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"Trens faziam fila em Auschwitz", diz ex-guarda de campo nazista

Oskar Groening, 93, ex-guarda de Auschwitz-Birkenau - AFP
Oskar Groening, 93, ex-guarda de Auschwitz-Birkenau Imagem: AFP

22/04/2015 18h56

Um ex-guarda do mais famoso campo de concentração nazista disse que, durante a Segunda Guerra Mundial, o número de trens repletos de judeus que chegavam a Auschwitz-Birkenau era tão grande que eles precisavam fazer fila, com as portas ainda fechadas, até que as primeiras composições fossem "processadas".

Oskar Groening, 93, fez este relato durante o segundo dia de seu julgamento na cidade de Lueneburg, na Alemanha. Ele é acusado de coparticipação na morte de ao menos 300 mil judeus em Auschwitz.

A maioria daqueles que desembarcavam neste campo de concentração iam direto para as câmaras de gás.

Groening disse sentir uma culpa "moral", mas afirma não ter exercido um papel direto no genocídio.

A acusação feita contra ele se refere ao período entre maio e julho de 1944, quando cerca de 425 mil judeus da Hungria foram levados para o complexo de Auschwitz-Birkenau, na Polônia.

Groening diz que era mandado com frequência para a área do campo conhecida como Auschwitz , mas também trabalhou como guarda na seção de Birkenau, onde ficavam as principais câmaras de gás.

"A capacidade das câmaras e dos crematórios era bastante limitada", ele disse no tribunal.

"Alguém disse que 5.000 pessoas eram processadas por dia, mas não tenho como confirmar isso. Para manter a ordem, esperávamos enquanto o primeiro trem era processado totalmente até passar para outro."

Caos e trauma

Sobreviventes de Auschwitz disseram que sua chegada ao campo foi caótica e profundamente traumática, com guardas nazistas berrando ordens, cachorros latindo e famílias sendo separadas.

Por sua vez, Groening descreveu estes momentos como "muito organizados" e "nada extenuantes" para ele.

"Todos caminhavam, alguns numa direção, outros para outra... onde ficavam os crematórios e câmaras de gás", afirmou o ex-guarda.

Uma sobrevivente, Eva Kor, 81, disse não se lembrar especificamente de Groening, mas considerou ser impossível esquecer a cena.

"Tudo aconteceu muito rápido. Gritos, choros e empurrões. Cachorros latiam. Nunca vivi algo tão louco como aquilo em toda minha vida", disse ela à agência de notícias AP antes de dar seu testemunho.

Seus pais e suas irmãs mais velhas foram levados diretamente para as câmaras, enquanto ela e sua irmã gêmea, ambas com 10 anos de idade na época, foram usadas em experimentos feitos pelo médico nazista Josef Mengele.

Ao se recordar do momento em que foi separada de sua mãe, ela disse: "Só me lembro de seus braços estendidos em desespero enquanto ela era levada para longe. Nunca pude dizer adeus".

Nesta quarta-feira (22), ao falar no tribunal, Groening afirmou: "Peço perdão. Compartilho da culpa moral, mas vocês terão de decidir se sou culpado criminalmente".

Se for considerado culpado, ele poderá ficar de três a 15 anos preso.