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O senador que não queria se calar

O senador republicano Ted Cruz é um dos principais nomes do movimento conservador "Tea Party" - Jacquelyn Martin/AP
O senador republicano Ted Cruz é um dos principais nomes do movimento conservador "Tea Party" Imagem: Jacquelyn Martin/AP

Jorge Ramos

Em Washington (EUA)

10/11/2013 00h01

O senador Ted Cruz estava muito tranquilo, sentado em um sofá em seu escritório, com a perna cruzada, mostrando uma de suas muito texanas botas pretas. Parecia que nada o preocupava. Entretanto, fora dali, as palavras e os atos do senador do Texas estavam causando uma tormenta política.

Apesar de a recente paralisação do governo ter provocado um grave dano à imagem do Partido Republicano - as pesquisas o culpam principalmente pelos 16 dias de crise financeira -, o senador Cruz continua atuando como se tivesse ganhado. E talvez seja verdade.

Todos nos EUA já sabem quem ele é, arrecadou milhares de dólares de eleitores muito conservadores e não é segredo que está preparando uma possível campanha pela presidência para 2016. Tudo com base em seu ataque à lei de saúde pública conhecida como Obamacare e a sua negativa a apoiar uma rota para a cidadania para os imigrantes sem documentos.

Cruz argumentou que as disposições do Obamacare estão elevando os prêmios dos seguros para milhões de trabalhadores, ao mesmo tempo que causaram a perda de empregos para outros ou os empurraram para trabalhos de meio período. Acrescentou também que muitos americanos estão perdendo o seguro que seus empregadores lhes ofereciam antes que esse programa entrasse em vigor. (De acordo com a nova lei, as apólices de seguros que oferecem uma cobertura inadequada devem ser melhoradas ou trocadas. Foram enviadas cartas aos detentores de apólices para notificá-los dessa mudança.)

"O sistema de saúde Obamacare é o principal responsável pela perda de empregos neste país", disse Cruz.

O senador confirmou que está coberto pelo seguro médico de sua mulher no Goldman Sachs, um dos melhores do país e cujo custo é calculado em cerca de US$ 20 mil por ano. Milhões de pessoas não têm seguro médico nos EUA.

Mas a prioridade para ele é criar empregos. Ponto.

O senador também tem uma clara política migratória. Considera-se um defensor da reforma migratória. "Não há ninguém que defenda a imigração legal mais que eu no Senado", disse-me Cruz. Ele é a favor de reforçar a segurança na fronteira e aumentar para mais de 1,35 milhão o número de vistos para trabalhadores estrangeiros por ano, eliminando os limites que existem por país.

Mas eu lhe lembrei que muitos hispânicos o consideram um latino "anti-imigrante" porque se opõe a um caminho para a cidadania para os 11 milhões de sem documentos nos EUA, incluindo os estudantes conhecidos como "sonhadores".

Por que não dar a esses imigrantes as mesmas oportunidades que teve seu pai, Rafael, um imigrante que veio de Cuba? "Meu pai veio legalmente, assim como você e milhões de imigrantes", respondeu-me esse advogado de Harvard. "As leis importam, e é muito importante que sejam seguidas."

É esse tipo de ideia que fez de Ted Cruz um ídolo do Tea Party e dos grupos mais conservadores dos EUA. Alguns o consideram um possível candidato presidencial. Mas há um pequeno problema: Ted Cruz nasceu no Canadá, e muitos constitucionalistas acreditam que por isso não pode aspirar à Casa Branca.

"Nasci em Calgary (Canadá), meu pai é cubano e minha mãe americana", explicou. "Minha mãe era cidadã dos EUA por nascimento, por isso, pelas leis dos EUA, eu sou um cidadão americano. Esses são os dados." Já renunciou a sua cidadania canadense?, perguntei-lhe. "Estou no processo de fazê-lo", ele disse, "mas ainda não terminou."

Não quis me dizer se pensava em se lançar à presidência. Como bom político, explicou que por enquanto queria se concentrar em seu trabalho como senador. Mas a pergunta é por que Ted Cruz iria renunciar à sua cidadania canadense senão para se lançar à presidência dos EUA?

De qualquer forma, o político que falou no Senado durante mais de 20 horas para tentar (sem êxito) que não entrasse em vigor a nova lei de saúde, continua falando. E não pensa em se calar. Seu cálculo político é claro: mesmo perdendo, ganha. Por isso o vi tão tranquilo, sem pressa, sentado em seu escritório.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves