Para evitar novo golpe, PF precisa expor financiadores de fuga bolsonarista
Bolsonaristas que se escafederam para Argentina e Uruguai a fim de não pagarem por seus crimes nos atos golpistas de 8 de janeiro tiveram suas fugas bancadas por terceiros. Gente com muito cascalho no bolso. A informação trazida por reportagem publicada, neste domingo (7), no UOL, demanda resposta urgente da Polícia Federal:
Quem são? Onde vivem? O que fazem esses financiadores dos fujões? Eles bancam as fugas por ideologia, só para atacar o Estado democrático de direito, ou atendem a um pedido de políticos e/ou de militares?
Não se trata de uma ajudinha a injustiçados, mas de cumplicidade com criminosos que estão em dívida com a Justiça e a sociedade. Do ponto de vista da lei é o mesmo que dar guarida a ladrões de carros, traficantes de drogas e estelionatários. O que mostra que, para muita gente, a história de "bandido bom é bandido morto" só funciona para preto e pobre.
A reportagem do UOL ouviu o advogado Mariel Marra, que defende condenados e réus pelos atos golpistas. Ele afirmou que pessoas no Brasil pagaram ônibus de foragidos para o exterior, mas não soube identificar quem seriam os financiadores. "Existe sim um grupo forte financeiramente por trás que está bancando essas fugas."
Isso foi corroborado por Fátima Aparecida Pleti, uma das condenadas pelos atos golpistas, que quebrou sua tornozeleira eletrônica e fugiu para a Argentina. Desde então, tem oferecido ajuda para "travessia com segurança" de processados e condenados.
Ela contou ao UOL que permaneceu dois dias em um albergue em Buenos Aires, com a estadia paga. "Eles não deixaram eu pagar minha hospedagem. Eu insisti para pagar. Não me deixaram", disse. Outros fugitivos também ganharam hospedagem gratuita. De quem? Seguir o dinheiro nunca foi tão importante.
A condenação e prisão daqueles que executaram os atos golpistas é importante, mas vale lembrar que uma das linhas de investigação da Polícia Federal é sobre os empresários que financiaram toda essa zorra. E pior do que bancar ônibus para levar golpistas para tentarem por abaixo o Estado democrático direito em 8 de janeiro é bancar a fuga dos que já foram condenados por isso.
Da revelação das mensagens bizarras de um grupo de WhatsApp de ricos empresários brasileiros que incentivavam um golpe de estado de Bolsonaro até a vaquinha via PIX de fazendeiros do Sul do Pará para financiar os acampamentos e atos golpistas, uma parte do poder econômico insuflou, apoiou e financiou um golpe de estado.
Para quê? Manter um governo que faz vistas grossas a quem atropela leis e normas ambientais, fundiárias e trabalhistas e tenta mudar as mesmas leis e normas não tem preço. E, melhor ainda, um governo que achava cada um tem que saber o seu lugar, tal como o ministro que reclamou que empregada doméstica não tinha que viajar para a Disney.
O que as informação trazida pela reportagem do UOL indica é que esse apoio golpista não terminou, e isso é preocupante.
Ao financiar a fuga daqueles que participaram da tentativa de golpe bolsonarista, essas pessoas afrontam a Justiça. Transportam, dessa forma, para o campo do ataque ao Estado democrático de direito o que muitos deles já fazem em áreas como o meio ambiente e o trabalho: leis que consideram injustas devem ser desobedecidas, atacadas, destruídas.
Dessa forma, colocando em xeque as instituições, asfaltam o próximo golpe de Estado. O financiamento da fuga, não se enganem, não é apenas capítulo de uma tragédia que passou, mas uma prévia da tragédia que pode vir.