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Em busca de novas políticas, mexicanos já estão de olho nas eleições de 2012

Jorge Ramos

09/03/2011 00h03

O presidente do México, Felipe Calderón, já está de saída. Faltam-lhe 21 meses para terminar seu mandato, mas a disputa –de candidatos e de ideias– para substituí-lo já começou.

Diversos candidatos dos principais partidos políticos do México já revelaram suas aspirações presidenciais, e o que Calderón diz e faz a cada dia é menos relevante. O que mais importa para os mexicanos é o que disser àquele que será o próximo presidente, porque há uma enorme inconformidade com a condução do país.

Uma pesquisa recente realizada pela Univision e a firma de pesquisas Parametria revelou que 56% dos mexicanos acreditam que seu país está "no caminho errado". Isso é produto das políticas falidas do governo em sua luta contra os cartéis da droga –e a violência, a falta de segurança e abusos a que pessoas inocentes são submetidas em consequência dela.

Desde que Calderón ordenou que as Forças Armadas do México colaborassem no combate aos cartéis, em 2007, esses abusos aumentaram. A Human Rights Watch diz que desde então recebeu milhares de relatos de violações dos direitos humanos por parte dos militares. Entre eles estão acusações de assassinatos, sequestros, torturas e violações. Não é surpreendente, então, que a paciência da população esteja se esgotando; as pessoas estão cansadas de esperar para ver os resultados das políticas antidrogas de Calderón.

Segundo a pesquisa, 50% dos cidadãos mexicanos acreditam que "a corrupção no México" é responsável pela crescente influência dos cartéis da droga, e não "os consumidores americanos de drogas" (21%) aos quais Calderón frequentemente atribui a responsabilidade.

Obviamente, o próximo presidente mexicano terá de mudar o rumo.

O futuro presidente do México terá de mudar de estratégia.

A de agora –que deixou mais de 34 mil mortos em quatro anos– é um fracasso para muitos mexicanos. É preciso negociar com os narcos? Segundo a pesquisa, 46% da população prefere "que não haja violência no país, mesmo que exista um pouco de narcotráfico".

De fato, um conhecido membro do Partido Revolucionário Institucional, o PRI –cujo nome não posso mencionar porque falamos sob a condição de anonimato–, me disse que faz tempo que não havia motivos para se derramar sangue de mexicanos, porque a droga ia para consumidores americanos. Verdade ou não, muitos mexicanos têm a percepção de que o PRI negociou com os narcotraficantes –ou fez vista grossa– quando controlava a presidência durante a maior parte do século 20.

Em entrevistas, o senador Manlio Fabio Beltrones e o governador do Estado do México, Enrique Peña Nieto, membros do PRI, me disseram que é absolutamente falso que presidentes tenham negociado com os cartéis.

Essa versão, segundo eles, é uma estratégia de seus adversários políticos para diminuir as probabilidades de o PRI recuperar a presidência no próximo ano.

Mesmo assim, se as eleições fossem hoje, a pesquisa indica que o partido vencedor seria o PRI, com 49%, seguido do Partido Ação Nacional (28%) e do Partido da Revolução Democrática (16%). O PRI ganharia (55%) mesmo que o PAN e o PRD forjassem uma aliança eleitoral (45%).

É muito provável que o ressurgimento do PRI se deva a vários fatores, apesar de sua história de autoritarismo e censura. Talvez os mexicanos simplesmente desejem um governo mais firme, ou talvez um partido que eles considerem que sabe negociar. Mas o PRI pode ter ressurgido devido ao desgaste natural do PAN depois de dois mandatos de seis anos e das disputas internas do esquerdista PRD.

Acima de tudo, os mexicanos querem um presidente moderno com novas ideias. O país está sendo revolucionado pelas redes sociais. Entre os mexicanos que têm acesso à internet, 64% utilizaram Twitter, Facebook, MySpace ou algum outro meio de contato social cibernético. Não é de estranhar, portanto, que 57% dos pesquisados esperem que o novo morador de Los Pinos se comunique diretamente com seus "seguidores" e "amigos" digitais. Esse é um costume que foi iniciado pelo atual mandatário, que "tuiteia" regularmente através de @FelipeCalderon. Além disso, o México quer um presidente que seja aberto e não tenha nada a esconder.

Dito isto, me surpreendeu a soltura com que o presidente Calderón se comportou durante a conferência de imprensa na Casa Branca em 3 de março, durante a qual falou com o presidente americano, Barack Obama, sobre a violência gerada no México pelo narcotráfico, e uniu-se a ele em sua promessa de maior cooperação entre os dois países.

Até pareceu que desfrutava da ocasião, o que é irônico porque Calderón não dá entrevistas coletivas assim no México. (Ele dá entrevistas coletivas no exterior, mas não em seu próprio país –um duplo critério. É injusto e totalmente inaceitável.) Sei que falta muito para as eleições presidenciais no México, em 1º de julho de 2012, mas a violência e o mal-estar econômico de muitos mexicanos anteciparam os tempos políticos. Com Calderón disposto a arrastar o país para um lugar ao qual ninguém quer ir, há momentos como este em que os seis anos do período presidencial parecem longos demais.

Que tal só cinco anos para o próximo presidente?