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"Zika é culpada até que se prove o contrário", diz OMS sobre microcefalia

OMS acumula provas sobre relação da zika com a microcefalia

AFP

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

24/02/2016 18h12Atualizada em 25/02/2016 08h05

A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, afirmou que a zika é culpada pelos casos de microcefalia até que se prove o contrário. A declaração foi dada nesta quarta-feira (24), no Rio de Janeiro, durante visita à Fiocruz. Para ela, os estudos feitos no Brasil apontam a zika como possível causa, o que é corroborado por casos similares na Micronésia e Polinésia Francesa.

Chan destacou que há diferentes formas de microcefalia e que o vírus da zika é traiçoeiro. "Não se surpreendam se outras partes do Brasil começarem a notificar a síndrome", afirmou.

Ainda sobre a associação entre zika e microcefalia, Chan disse que a Polinésia e Micronésia estão fazendo estudos retroativos, de crianças que nasceram em 2013, auge do surto de zika nos países, para identificar possíveis associações com a zika. As mulheres grávidas em áreas de surto também estão sendo acompanhadas pela OMS.

A diretora da OMS afirmou que há mais de 130 países com Aedes. "Estamos recebendo informações de que em ao menos 66 países houve transmissão de zika", disse.

"Onde temos mais casos de microcefalia? Onde há mais casos de zika. Onde há menos? Onde há menos casos. Está estabelecida uma correlação regional, temporal e epidemiológica", disse o ministro da saúde do Brasil, Marcelo Castro.

Chan afirmou que a decisão de engravidar é da mulher, mas que os governos devem dar informação e meios para que elas se protejam. "Todo governo tem responsabilidade de passar toda a informação para as mulheres e suas famílias, para que, em posse dessa informação, decidam se querem ou não adiar a decisão de engravidar."

Inimigo duro na queda

Mais cedo, em Recife, a diretora afirmou que o mosquito Aedes Aegypti é um "inimigo formidável", e que o vírus da zika é imprevisível. No Rio, ela disse que a ajuda de US$ 56 milhões prometida para combater o surto de microcefalia é "uma gota no oceano", para o que seria necessário.

Segundo ela, não há uma solução rápida, mas o país pode liderar o combate ao mosquito nas Américas. "O Brasil erradicou o mosquito na década de 50 e 60, aí eu pergunto: vocês têm força a determinação de fazer isso de novo? Não é fácil, mas tem de ser feito", completou.

Chan chegou ao Brasil ontem (23) e foi recebida pela presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, em Brasília. Ela participou de reuniões com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e outros ministérios envolvidos no combate à epidemia. Pela manhã desta quarta, Chan e a diretora da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e da regional da OMS paras as Américas, Carissa Etienne, visitaram o Instituto Materno Infantil, um dos primeiros locais a ser credenciado para atender a crianças com microcefalia em Pernambuco, Estado com o maior número de casos de má-formação. À tarde, ela foi para a Fiocruz, onde estudos sobre o vírus estão sendo feitos.

Missões similares da cúpula da entidade aconteceram apenas na África, durante o surto de ebola. A OMS quer entender o que está sendo feito no combate ao Aedes para ajudar a preencher as lacunas da operação no Brasil, inclusive com pedidos à comunidade internacional de doações.

Após os encontros em Brasília, Chan disse estar bem impressionada com as ações para mobilizar a sociedade civil, setores religiosos e empresariado. "Nunca tinha visto uma liderança atacar o problema com tamanha velocidade e seriedade", falou.

Ela ressaltou que a zika desatou um alerta global, mas acredita que a resposta do Brasil deve garantir o sucesso dos Jogos Olímpicos no Rio. (Com Estadão Conteúdo e agências internacionais)