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Guerrero, um estado acéfalo e à procura de seus 43 estudantes desaparecidos

25/10/2014 20h13

Chilpancingo (México), 25 out (EFE).- Guerrero amanheceu neste sábado oficialmente sem governador, depois que o Congresso local aceitou a renúncia de Ángel Aguirre a dirigir um estado cujos moradores não conseguem esquecer que 43 jovens permanecem desaparecidos há um mês.

Na madrugada de hoje, o plenário do Congresso de Guerrero aprovou por unanimidade a solicitação do governador, em uma sessão extraordinária realizada nesta madrugada.

Aguirre, do esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD), anunciou sua renúncia na quinta-feira passada após a radicalização dos protestos de estudantes, professores e familiares dos desaparecidos com ataques a vários edifícios oficiais em Guerrero.

Sua saída do poder era uma das principais reivindicações das famílias dos 43 alunos da Escola Normal de Ayotzinapa que desapareceram no último dia 26 de setembro em Iguala após terem sido detidos por policiais e entregues ao cartel Guerreros Unidos, segundo a investigação.

Além disso, naquela noite seis pessoas morreram e 25 ficaram feridas em ataques a tiros realizados por policiais locais por ordens do então prefeito de Iguala, José Luis Abarca, e sua esposa, María de Los Angeles Pineda, operadores dos Guerreros Unidos e hoje foragidos da Justiça.

Os deputados de Guerrero, no sul do México, marcaram uma nova sessão para a próxima terça-feira, na qual se decidirá quem será o sucessor do já ex-governador, uma decisão que corresponde à comissão de governo do congresso local

Horas depois da confirmação oficial que Guerrero não tem governador, os estudantes conhecidos como "ayotzinapos" lembraram que não pensam em parar um só dia sua luta e seus protestos pelo desaparecimento de seus companheiros.

Os jovens, com os rostos cobertos com máscaras e lenços e acompanhados de estudantes de outras escolas, saquearam pelo menos dois supermercados da capital do estado, Chilpancingo, causando pequenos danos, até que a polícia blindou os estabelecimentos, e retornaram a seu quartel-general.

Parte do que foi saqueado foi distribuído entre moradores do município e o resto foi levado à escola, onde as famílias dos desaparecidos esperam notícias de seus filhos e avanços na busca por parte das autoridades.

Separadas por 18 quilômetros, Tixtla (o município onde está a escola) e Chilpancingo vivem há um mês concentradas em um só tema, os estudantes desaparecidos.

As ruas da capital permanecem cheias de cartazes com os rostos dos jovens desaparecidos e na maioria dos táxis se leem frases pedindo paz para Guerrero e que os jovens retornem vivos para casa.

Nas marchas e ações de protesto, que foram aumentando à medida que as autoridades apresentavam menos resultados, participam cada vez mais estudantes de outras escolas e universidades, professores de outros estados, cidadãos e familiares dos desaparecidos.

Por sua parte, as organizações que fazem parte da chamada Assembleia Nacional Popular anunciaram que radicalizarão seus protestos para pressionar às autoridades a encontrar os 43 estudantes desaparecidos.

Em particular decidiram tomar os aeroportos de Acapulco e da Cidade do México, bloquear as estradas em Chilpancingo, inclusive a Estrada do Sol, que une a capital mexicana com o porto de Acapulco, além de outras mobilizações em todo o país.

Por sua parte, a procuradoria do México informou em comunicado emitido ontem à noite que até agora só se descobriram 11 fossas clandestinas onde se encontraram restos de 38 corpos, os quais ainda são analisados pelos peritos para comprovar se correspondem aos desaparecidos.