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Honduras: detentos afirmam que não foram ajudados durante incêndio

Incêndio em cadeia de Honduras é maior tragédia em penitenciária em 25 anos - AFP
Incêndio em cadeia de Honduras é maior tragédia em penitenciária em 25 anos Imagem: AFP

Em Comayagua (Honduras)

15/02/2012 23h43

Sobreviventes da tragédia ocorrida nesta quarta-feira (15) na Colônia Agrícola Penal de Comayagua, no centro de Honduras, onde morreram mais de 300 detentos em um incêndio, asseguraram que só se salvaram porque conseguiram sair pelo teto de suas celas, uma vez que nenhuma autoridade os ajudava.

"Ninguém abriu os portões, nós cansamos de gritar. Tivemos de saltar pelo teto quando o fogo já tomava conta", expressou à Agência Efe um dos sobreviventes, que não quis identificar-se para evitar represálias das autoridades. Outro sobrevivente, porém, deu versão diferente: "a Polícia nos ajudou como pôde. Não houve disparos, como estão dizendo", contou Heber López Hernández.

Após o fogo propagar-se, os réus pediram ajuda para sair de suas celas e salvar-se, mas não receberam socorro, segundo os três sobreviventes que falaram com a Efe no lugar da tragédia. "Tivemos que romper o teto para poder sair", manifestou outro recluso, antes de assinalar que o funcionário responsável por abrir as celas "atirou as chaves" e deixou o local.

"Foi o enfermeiro quem abriu. Com as chamas já altas, ele conseguiu abrir as celas. Graças a essa ação, há algumas pessoas vivas", explicou.

Uma vez fora das celas, "pulamos o muro (externo da penitenciária) porque já não era possível resistir ao incêndio", acrescentou.

Nesse momento, porém, os guardas "começaram a disparar de fora para evitar uma fuga", relatou.

Um dos réus que falou com a Efe assegurou que entre as vítimas "morreu uma pessoa que deveria ter sido libertada ontem", mas que seguia recluso "um dia mais por capricho da juíza" responsável por seu caso.

A irmã de dois reclusos, Damaris Cáceres Hernández, contou à Efe não saber se eles estão vivos ou mortos, e relatou que, como ela vive perto da Colônia Agrícola Penal, ouviu quando os detentos pediam auxílio e os guardas disparavam para evitar uma fuga.

"Eles pediam auxílio, mas não abriram as celas e os deixaram queimar", assegurou Damaris, enquanto esperava notícias de seus parentes ao lado de dezenas de familiares de outros internos.

Até agora, o Ministério Público confirmou que pelo menos 357 réus morreram no incêndio.

As autoridades já começaram a levar os cadáveres ao Instituto Médico Legal, em Tegucigalpa, para as autópsias e o devido reconhecimento.

Esta é a pior tragédia ocorrida nos 24 centros penitenciários hondurenhos, que têm capacidade para 8 mil detentos mas que abrigam cerca de 12 mil, segundo fontes da Polícia hondurenha e organismos humanitários locais.