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Homem é perseguido por ter mesmo nome do assassino de Nice

15.jul.2016 - Pessoas rezam em torno de memorial improvisado para homenagear as vítimas do ataque com caminhão - Valery Hache/ AFP
15.jul.2016 - Pessoas rezam em torno de memorial improvisado para homenagear as vítimas do ataque com caminhão Imagem: Valery Hache/ AFP

Em Paris

Ángel Calvo

17/07/2016 07h25

Um homem que tem o mesmo nome e sobrenome do autor do massacre de Nice denunciou ser alvo de uma chuva de insultos e ameaças pelas redes sociais, até o ponto de duvidar se volta para a França vindo da Tunísia, onde está de férias.

Mohammed Bouhlel é também tunisiano e morador de Nice, da mesma forma que Mohammed Lahouaiej Bouhlel, que foi abatido pela polícia após atropelar na quinta-feira (14) centenas de pessoas no Passeio dos Ingleses dessa cidade e causar a morte de 84 delas.

Segundo conta em um relato à página na internet da revista "L'Obs", Bouhlel vive um verdadeiro calvário por causa da confusão entre as duas identidades, por parte de pessoas que inundaram as redes sociais de impropérios contra ele.

"Como tenho muito medo da recepção que vou ter os que me afligem com ameaças de morte e de insultos, preferi atrasar a volta para minha cidade. Era esperado no trabalho na próxima segunda-feira, mas nestas condições não acredito poder chegar a tempo", conta o homem, que diz ter sabido do massacre na sexta-feira (15) de manhã.

Bouhlel estava na Tunísia de férias e quando ligou seu carro ficou sabendo do atentado, no qual também mais de 200 pessoas ficaram feridas.

Imediatamente começou a ver mensagens acusatórias no Facebook e, embora tenha publicado em sua linha do tempo uma mensagem desmentindo qualquer relação com os fatos de Nice, o assédio continuou, por isso que finalmente decidiu comparecer a uma delegacia a denunciá-lo, sobretudo pelo tom das ameaças de morte.

O homem se queixa que alguém utilizou, sem fazer as comprovações devidas, a foto que pôs em seu perfil de Facebook - sua conta ficou suspensa depois - para propagar pelo Twitter mensagens como: "A cara do monstro que ensanguentou Nice". Na mesma linha, são enviadas mensagens nas quais mostram seu desejo que queime no inferno.

"Espero que se encontre rápido o autor desta confusão e que pague pelo que me fez", se indigna Mohammed Bouhlel, acrescentando que sua família em Nice está passando mal e que não deixa de receber ligações de conhecidos que estão inquietos com seu destino.

A situação é particularmente penosa para ele quando pensa no que passou na cidade que tanto quer, e mais concretamente no Passeio dos Ingleses, onde trabalhou durante anos em um hotel. "Nunca teria podido imaginar um drama assim. Ser acusado de isso é o pior de tudo".

Sobre a coincidência de nomes, explica que o seu é muito comum na Tunísia, os há centenas, mas também que há uma grande diferença entre ele e o autor do atentado, cujo sobrenome se compõe de duas partes: Lahouaiej Bouhlel.

"Quero poder voltar à França como o homem honrado que sou" e diz esperar que seu testemunho sirva para desmentir as mentiras que correram sobre sua pessoa, mas também "para pedir a todos os que utilizam as redes sociais que prestem mais atenção antes de propagar rumores".