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Ex-militante da Al Qaeda afirma que Estado Islâmico vai apagar a história

Efe
Imagem: Efe

Fernando Prieto Arellano

Em Madri

06/10/2015 17h27

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) "vai mudar a história, a apagando", afirmou o dinamarquês Morten Storm, ex-militante da Al Qaeda. Storm, protagonista do livro "Minha vida na Al Qaeda. A história do jihadista dinamarquês que espionou para a CIA" (em tradução livre), escrito pelos jornalistas Paul Cruickshank e Tim Lister, avalia que o atual conflito no Oriente Médio, em particular na Síria e no Iraque (em que um dos atores principais é o EI), "não é uma simples guerra regional, mas uma guerra por nossa sobrevivência".

No livro, Storm, de 39 anos, relata sua experiência pessoal e a espiral em que se viu imerso desde que, aos 16 anos, se tornou um rapaz sem raízes ("um frango sem cabeça", disse), que entrou em uma gangue de motoqueiros na Dinamarca até se converter ao islã e terminar militando na Al Qaeda, de onde seria recrutado pela CIA.

Storm afirmou que, do ponto de vista programático e de atuação, "o EI é um inimigo muito honesto. Por suas crenças e por suas ações, se limitam a seguir sua doutrina, baseada em uma interpretação extrema do rigor islâmico, e, por isso, em executá-la".

O dinamarquês classificou os políticos ocidentais de "covardes", pela abordagem do combate ao jihadismo. "Temos líderes covardes, que não têm nem ideia deste problema, nem sabem como abordá-lo. Falta estratégia" sobre o modo de combater o EI, já - assinalou com um ponto de sarcasmo - o presidente russo, Vladimir Putin, "tem".

Para ele, O Ocidente continua "com a guerra sem encontrar soluções. Já fracassou na luta contra a Al Qaeda e agora está acontecendo o mesmo com o EI", afirmou Storm.

Na opinião do ex-jihadista dinamarquês, "o EI acredita em seus valores, naquilo que defende e pelo que mata. Nós não acreditamos nos nossos", daí a dificuldade de abordar esta luta, inclusive também no terreno da propaganda.

Por isso, ressaltou, "não é certo afirmar que o EI dispõe exclusivamente de 50 mil combatentes, ele está controlando milhões; conta com milhões de potenciais combatentes".

Storm destacou um aspecto equivocado e difundido no Ocidente, que questiona o apoio que o Estado Islâmico tem nas áreas sob seu controle, construído por uma mistura de desconhecimento do exterior, pobreza e ódio aos que os atacam e bombardeiam indiscriminadamente.

"As pessoas apoiam o EI nas áreas sob seu controle. Se não fosse assim, o EI não estaria ali; para as pessoas dessas regiões, sua presença é como uma libertação, não um mero grupo violento e ágil", salientou.

Isso se explica, segundo Storm, porque além das imagens de terror, de todo tipo de castigos corporais e execuções perfeitamente gravadas e distribuídas pela rede, o Estado Islâmico responde de modo coerente a sua denominação e também estabelece uma estrutura (ou superestrutura) estatal, em que não faltam serviços assistenciais.

Storm alertou que a imprensa ocidental "têm que entender que há um problema com o islã, e que é preciso solucioná-lo".

Retomando o significado literal da palavra "Islã" (Submissão a Deus), Storm afirmou que, atualmente, a principal corrente do islã é política (aspecto inerente a esta religião). Deste modo, "não se pode questionar nada. É necessário ser submisso".

"Em minha opinião, e com o que sei após o que vivi, o islã, mais do que uma religião, é uma ideologia totalitária e supremacista", que produziu uma dissidência radical que põe em perigo as correntes islâmicas moderadas, assim como outras minorias (como os yazidis, entre outros) "a quem o EI vai exterminar".