Nova estratégia quer acabar com Aids em crianças e adolescentes até 2020
Uma nova estratégia para acabar com a aids pediátrica visa levar os serviços de tratamento antirretroviral a 1,6 milhões de crianças e 1,2 milhões de adolescentes em 2018. Batizada de Super-Fast Track (trilha super-rápida, tradução em português), o trabalho tem o objetivo de fechar a lacuna entre o tratamento adulto e o pediátrico e foi lançado na 21ª Conferência Internacional de Aids, em Durban (África do Sul), na terça-feira (19). Segundo o Unaids (Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids), a estratégia vai reunir ações de diversas agências.
A ideia vem da necessidade de garantir que crianças e adolescentes não fiquem para trás enquanto os programas de tratamento se esforçam para alcançar as metas 90-90-90. Leva em conta que a intensificação do tratamento e do diagnóstico para crianças apresentam desafios específicos que exigem soluções diferentes daquelas empregadas para adultos.
Meta realista
Diagnósticos de HIV/aids em crianças diminuíram drasticamente em Uganda, Suazilândia e Burundi. E outros países, como Cuba e Tailândia, zeraram a transmissão do HIV de mãe para filho. Acabar com a aids em crianças exige esforços especiais em várias regiões altamente afetados pela epidemia. Destacam-se nesse cenário Nigéria, África do Sul e Índia.
De acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (20) pelo Unaids, a Nigéria está muito atrás de outros países da África subsaariana no fornecimento de tratamento antirretroviral para crianças. Estima-se que quase 260 mil crianças vivam com HIV na Nigéria, um quarto do total no mundo inteiro e menos de um em cada cinco está recebendo tratamento antirretroviral.
Já na África do Sul, onde quase 240 mil crianças vivem com o HIV, cerca de três quartos estão recebendo antirretroviral. Zimbábue e Quênia igualmente alcançaram elevados níveis de cobertura de tratamento entre as crianças, como resultado de grandes esforços para melhorar o diagnóstico infantil e compromissos nacionais realmente assumidos.
Se o diagnóstico é negligenciado em crianças, ou se bebês expostos ao HIV não são testados no final do período de amamentação, há o risco de passarem anos com o vírus sem serem diagnosticados. “Temos focado no diagnóstico infantil precoce, mas o rendimento que temos conseguido é muito baixo e os dados de vários países indicam que deveríamos estar procurando outras alternativas. O teste deveria já fazer parte da primeira visita da criança nos serviços de saúde", afirmou Chewe Luo, do Unicef, em eunião organizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Os serviços de saúde devem criar oportunidades para testagens fora dos postos, disse o ministro da Saúde de Lesoto, Molotsi Monyamane. Ele informou que a política nacional foi alterada para permitir que conselheiros leigos testem crianças em instalações da base comunitária. E que serviços móveis estão fornecendo serviços de saúde materno-infantil, incluindo o teste de HIV, a menores de cinco anos.
Fazer dos testes de HIV uma parte da rotina de cuidados de saúde da criança é um longo caminho a ser percorrido. Em Lesoto, campanhas de base comunitária como “Know Your Child’s Status” (Saiba o status do seu filho) são feitas para promover mais testes. As clínicas de tuberculose são um local importante para o diagnóstico de adolescentes. Francesca Celletti, da Elisabeth Glaser Pediatric Aids Foundation, relatou resultados no rendimento de diagnósticos positivos em diferentes tipos de locais apoiados pela fundação no Quênia. Mostrou que as clínicas de tuberculose são muito mais propensas a identificar adolescentes com HIV do que outros locais de teste, destacando a importância desses serviços para essa população.
Iniciação imediata do tratamento
Desde 2015, a Organização Mundial de Saúde recomenda o início do tratamento imediato para todas as crianças com menos de cinco anos diagnosticadas com HIV, independentemente da contagem de células CD4. Ren Minghui, da OMS, disse no lançamento da estratégia, na terça (19), que quase todos países afetados que fazem parte da Fast Track já adotaram o tratamento de todas as crianças, independentemente da idade, ou o farão até o fim de 2016.
Embora a cobertura do tratamento em todo o mundo seja maior entre crianças do que entre adultos, o Unaids estima que o número de crianças em tratamento terá de aumentar em pelo menos 83% (cerca de 730 mil inscritos em tratamento) até 2020 para atingir a erradicação da aids pediátrica.
Assim como os atrasos no diagnóstico, há também desafios na adesão das crianças ao tratamento e, não menos importante, a falta de estruturas capazes de garantir a terapia. Simplificar o tratamento para as crianças é essencial.
Apesar de um trabalho considerável para fazer formulações pediátricas fáceis de dosar, a quantidade de antirretrovirais para crianças ainda é limitada e apenas uma combinação de dose fixa está disponível para elas. Pequenos grãos que podem ser polvilhados sobre os alimentos são um jeito de ajudar os pequenos a tomarem a medicação, mas até agora só existe um remédio nesse formato, o lopinavir/ritonavir.
A Drugs for Neglected Diseases Initiative (Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas) está tentando, com o fabricante indiano Cipla, desenvolver duas combinações de quatro drogas em forma de pequenos grãos e espera que os produtos estejam disponíveis em 2018. Os produtos vão combinar lopinavir, ritonavir e lamivudina tanto com abacavir como com zidovudina.
Supressão viral
A supressão viral continua sendo mais desafiadora em crianças do que em adultos, em parte devido às dificuldades de adesão, mas também devido ao uso contínuo de combinações de drogas não ideais contendo nevirapina. Crianças com HIV que adquirem resistência à nevirapina como resultado da falência do tratamento materno, seja no momento do parto ou durante a amamentação, continuarão a ter sensibilidade reduzida à droga e o uso limitado da terapia alternativa recomendada contendo lopinavir / ritonavir, muitas vezes leva ao fracasso do tratamento nestes crianças.
Assim como para os adultos, as inovações na prestação de serviços podem melhorar a retenção nos cuidados, seja por meio de sistemas de entrevistas centradas na família, de clínicas comandadas por enfermeiros ou incorporação de apoio dos pares em serviços clínicos. A descentralização dos serviços para aproximá-los das famílias tem sido mostrada para melhorar a retenção nos cuidados em um estudo de cinco países africanos, diminuindo a perda de acompanhamento de metade a três quartos.
Conclusão: o imperativo moral
A nova ênfase no tratamento pediátrico destina-se a mobilizar recursos e galvanizar a ação, declarou o médico Badara Samb. “Nós não estamos utilizando os recursos adequados para o tratamento pediátrico. Temos os meios para acabar com ela de uma vez por todas e, então, por que não estamos priorizando o tratamento do HIV para as crianças? Aqui temos uma ética e um imperativo moral, e também precisamos ter uma visão mais ampla, ver que mesmo que essas crianças sejam um pequeno número [em relação à epidemia de adultos] elas são a próxima geração."
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