09/11/2009: Após repercussão negativa, Uniban recua e não expulsa aluna
Em nota divulgada na tarde desta segunda-feira (9), a assessoria de imprensa da Uniban (Universidade Bandeirante) informa que, após analisar o caso, o reitor da universidade revogou a decisão do Conselho Universitário, que resolveu no último dia 6 expulsar a aluna do curso de turismo Geisy Arruda, acusada de vestir trajes inapropriados e a se insinuar para colegas no dia 22 de outubro, no campus de São Bernardo do Campo, quando foi hostilizada por outros alunos, que filmaram o episódio e o publicaram na internet.
A nota divulgada não traz mais detalhes do recuo, feito logo após a repercussão negativa da notícia de que a estudante não poderia mais continuar seus estudos na entidade de ensino superior.
Segundo notificação anterior da Uniban, publicada em jornais de São Paulo no domingo (8), a decisão de expulsar Geisy foi tomada após uma sindicância interna, que atribuiu a culpa pelo tumulto às atitudes da estudante, que teria desfilado pelos corredores, tirado fotos e passeado pelas salas de aula com um vestido provocante.
O Ministério da Educação (MEC), que divulgou hoje um documento onde exigia que a universidade se manifestasse sobre a expulsão em dez dias, disse que ainda não recebeu oficialmente nenhuma informação sobre o recuo da Uniban.
Leia a íntegra do anúncio da universidade:
O reitor da Universidade Bandeirante - UNIBAN BRASIL, de acordo com o artigo 17, inciso IX e XI, de seu Regimento Interno, revoga a decisão do Conselho Universitário (CONSU) proferida no último dia 6 sobre o episódio do dia 22 de outubro, em seu campus em São Bernardo do Campo. Com isso, o reitor dará melhor encaminhamento à decisão.
Estudantes protestam
Durante uma manifestação de apoio a Geisy organizado por entidades na porta da universidade nesta noite, os estudantes protestaram ao receber a notícia de que a expulsão fora revogada.
"Ela vai voltar, mas não vai aguentar, o pessoal vai continuar hostilizando", disse o aluno do curso de engenharia mecatrônica Pedro Fantuzzi. Seu colega Carlos Eduardo Silva completou: "Houve exagero das duas partes, mas ela está saindo como vítima. Ela não é vítima, é reincidente".
Advogado ainda não foi notificado Ainda nesta segunda-feira, antes da notícia da desistência da Uniban em expulsar Geisy, o advogado da estudante, Nehemias Melo, convocou uma coletiva em que avisou que deveria ir à Justiça para que a cliente tivesse o direito de terminar o semestre letivo na Uniban.
Na ocasião, o advogado afirmou que deveria ir ao Fórum de São Bernado do Campo para entrar com uma medida cautelar para que Geisy possa retornar à faculdade. Ele também alegou que deveria pedir a retirada os vídeos postados na internet com as imagens do dia em que ela foi agredida.
Segundo o advogado, um inquérito foi aberto na delegacia da Mulher em São Bernardo do Campo para apurar o caso. Ainda nesta segunda-feira, Nehemias foi à Assembleia Legislativa pedir aos deputados que façam um requerimento para intimar o reitor da Uniban a dar explicações sobre o caso. "Nós não imaginávamos que eles fossem capazes de adotar uma medida como essa [expulsar a jovem]. Isso nos deixou perplexos", afirmou.
Geisy também participou da coletiva. Passou boa parte do tempo de cabeça baixa e chegou a se emocionar em alguns momentos. Ela respondeu a todas as perguntas feitas pelos jornalistas e disse que a única coisa que ela quer é terminar o ano letivo.
Procurado para comentar a nova decisão da Uniban, Nehemias afirmou nesta tarde que ainda não foi notificado sobre a questão e que, portanto, segue com os encaminhamentos previstos anteriormente.
Inquéritos
Antes da Uniban recuar em sua decisão, o Ministério Público Federal em São Paulo divulgou que instaurou um inquérito civil público para apurar as circunstâncias da sindicância que resultou na expulsão de Geisy. T
ambém a Polícia Civil abriu na tarde desta segunda-feira um inquérito para investigar as ofensas sofridas pela estudante do curso de turismo.
O caso teve grande repercussão, inclusive internacional, recebendo destaque nos jornais "The New York Times" e "The Guardian".
Reportagem republicada para fazer parte do especial de 20 anos do UOL. Veja a publicação original aqui.
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