas que comprovem seus resultados”, diz.

Tanto o lifting do vampiro quanto a auto-hemoterapia (quando o sangue é injetado dentro do músculo com o intuito de reparar lesões no músculo e no osso) são práticas banidas pelo ABHH.

A auto-hemoterapia, que já foi considerada uma revolução no tratamento de atletas lesionados, pode causar infecções em vez de curar, segundo Langhi.

Processo pode ativar células cancerosas

Para a dermatologista Denise Steiner, presidente da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) o mau uso da técnica que usa o sangue pode ainda causar infecções pelo uso de sangue contaminado e até ativar células cancerosas.

“Embora se use muito a técnica na Europa, não há trabalhos científicos suficientes que comprovem a sua segurança em longo prazo. Da mesma forma que poderia estimular uma célula que produz colágeno, poderia estimular uma célula cancerosa”, diz Steiner.

Para a dermatologista, as já consagradas injeções de ácido hialurônico e de toxina botulínica (botox) são indicadas no combate às rugas e são autorizadas pelo CFM.

“O botox e o preenchimento contêm substâncias que têm um tempo de duração no corpo. Já no plasma rico em plaquetas, você está injetando uma substância que vai estimular o colágeno de uma pessoa, sem precisão de quanto tempo ela vai agir no corpo. Falta objetividade”, diz.

Médico americano defende técnica

O norte-americano Charles Runels, inventor do termo “Vampire Facelift”, acha ‘triste’ o Brasil não liberar o uso da técnica no país, já que, segundo ele, há milhares de pesquisas médicas que comprovam seus benefícios mundo afora.

“Acho um pouco triste vocês não poderem usá-la, já que há mais de 10 mil pesquisas médicas sobre o assunto e pelo menos 300 médicos em sete países que a utiliza”, diz.

Runels, que fez o procedimento em Kardashian no Alabama, diz ainda que, além do efeito estético, a técnica é indicada para diminuir cicatrizes e até para disfunção sexual e não tem efeitos colaterais graves.

“A terapia também ajuda com cicatrizes e, embora deixe hematomas, nunca houve efeito colateral sério em qualquer lugar que tenha sido feita”.

Técnica ativa produção de colágeno

Na infusão de plasma rico em plaquetas, ou PRP, como o procedimento é conhecido no Brasil, o sangue é retirado do braço do paciente e levado a uma centrífuga onde se separa o plasma (líquido amarelado) dos glóbulos vermelhos (líquido vermelho). Feito isso, o médico injeta a parte amarelada nas partes do rosto onde há sinais de expressão.

É no plasma onde se concentram as plaquetas, que são fragmentos do sangue capazes de estimular células que ativam a produção de colágeno, proteína responsável por manter a pele firme. O efeito na pele surgiria após três semanas e duraria 15 meses, em média.

No vídeo postado na internet, Gimenez aparece gemendo de dor enquanto recebe algumas injeções do sangue próximo à boca e da testa. Já Kardashian postou fotos em que aparece com o rosto cheio de picadas e repleto de sangue, assim como a modelo israelense.