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91 cidades paulistas sofrem epidemia de dengue; Guararapes lidera ranking

Funcionário da Prefeitura de Campinas faz nebulização contra o mosquito da dengue - Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas
Funcionário da Prefeitura de Campinas faz nebulização contra o mosquito da dengue Imagem: Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

13/03/2015 06h00Atualizada em 13/03/2015 13h33

Pelo menos 91 dos 645 municípios paulistas vivem hoje uma epidemia de dengue. É o que revela levantamento feito pelo UOL a partir dos casos da doença registrados pelo governo do Estado de São Paulo em janeiro e fevereiro e dos números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre população. A linha de corte seguiu os critérios da OMS (Organização Mundial da Saúde): nessas cidades há mais de um caso para cada 334 habitantes --ou mais de 300 para cada 100 mil habitantes.

O cruzamento de dados mostrou ainda que a situação é mais grave em cidades com menos de cem mil habitantes, que somam mais de 95% das que enfrentam a epidemia. Guararapes, na região de Araçatuba, lidera o ranking com seis mortes e um caso de dengue a cada 15 habitantes, maior índice no Estado. Na sequência aparecem Florínea, na  região de Assis, com um caso a cada 17 habitantes; Santa Rita do Passa Quatro, na região de Ribeirão Preto, com um a cada 18; e Estrela d'Oeste, na região de Fernandópolis, com um a cada 26.

Considerando-se todas as cidades paulistas o índice cai para um doente a cada 1091 habitantes, o que significa que não há epidemia em nível estadual. Nos dois primeiros meses do ano, foram registrados 38 mil casos e 32 mortes (ante 87 de todo o ano passado). A situação, porém, pode ser pior, já que são estão considerados no levantamento os casos confirmados de dengue, outros 96 mil estão sob em investigação.

Entre as cidades com mais de cem mil habitantes, a situação mais crítica acontece em Catanduva, com um caso a cada 52 moradores. Depois aparecem Sorocaba, com um a cada 147, Limeira, com um a cada 190, e Mogi Guaçú, com um a cada 326. Em 157 cidades, entretanto, não foi confirmado nenhum caso de dengue.

Neste ano, já foram registrados cerca de 124 mil casos de dengue no Estado e 35 mortes, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (12) pelo Ministério da Saúde. Eram pouco mais de 15 mil no início do ano passado. Houve crescimento de 692%.

Epidemia ronda 340 cidades brasileiras

Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (12), o ministro da Saúde, Arthur Chioro, afirmou que "muitas cidades pequenas não conseguiram se preparar" para enfrentar a doença. "São cidades que enfrentam a dengue em larga escala pela primeira vez. Em cidades onde o problema já ocorreu antes, a situação está controlada", avaliou.

Segundo ele, até a primeira semana de março, foram registrados 224,1 mil casos de dengue em todo o país, aumento de 162% em relação aos 85 mil casos do ano passado. A risco de epidemia ronda 340 cidades brasileiras, onde foram encontradas larvas do mosquito da dengue em mais de 4% dos domicílios visitados. Outras 877 cidades estão em situação de alerta, com índice entre 1% e 3,9%, enquanto 627 possuem índice menor que 1%, considerado satisfatório.

O Nordeste concentra maioria dos municípios de risco (171); seguido do Sudeste (54); Sul (52); Norte (46) e Centro-Oeste (17).

Entre os Estados, o Acre representa a maior proporção de casos, com 695,4 casos para cada cem mil habitantes. Já entre as capitais, apenas Cuiabá corre risco de epidemia. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e mais quinze capitais estão em situação de alerta. 

"A boa notícia é que, mesmo com o aumento de casos de dengue, os casos graves diminuíram 10%", disse o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho. 

Prevenção e combate à doença

A Secretaria de Saúde de São Paulo informou que o trabalho de campo no combate à dengue --por exemplo, o controle de criadouros e a investigação dos casos suspeitos-- é de responsabilidade dos municípios. A pasta responde pela realização de todos os exames de sorologia de casos suspeitos.

Já as prefeituras dos municípios mais afetados - Guararapes, Florínea, Santa Rita do Passa Quatro e Estrela d'Oeste-- disseram que organizam eventos de combate à dengue, como arrastões, bloqueios de criadouros e nebulizações. Guararapes afirmou que decretou estado de emergência, o que "deve garantir à administração o direito de compras de medicamentos sem licitação e à contratação de pessoal para atuar no combate ao mosquito transmissor". Florínea ressaltou que e aplica multas para quem permitir que focos se instalem em suas casas ou terrenos. E Santa Rita do Passa Quatro decretou estado de epidemia.

Aguaí, que registra um caso da doença a cada 45 moradores, decidiu instalar camas para receber os doentes na capela da Santa Casa da cidade. Medida similar foi adotada por Rio Claro, que montou um hospital de campanha, já que a rede pública de saúde não estava dando conta de acolher os doentes. 

Em Marília, onde quatro mortes foram confirmadas e dez estão sendo investigadas, a prefeitura instalou um setor específico para atender casos de dengue.

Já Catanduva, que tem mais de 7.700 casos confirmados, instalou em uma escola um hospital de campanha exclusivo para doentes com dengue. A unidade tem 70 leitos e está sempre lotada.