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Países pressionam Mianmar em meio a crise de imigrantes no Sudeste Asiático

Em Koh Lipe

16/05/2015 13h01

Afetadas pela chegada de milhares de imigrantes ilegais, Tailândia e Malásia pressionaram Mianmar neste sábado (16) para que o país se envolva nas negociações para encontrar uma solução à crise humanitária no Sudeste Asiático.

O primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, se mostrou a favor de um acordo regional para resolver a crise de imigrantes e pediu para Mianmar, país de onde sai grande parte deles, dar uma "resposta positiva".

Cerca de seis mil pessoas se encontram, segundo a ONU, presas em embarcações à deriva no golfo de Bengala à espera de poder desembarcar na Tailândia, na Malásia ou na Indonésia, semanas depois de deixarem Bangladesh e Mianmar.

Grande parte dos imigrantes são rohingyas, uma minoria muçulmana perseguida em Mianmar, onde não têm a cidadania reconhecida.

Uma das embarcações, com pelo menos 300 homens, mulheres e crianças famintos, foi recusada várias vezes pelas Marinhas de Tailândia e Malásia, o que as organizações humanitárias consideram um "jogo" com vidas humanas.

O primeiro-ministro malaio defendeu que a crise seja abordada pela Associação de Nações do Sudeste de Asiático (Asean), da qual a Malásia desempenha neste ano a presidência rotativa e que também tem como membros do grupo Mianmar, Tailândia e Indonésia.

Até agora, o governo de Mianmar se faz de desentendido da crise e colocou em dúvida sua participação em reunião convocada pela Tailândia no dia 29 de maio, para a qual foram convidados vários países da região e agências internacionais para debater possíveis soluções.

"Espero que (Mianmar) dê uma resposta positiva, visto que estes refugiados são consequência de problemas internos nos quais não podemos interferir, mas queremos fazer algo antes que a situação piore", disse Najib.

O primeiro-ministro malaio conversou por telefone neste sábado com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que reiterou sua preocupação pela situação dos imigrantes presos em alto-mar.

"Disse (a Ban) que esta é uma catástrofe humanitária que deve ser abordada seriamente por todos os países. Não é apenas um problema da Asean, é uma questão humanitária e global", acrescentou.

Cerca de 2.500 pessoas desembarcaram desde domingo na Indonésia, na Malásia e na Tailândia, apesar da oposição das Marinhas dos três países, que empurram as embarcações para longe do litoral, ignorando os pedidos da ONU e das organizações humanitárias para que abram suas fronteiras.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, se mostrou consternado por esta política, sobre a qual advertiu que "vai causar várias mortes que poderiam ter sido evitadas".

Najib respondeu que a Malásia já acolhe 120 mil imigrantes ilegais de Mianmar e que "simpatiza" com os que estão em situação desesperada no mar, aos quais é oferecida assistência humanitária junto aos que desembarcaram na segunda-feira na ilha de Langkawi.

"Falar que não admitimos ou reduzimos este problema humanitário é não dizer a verdade. A Malásia contribuiu em grande parte, mas nós não somos a origem do problema", concluiu Najib.

O chefe do governo tailandês, Prayuth Chan-ocha, disse que a solução desta crise requer a cooperação dos países da região, incluindo Mianmar, país de procedência de grande parte de imigrantes, sobretudo rohingyas, que não são reconhecidos como cidadãos.

"As organizações internacionais deveriam falar com Mianmar em vez de colocar toda a pressão sobre a Tailândia para que assuma toda a responsabilidade no cuidado destes imigrantes", disse na noite de sexta-feira Prayuth em discurso pela televisão.

Prayuth garantiu que a Tailândia dará assistência humanitária e não descartou que ofereça alojamento temporário, mas deixou claro que os rohingyas que entrarem ilegalmente no país serão considerados imigrantes ilegais e deportados a seu país de origem.

A Tailândia ressaltou sua intenção de continuar bloqueando a entrada das embarcações com imigrantes pelo menos até a reunião convocada para o dia 29 de maio com representantes de outros países da região para abordar a crise.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), cerca de 25 mil pessoas deixaram Bangladesh e Mianmar em embarcações durante o primeiro trimestre de 2015, o dobro do número registrado no mesmo período de 2014.