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01/08/2000: Após 1ª vitória, Barrichello já fala em título

Barrichello comemora vitória erguido por Mika Hakkinen (E) e David Coulthard - REUTERS/Reinhard Krause
Barrichello comemora vitória erguido por Mika Hakkinen (E) e David Coulthard Imagem: REUTERS/Reinhard Krause

Ricardo Grinbaum

Da Folha de S.Paulo

01/08/2000 01h00

Com a vitória no GP da Alemanha, a primeira de sua carreira, depois de sete anos e meio e 122 provas, o piloto da Ferrari Rubens Barrichello não só ""tirou um peso das costas" como se deu conta que está na disputa pelo título de campeão mundial da F-1.

"Estou apenas a dez pontos do (Michael) Schumacher. É uma diferença pequena, mas prefiro não pensar nisso. Quero pensar numa corrida de cada vez", disse ontem o piloto brasileiro, ainda vibrando com o resultado em Hockenheim. Barrichello não trabalhou somente por si no circuito alemão. Chegou na frente das duas McLaren, pela ordem, do finlandês Mika Hakkinen e do escocês David Coulthard, impedindo que seu parceiro, Schumacher, perdesse a liderança do Mundial.

Completadas 11 etapas, o alemão tem 56 pontos, dois a mais que Hakkinen e Coulthard, empatados no segundo posto. Barrichello soma 46.

O brasileiro, que mora em Cambridge, no Reino Unido, já está em Fiorano, na Itália, treinando com a equipe da Ferrari. Ontem, seu telefone tocou sem parar. Eram parentes, amigos, pilotos e empresários da F-1 querendo cumprimentá-lo pela vitória.

"Até o Jack Stewart (ex-proprietário da Stewart, agora Jaguar, pela qual atuou por três anos) e a mulher de Mika Hakkinen (Erja) ligaram para cumprimentar. Os amigos até dizem que foi melhor ter demorado a ganhar porque com a grande batalha veio o dobro da satisfação", disse Barrichello.

"Tirei um enorme peso das costas", comentou depois. O piloto da Ferrari ficou satisfeito com a cobertura dada pela imprensa europeia ao seu desempenho no domingo, mas diz que o mais importante foi sentir a reação do público brasileiro.

"O que me deixou contente mesmo foi ver os brasileiros, porque só no Brasil sabem o quanto sofri e tudo o que aconteceu comigo", disse Barrichello.

"A pressão que eu senti nunca quis falar com ninguém. Mas como ia deixar de me afetar?", perguntou o piloto. Barrichello acha que agora vão diminuir as cobranças por vitórias e as comparações com seu ídolo, Ayrton Senna, a quem dedicou a vitória no circuito alemão. "Mas é lógico que sempre tem gente com maldade para ficar dizendo que agora tenho que provar que sou bom mesmo."

30/7/00: Barichello, da Ferrari, chora no pódio após vencer o GP da Alemanha - AFP PHOTO/PATRICK HERTZOG - AFP PHOTO/PATRICK HERTZOG
Barrichello chora no pódio após vencer o GP da Alemanha
Imagem: AFP PHOTO/PATRICK HERTZOG
Ainda emocionado pelo resultado de domingo, quando largou em 17º lugar e chegou sete segundos à frente do segundo colocado, Barrichello atribuiu, em parte, sua vitória à fé. Há 17 anos, um piloto não vencia largando numa posição tão remota. O último fora o britânico John Watson, da McLaren, em 1983, que triunfou no GP dos EUA-Oeste, saindo em 22º.

"Agradeço a Deus e ao Ayrton (Senna) pela vitória e por ter conseguido sobreviver a tanta coisa ruim", disse. "Rezo sempre, em particular, é um hábito.

" Nunca em 50 anos de F-1 um piloto havia esperado tanto até alcançar a vitória -a tumultuada corrida em Hockenheim foi a 123ª de Barrichello. Superou Hakkinen, que só foi ganhar na 96ª corrida de sua carreira, em 1997.

E venceu de forma primorosa.

Logo na primeira volta, o brasileiro ultrapassou cinco pilotos. Na segunda, foram mais duas ultrapassagens. Em ritmo forte, já era terceiro colocado na 15ª volta. Foi quando um manifestante invadiu a pista, obrigando a entrada do safety car. Isso beneficiou o brasileiro, que aproveitou para fazer o reabastecimento e troca de pneus.

Na 33ª volta, começou a chover no circuito. Enquanto seus concorrentes entraram nos boxes para colocar pneus de chuvas, o ferrarista permaneceu na pista. Duas voltas depois, assumiu a liderança, que não mais deixou. No braço, segurou-se na pista e foi elogiado por toda a sua equipe. Ontem, Barrichello ficou especialmente satisfeito com o comentário do jornal britânico "Guardian", apontando-o como o piloto mais popular da F-1. "Eu não tenho inimigos."

Ele disse que o abraço que ganhou de Schumacher ao fim da prova foi um gesto sincero de reconhecimento pelo seu trabalho. "Não foi um gesto falso. Ele sabia o quanto eu queria aquilo desesperadamente", disse.


Reportagem republicada para fazer parte do especial de 20 anos do UOL. Veja a publicação original aqui.