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A intervenção militar francesa em Mali

14/01/2013 06h00

O anúncio da intervenção militar da França em Mali, comunicado diretamente na televisão pelo presidente Hollande, supreendeu boa parte da opinião pública francesa e européia. Nas últimas semanas, o noticiário estava sendo pautado pela retirada das tropas francesas presentes no Afeganistão desde 2001. Dois mil soldados foram repatriados em 2012 e outros mil e quinhentos chegarão na França nas próximas semanas.

Embora o engajamento militar em Mali seja limitado e praticamente restrito a ataques aéreos, a operação trouxe preocupação na França na medida em que ocorre numa área mais ligada aos interesses franceses. Sem saída para o mar e colônia francesa até 1960, o Mali tem fronteiras com Senegal e Costa do Marfim, também ex-colônias de Paris, cuja população conta com densas comunidades imigradas na França. Paralelamente, firmas e funcionários franceses com suas famílias residem nesses países e, mais geralmente, nos oito países francófonos da região que formavam, até 1958, a África Ocidental Francesa.

Além dos países africanos vizinhos, a ONU, a França e os Estados Unidos, monitoram a situação do Mali há vários meses. Como muitos países africanos, o Mali herdou de seus colonizadores europeus um território com fronteiras tronchas --verdadeiras bombas de retardamento--. que dificultam a formação de um sentimento nacional. Composto por 90% de muçulmanos, o país sempre conheceu conflitos entre os tuaregues --nômades do norte saariano do território--, e as comunidades mandês (Mandingas, Soninquês, Bambara), do sul e do oeste, zona de savana irrigada pelo rio Níger. Área onde vive metade dos 15 milhões de malineses e está situada a capital, Bamaco.

No começo de 2012, refugiados malineses na Líbia, associados a um movimento tuaregue e a jiahdistas suspeitos de ligação com a Al-Qaeda do Magrebe, entraram em combate com o exército malinês. Ocupando Tombuctu, o grande centro da margem do rio Níger, os radicais islamistas, que alegavam combater a idolatria, destruíram tombas tradicionais muçulmanas de grande valor histórico e religioso. Centenas de milhares de refugiados deslocaram-se para o Sul e para os países vizinhos.

Em dezembro de 2012, o Conselho de Segurança da ONU autorizou a formação de uma força de intervenção, sob comando africano, para pacificar Mali. Porém, no começo da semana passada, a tomada da cidade de Konna -, vizinha à base mais ao norte do exército malinês-, configurou o prelúdio de uma ofensiva rebelde em direção a Bamaco.

A pedido do presidente malinês, Dioncunda Traoré, e com o apoio do Conselho de Segurança, a França, a partir de suas bases no Chade, lançou sua aviação e desembarcou um pequeno contingente militar na zona dos combates. Hollande obteve um amplo apoio do governo e dos partidos de oposição franceses para prosseguir a intervenção em Mali. No meio tempo, os aliados ocidentais, como os Estados Unidos e a Inglaterra, prometeram um apoio logístico à França, mas excluíram o envio de tropas. No curto prazo, só Togo e Benim comprometeram-se a mandar soldados para Mali.