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Mitt Romney não é o centro das atenções na Convenção Republicana

Candidato republicano à presidência, Mitt Romney, participa de campanha em fazenda em Michigan - Evan Vucci/AP
Candidato republicano à presidência, Mitt Romney, participa de campanha em fazenda em Michigan Imagem: Evan Vucci/AP

28/08/2012 00h01

Haverá duas grandes estrelas na Convenção Nacional Republicana, e nenhuma delas será Mitt Romney. Uma, é claro, será Paul Ryan, colega de chapa de Romney. A outra será Chris Christie, governador de Nova Jersey, que fará o discurso central da convenção. Apesar da aparência muito diferente dos dois, no fundo são irmãos.

Como assim? Os dois cultivaram cuidadosamente uma imagem pública de durões, de governantes fiscalmente responsáveis, dispostos a fazer duras escolhas. E as duas imagens públicas são completamente falsas.

Escrevi muito ultimamente desconstruindo o mito de Ryan, então hoje me volto para Christie.

Quando Christie assumiu o Estado, em janeiro de 2010, Nova Jersey – como muitos outros Estados - estava em terrível situação fiscal, graças aos efeitos da economia em depressão. Diferentemente do governo federal, os Estados são constitucionalmente obrigados a cumprir orçamentos anuais mais ou menos equilibrados (apesar de haver espaço para manobras de contabilidade). Então, como outros governadores, Christie foi forçado a apertar o cinto.

Até aí, tudo normal, apesar de Christie ter feito muito barulho sobre suas duras medidas orçamentárias, enquanto outros governadores fizeram o mesmo. Ele tampouco evitou as manobras de orçamento: como os governadores anteriores de Nova Jersey, Christie fechou rombos no orçamento adiando contribuições obrigatórias a fundos de pensão do Estado, que é uma forma de pegar emprestado, e ele também procurou maquiar déficits desviando verbas de fundos como o Transportation Trust Fund.

Se há uma característica única ao aperto de cintos da Nova Jersey no mandato de Christie, é sua natureza curiosamente seletiva. O governador se dispôs a cancelar um projeto desesperadamente necessário de construção de outro túnel ferroviário ligando o Estado a Manhattan, mas investiu fundos do Estado em um megashopping em Meadowlands e um cassino em Atlantic City.

Além disso, apesar de grande parte de seu programa envolver corte de gastos, ele efetivamente aumentou a carga de impostos sobre trabalhadores de baixa renda e proprietários de imóveis, cortando créditos fiscais. Ao mesmo tempo, ele vetou uma sobretaxa temporária sobre milionários e se recusou a aumentar o imposto estadual sobre a gasolina, que é o terceiro mais baixo nos EUA e muito abaixo dos índices nos Estados vizinhos. Aparentemente, somente algumas pessoas devem fazer os tais sacrifícios.

Mas como eu disse, Christie fala muito (e muito alto) sobre sua disposição em adotar duras medidas, e se vangloria de cortar os gastos – alegações, aliás, que a PolitiFact inequivocamente declarou falsas. E no último ano ele vem alardeando o resultado de suas duras escolhas: o “retorno de Jersey”, a suposta recuperação da economia de seu Estado.

Estranhamente, Christie disse aos repórteres que não usará a expressão “o retorno de Jersey” em seu discurso na convenção. E não é difícil ver a razão: a tal recuperação, derrapou. De fato, os mais recentes números mostram que seu Estado tem o quarto maior desemprego do país. Impressionantemente, o índice de desemprego de Nova Jersey, de 9,8%, hoje é significativamente superior ao de Michigan, que tanto sofreu e teve uma verdadeira recuperação graças ao pacote de resgate da indústria automobilística - ao qual o Partido Republicano se opôs.

De fato, os governadores não têm muito impacto no desempenho econômico de curto prazo, então a economia derrapante de Nova Jersey não é realmente culpa de Christie. Ainda assim, foi ele quem escolheu tornar isso uma questão. E mais importante, ele ainda está promovendo as políticas que a recuperação do Estado deveria justificar.

Entenda, todo esse alarde sobre a recuperação de Jersey não era apenas uma questão de discurso (apesar de ser também). De fato, deveria demonstrar que os bons tempos voltaram, que a arrecadação está crescendo e é hora para o que Christie realmente quer: um grande corte no imposto de renda.

Mesmo que a recuperação fosse verdadeira, o corte seria uma ideia altamente questionável. Sob qualquer ponto de vista, Nova Jersey ainda tem um déficit estrutural significativo, ou seja, um déficit que persistirá mesmo quando a economia se recuperar. Além disso, a proposta de corte de impostos de Christie faria muito pouco para a classe média, mas daria grande alívio aos ricos.

Mas de qualquer forma, os bons tempos não voltaram, de forma alguma, e nem tampouco houve a explosão em receita que serviria para justificar o tal corte de impostos. E então, o muito responsável Christie aceitou a ideia de pelo menos adiar seu plano de corte de impostos até que os ganhos em arrecadação de fato se materializem? Claro que não.

O que me traz de volta à comparação com Paul Ryan. Ryan, como as pessoas parecem estar se dando conta, está no centro de uma fraude fiscal. Ele se vangloria de seu compromisso com a redução do déficit, mas de fato dá uma prioridade muito mais alta aos cortes de impostos para os ricos. Christie talvez tenha um estilo diferente, mas está fazendo o mesmo jogo.
Em outras palavras, é o novo fanfarrão, igual ao antigo fanfarrão. Oremos para não sermos enganados novamente.