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Mianmar e Bangladesh prometem atacar raízes da crise de migrantes

29/05/2015 18h04

Bangcoc, 29 Mai 2015 (AFP) - No coração do êxodo de migrantes no sudeste da Ásia, Mianmar e Bangladesh prometeram nesta sexta-feira "atacar as raízes" da crise, durante uma reunião regional em Bangcoc - anunciou a Diplomacia tailandesa.

Além desses dois países, outros 15 reunidos em Bangcoc conseguiram entrar em acordo sobre a necessidade de "atacar as raízes" do problema e "melhorar a vida das comunidades ameaçadas", com "criação de empregos" e "ajudas ao desenvolvimento".

A Tailândia, anfitriã do encontro, descreveu as conversas como "muito construtivas" e ressaltou que os 17 países presentes aceitaram contribuir com ajuda humanitária para socorrer os 2.500 migrantes que - acredita-se - ainda estejam à deriva em alto-mar, além dos 3.500 que já haviam chegado à costa tailandesa, malaia e indonésia desde 1º de maio.

A declaração final não menciona especificamente a palavra "rohingya" (a minoria muçulmana que conta com 1,3 milhão de habitantes em Mianmar), uma definição que é rejeitada por Rangun.

O aumento da violência comunitária deixou cerca de 200 mortos e 140 mil deslocados em 2012, o que contribuiu para acelerar o êxodo.

Na publicação, nesta sexta, do primeiro censo de Mianmar em três décadas, voltou-se a omitir essa minoria, depois que as autoridades se recusaram a contá-los, caso se identificassem como parte desse grupo étnico.

No encerramento da cúpula em Bangcoc, o ministro birmanês da Informação anunciou que 727 "bengalis" à deriva foram resgatados em suas águas hoje pela manhã.

Bangladesh reconhece cerca de 30 mil "rohingya" como refugiados, mas milhares são tratados como migrantes em situação ilegal em Mianmar.

A delegação bengalesa se mostrou satisfeita com o resultado da reunião. "Hoje, tivemos discussões muito produtivas", disse Shahidul Haque, que integra a delegação.

Outros ficaram menos impressionados com o desfecho da cúpula.

O presidente dos parlamentares da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) para os direitos humanos, o advogado malaio Charles Santiago, descreveu o encontro como "muita conversa com pouca substância e nenhuma resolução para levar adiante qualquer tipo de ação".

Seu grupo também criticou que a cúpula "não tenha discutido publicamente a perseguição dos rohingya".

Phil Robertson, da Human Rights Watch Ásia, classificou as discussões de "curativo em uma ferida aberta".

"Os rohingya sequer são mencionados na declaração. Como se pode falar de um povo que sequer é nomeado?", questionou Robertson.

Pela manhã, Mianmar acusou a ONU de "estigmatizá-la" e denunciou a "politização" do problema.

"Não podem estigmatizar meu país", reclamou o chefe da delegação birmanesa, Htin Lynn, incomodado com as declarações do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), que pediu ao governo que assuma sua responsabilidade frente ao problema.

O representante da Acnur, Volker Turk, havia dito que, para resolver as causas da crise, Mianmar deveria assumir "inteiramente suas responsabilidades com todos seus habitantes", em referência ao êxodo dos rohingya.

Mianmar considera os membros dessa minoria muçulmana como imigrantes do país vizinho. Os rohingyas, que protagonizaram cenas dramáticas no mar, a bordo de barcos à deriva, são considerados uma ameaça para a identidade budista dominante em Mianmar.



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