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Equilíbrio inédito entre candidatos transforma Rio em campo de batalha

17/10/2014 15h51

Terceiro maior colégio eleitoral do país, após São Paulo e Minas Gerais, o Rio de Janeiro prepara-se para ser um dos estados-chave e com uma das disputas mais acirradas entre os dois candidatos à presidência na etapa final da corrida eleitoral. De olho, sobretudo, nos 2,6 milhões de eleitores que votaram em Marina Silva (PSB) no primeiro turno, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) planejam visitas ao Estado neste fim de semana para conquistar o eleitorado fluminense até o domingo das eleições.

No primeiro turno, Dilma obteve 36% dos votos válidos, Marina, 31% e Aécio, 27%. Ainda que Dilma tenha conquistado a liderança, foi o pior resultado no Rio de Janeiro de um candidato do PT à presidência desde as eleições de 1998. Existe um equilíbrio inédito nas disputas de segundo turno entre PT e PSDB.

A presidente tem diante de si a tarefa de reverter tal cenário. Desde a redemocratização, o Estado favorece o PT nas disputas de segundo turno contra o PSDB, franqueando ao partido um porcentual de votos a seus candidatos acima da média nacional no pleito presidencial. Ou seja, nas eleições de Lula e Dilma, o Rio puxou para cima o resultado final dos candidatos do PT.

Historicamente, o índice de rejeição aos tucanos tende a ser maior no Rio de que em outros Estados do Brasil. Nas dez votações presidenciais (sete primeiros turnos e três segundos turnos) desde o fim da ditadura, o PSDB sempre teve um percentual de votos menor no Estado do que na soma do resto do país.

Histórico

Em 2002, por exemplo, quando o PT assumiu pela primeira vez o poder, José Serra, então candidato do PSDB, teve, nacionalmente, 23% dos votos no primeiro turno, contra 46% de Lula. No Rio, o tucano obteve apenas 9% da preferência do eleitorado contra 40% do petista.

O cenário voltou a se repetir no segundo turno, quando Lula foi eleito presidente com 61% dos votos contra 39% de Serra. No Rio, oito em cada dez eleitores (79%) preferiram o petista em detrimento do tucano (21%). Veja na tabela abaixo os desempenhos dos candidatos do PT e do PSDB no Rio, desde 94.

Mesmo em 1994, por exemplo, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito no primeiro turno, o Rio de Janeiro deu ao ex-presidente uma votação (47%) que não seria suficiente para a vitória sem segundo turno. Em 1998, FHC foi reeleito no primeiro turno, mas teve no Rio menos votos do que o principal candidato de oposição, Lula.

Desde a eleição de Dilma, em 2010, no entanto, a diferença entre os candidatos à presidência dos dois partidos vem se estreitando no terceiro maior colégio eleitoral do país. Além disso, neste ano, o número de votos inválidos (nulos e brancos) no Estado foi recorde, com 1,3 milhão, alta de 31% em relação à eleição passada.

Segundo a última pesquisa do instituto Datafolha, Dilma lidera no Rio de Janeiro com 51% das intenções, contra 49% de Aécio. Nacionalmente, a vantagem de 51% a 49% é do candidato do PSDB. Com a margem de erro, ambos estão tecnicamente empatados tanto no Brasil quanto no Rio de Janeiro.

Segundo pesquisas internas encomendadas por lideranças do PT e do PSDB, às quais a reportagem da BBC Brasil teve acesso, Aécio lideraria com folga no interior do Estado, enquanto Dilma venceria na Região Metropolitana, excluída a capital, onde os dois candidatos estão empatados tecnicamente – e onde, curiosamente, Marina conquistou o maior número de votos no primeiro turno.

Estratégia

É por causa dessa disputa acirrada que tanto Aécio quanto Dilma decidiram incluir o Rio no roteiro dos Estados que devem visitar até o segundo turno. A presidente, que busca a reeleição, deve chegar à capital no sábado e fará agenda com os dois candidatos ao governo estadual, ambos de partidos da base governista: Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB). Ainda que Pezão tenha declarado apoio à petista, parte de seu partido faz campanha para o tucano, num movimento já apelidado de "Aezão". A dissidência é liderada pelo deputado estadual Jorge Picciani (PMDB).

A presidente, que busca a reeleição, iria chegar à capital no sábado e faria agenda com os dois candidatos ao governo estadual, ambos de partidos da base governista: Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB). Mas os eventos foram cancelados. Dilma vai ao Rio na quarta-feira (22) para participar de um evento na Baixada Fluminense e um grande comício na Cinelândia, no centro da cidade, segundo lideranças locais.

"A meta agora é ampliar a vantagem onde a presidente já lidera, mas ainda com pouca folga", disse à BBC Brasil o deputado federal Pedro Paulo (PMDB), um dos mobilizadores da campanha pela reeleição da presidente no Rio.

"Bairros como Campo Grande e Santa Cruz (ambos na Zona Oeste do Rio, onde Dilma se encontrará com Pezão) são muito populosos e tendem a ser um diferencial nas urnas. Além disso, trata-se de uma localidade que recebeu grandes investimentos dos governos municipal, estadual e federal. Vamos ressaltar a importância disso para a população", acrescentou o deputado.

Na mesma região, o PT também está de olho no voto dos evangélicos, que optaram por Marina no primeiro turno, de acordo com Jorge Florencio, ex-presidente estadual do PT e articulador da campanha na Baixada Fluminense. "Nesta sexta-feira, a Benedita (Benedita da Silva, deputada federal pelo PT) convocou uma reunião com mais de 140 pastores na Vila Kennedy (Zona Oeste da cidade)".

Na quarta-feira (22), Dilma volta ao Rio para participar de um evento na Baixada Fluminense e um grande comício na Cinelândia, no centro da cidade, segundo lideranças locais. Já Aécio deve também vir ao Rio no final de semana. No domingo, está prevista uma caminhada na Praia de Copacabana.

"Nossa estratégia é a mesma: acordar cedo e dormir tarde. Temos articuladores em todos os municípios e já ganhamos com folga no interior do Estado", disse à BBC Brasil o deputado estadual e presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, que retirou apoio a Dilma no fim do ano passado, quando o PT decidiu lançar candidatura própria (Lindbergh Faria) ao governo do Estado. O petista ficou em quarto lugar na disputa, com 10% dos votos, e agora apoia Crivella. Outra parte do PT, no entanto, aliou-se a Pezão no segundo turno.

"Esta é uma eleição disputada voto a voto. Por isso, chamei para mim a incumbência de conquistar os eleitores da Baixada Fluminense e da capital. Para isso, conto com a ajuda de prefeitos e vereadores", acrescentou Picciani.

Sobre os votos de Marina, o líder do movimento "Aezão", que prega voto em Aécio e Pezão, acredita que o tucano será beneficiado. "Esses votos da Marina estão indo para o Aécio de forma natural, pois são votos de oposição, gente que quer o PT fora do poder", concluiu.