Santa Casa de São Paulo consegue linha de crédito de R$ 360 milhões
A expectativa é conseguir um respiro para renegociar com fornecedores a fim de regularizar o fornecimento de insumos e permitir que a Santa Casa volte a funcionar em sua totalidade, retomando cirurgias eletivas, que estão atrasadas. De acordo José Luiz Setúbal, provedor da Santa Casa de São Paulo, hoje o hospital opera em cerca de 70% a 80% do que seria o ideal. Plenamente funcionam apenas com os serviços de emergência de pronto socorro e ambulatório.
À reportagem, ele explicou que esses R$ 360 milhões do novo empréstimo são parte da dívida total de cerca de R$ 800 milhões da instituição. "O que estamos fazendo agora é transferir a dívida que temos com bancos, inclusive a Caixa, e fornecedores para esse linha de crédito. Haverá carência de juros nos primeiro ano, o que nos dará um fôlego", disse.
Segundo ele, o problema com os fornecedores é hoje o mais gritante para a Santa Casa. "É isso que está parando o nosso funcionamento. Como a gente deve muito, a gente paga mais caro que o mercado. Mas com o dinheiro na mão fica mais fácil negociar."
Com o acordo, diz Setúbal, haverá uma redução nos juros mensais, que atualmente estão na ordem de R$ 9 milhões, o que deve ajudar a prosseguir com planos de transformação da operação.
O médico assumiu a gestão da Santa Casa em julho do ano passado, em meio a uma das maiores crises da instituição, com o objetivo de sanar a saúde financeira do hospital. "Agora vamos acertar dívidas com bancos e com fornecedores. Essas medidas são importantes e necessárias, mas não são suficiente", afirmou.
Para ele, a nova etapa agora é melhorar a eficiência e aumentar a receita. "Temos de fazer a lição de casa. Estamos na fase de avaliar novas fontes de receita, como fazer outros tipos de serviço, por exemplo com a Prefeitura de S. Paulo, buscar emendas parlamentares, fundos de renúncia fiscal, fundo do idoso."
Pelos cálculos de Setúbal, para deixar a casa em ordem e retomar o nível de atendimento que havia antes do início da crise, seria necessária uma renda mensal de R$ 11 milhões a R$ 12 milhões. Hoje a receita está em torno de R$ 6 milhões a R$ 7 milhões.
Havia a intenção de vender um imóvel na Avenida Paulista, mas não se concretizou. "Se tivéssemos conseguido, a situação estaria melhor. Para o acordo com a Caixa, usamos os imóveis maiores como garantia desse empréstimo. Mas no ano que vem teremos que vender algum imóveis, talvez algum menor."
Ele negou a possibilidade de haver novas demissões ou redução de serviços. "Temos metas para os próximos três anos e a ideia é manter o mesmo nível de atendimento que tínhamos antes. Buscamos melhorar a eficiência, mas não tem planos de abandonar nenhum serviço."
Modelo para outras unidades
O acordo foi fechado nesta terça-feira (6) em evento no Palácio do Planalto, com a presença do presidente da República, Michel Temer (PMDB), do ministro da Saúde, Ricardo Barros, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), do presidente da Caixa, Gilberto Occhi, além de Setúbal.
Temer afirmou esperar que esse modelo de reestruturação possa se reproduzir em todas as Santas Casas do País. O presidente afirmou ainda que sempre via a Caixa não como um estabelecimento de crédito que pudesse apenas gerar lucros e dividendos, mas como uma estrutura com "uma função social".
"Como as Santas Casas sempre têm muitas dificuldades, eu acho que o Gilberto Occhi (presidente da Caixa) e os senhores vão ter muita gente batendo às portas lá da Santa Casa, da Caixa Econômica. E eu espero que este ato também possa reproduzir-se em todas as Santas Casas do País", disse.
Alckmin lembrou que em todo o Brasil, as Santas Casas têm dívidas que chegam a R$ 2 bilhões. Segundo ele, o acordo firmado hoje reduz em 30% os juros da dívida da instituição em São Paulo, dá prazo de dez anos para pagamento e um ano de carência. "É um modelo que defendemos seja replicado para outras Santas Casas", afirmou, uma vez que tira o hospital de "bancos privados com juros altíssimos".
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