Operação Escudo: câmeras revelam 15 tiros em ação de PMs réus por homicídio
As câmeras corporais dos policiais militares da Rota acusados pelo Ministério Público de forjar um tiroteio para cometer um homicídio revelam 15 estampidos de tiros. O episódio ocorreu no Guarujá (SP), em julho de 2023, durante a Operação Escudo, e matou uma pessoa em situação de rua.
O que aconteceu
O UOL obteve com exclusividade as gravações feitas pelas câmeras dos PMs acusados: Rafael Perestrelo Trogillo e Rubem Pinto Santos, além de Samuel Wesley Cosmo, morto em fevereiro de 2024. Não é possível dizer, pelas imagens, se houve tiroteio ou se os 15 disparos foram feitos apenas pelos PMs da Rota.
Depoimento sobre troca de tiros. Nos depoimentos à Promotoria, também obtidos em vídeo pela reportagem, os policiais afirmam que houve troca de tiros. As imagens das câmeras e os depoimentos dos policiais estão na videorreportagem "As câmeras dos réus", a que você pode assistir acima.
PMs no banco dos réus
Acusados de homicídio e afastados. A Justiça de São Paulo aceitou a denúncia do MP e tornou réus por homicídio o segundo-sargento Rafael Perestrelo Trogillo, 40, e o cabo Rubem Pinto Santos, 41. A corte também determinou o afastamento de ambos das atividades operacionais.
Anos a serviço da PM. Trogillo afirmou em depoimento ser casado, ter dois filhos e estar no quadro da PM há 17 anos, sendo os últimos 5 na Rota; Santos, por sua vez, é divorciado, tem uma filha e é policial militar há 22 anos, tendo prestado serviço nos últimos dois anos à Rota.
Currículo. Antes da ocorrência na Operação Escudo, Trogillo disse em depoimento já ter participado de duas outras ações que também terminaram em morte. O cabo Santos afirmou não se lembrar ao certo de quantas já participou: "Quatro ou cinco ocorrências".
Afastados por decisão judicial. Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que o fato está sendo investigado, que as câmeras corporais foram encaminhadas de maneira integral ao MP e que está respeitando a decisão judicial de mantê-los em funções administrativas.
Entrevistas negadas. O UOL pediu entrevistas com os policiais Trogillo e Santos via assessoria de imprensa da SSP. O pedido não foi atendido.
A ocorrência
Trogillo e Santos estavam acompanhados do soldado Samuel Wesley Cosmo, 35. Sete meses depois, o soldado foi assassinado por um criminoso em uma favela de Santos, o que intensificou a Operação Verão, que terminou com 56 mortos.
Ação no Guarujá. De acordo com depoimento dos policiais, eles estiveram na favela da Prainha, no Guarujá, durante a tarde e a noite de 29 de julho de 2023.
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Quero receberComo os tiros começaram. Por volta das 20h10, eles afirmaram ter visto três suspeitos: dois deles armados e o terceiro com uma mochila nas costas. Os PMs se abrigaram por seis minutos. Quando Santos avisou que estava vendo um homem armado, os tiros começaram.
Cosmo se deslocou sozinho pela esquerda. Segundo análise das imagens das câmeras feita pelo MP, o PM seguiu pela esquerda. O soldado teria disparado os últimos quatro tiros contra Jefferson Junio Ramos Diogo, 34, que vivia em situação de rua.
"Plantou" pistola e fingiu surpresa, diz Promotoria. Depois, o sargento Trogillo fez uma varredura no local e determinou que o cabo Santos desarmasse a vítima. Segundo a Promotoria, Santos se agachou próximo ao corpo, plantou uma pistola e, depois, fingiu surpresa ao identificar a arma.
Supostos confrontos. Seis dias depois do assassinato de Cosmo, em fevereiro de 2024, Trogillo e Santos participaram de outras duas mortes ainda durante a Operação Verão, segundo o MP. Em supostos confrontos, eles mataram em ação, no dia 8 de fevereiro, Cledson Pereira da Silva e Thiago de Oliveira.
A vítima
Pessoa em situação de rua. Jefferson Junio tinha familiares no interior de São Paulo, mas vivia em situação de rua na capital paulista.
Dormia na capital. Os familiares costumavam acompanhar o paradeiro de Jeferson fazendo transferências bancárias em seu nome e observando em qual agência ele fazia o saque. Normalmente, ficava no entorno da rodoviária do Tietê, na zona norte.
Sem ligação com litoral. Um dia antes de ser morto no Guarujá, Jefferson Junio teria sido atendido por um assistente social na capital paulista. Familiares disseram que ele nunca esteve no Guarujá, tampouco mantinha laços na cidade. Não se sabe por que ele estava no litoral quando foi morto.
Mesmo com câmeras operacionais, não hesitaram em simular a apreensão de uma pistola ao lado do corpo da vítima que, em verdade, estava desarmada.
Trecho da denúncia do MP
Alta letalidade. Juntas, as operações Escudo e Verão foram finalizadas com 84 pessoas mortas por policiais militares. A primeira operação ocorreu após o homicídio do soldado da Rota Patrick Bastos Reis, enquanto a segunda foi intensificada após o assassinato de Cosmo.
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