Topo

Populismo republicano não passa de ilusão e farsa

Paul Krugman

13/07/2013 00h01

Você já ouviu falar de "populismo libertário"? Se não, você ouvirá. Ele certamente será apregoado pelos meios de comunicação e páginas de opinião pelas mesmas pessoas que asseguravam, poucos anos atrás, que o deputado Paul Ryan era um exemplo de conservador sério e honesto. Então permita-me fazer um anúncio de serviço público útil: é uma farsa.

Estes são tempos difíceis para os membros da "intelligentsia" conservadora –aqueles integrantes de centros de estudos e autores de páginas de opinião que sonham com o Partido Republicano se tornando novamente "o partido das ideias". (Se algum dia ele foi um partido assim é outra história.)

Por algum tempo, eles acharam ter encontrado seu herói entendido na pessoa de Ryan. Mas o famoso Plano Ryan revelou ser apenas um truque rudimentar de fumaça e espelhos, e suspeito que até mesmo os conservadores percebem de modo privado que seu autor é mais um mascate que um visionário. Então qual é a próxima grande ideia?

Entra o populismo libertário. A ideia aqui é que existe um pool de eleitores brancos de classe trabalhadora descontentes, que decidiram não votar no ano passado, mas que podem ser mobilizados de novo com o programa econômico conservador certo –e que a mobilização deles pode restaurar a boa fortuna eleitoral do Partido Republicano.

É possível ver por que muitos na direita consideram essa ideia atraente. Ela sugere que os republicanos podem reconquistar sua antiga glória sem precisar mudar quase nada –sem necessidade de buscar os eleitores não brancos, sem necessidade de reconsiderar sua ideologia econômica. Também é possível pensar que isso soa bom demais para ser verdade –e com razão. A noção do populismo libertário é uma ilusão em pelo menos dois níveis.

Primeiro, a noção de que basta uma mobilização branca se apoia principalmente nas alegações do analista político Sean Trende de que Mitt Romney não venceu no ano passado devido em grande parte aos "eleitores brancos ausentes" –milhões de "brancos pobres, rurais, nortistas", que não compareceram às urnas. Os conservadores contrários a qualquer grande mudança de posição do Partido Republicano –e, em particular, os oponentes da reforma da imigração– rapidamente se apropriaram da análise de Trende como prova de que nenhuma mudança fundamental é necessária, apenas uma mensagem melhor.

Mas cientistas políticos sérios como Alan Abramowitz e Ruy Teixeira já analisaram e concluíram que a história do eleitor branco perdido é um mito. Sim, o comparecimento entre os eleitores brancos foi menor em 2012 do que em 2008; mas o mesmo aconteceu entre os eleitores não brancos. A análise de Trende imagina basicamente um mundo no qual o comparecimento dos brancos seja o mesmo de 2008, mas o dos não brancos não, e é difícil ver o sentido disso.

Suponha, entretanto, que deixemos essa desmistificação de lado e que os republicanos possam se sair melhor se conseguirem inspirar mais entusiasmo entre os brancos mais pobres. O que o partido poderia oferecer que inspiraria esse entusiasmo?

Bem, até onde alguém pode dizer, a esta altura o populismo libertário –como ilustrado, por exemplo, pelos pronunciamentos de políticas do senador Rand Paul– consiste da defesa das mesmas velhas políticas, insistindo ao mesmo tempo que são muito boas para a classe trabalhadora. Mas não são. De qualquer modo, é difícil imaginar que proclamar, de novo, as virtudes de um retorno do padrão ouro para a moeda e das baixas taxas marginais de imposto farão as pessoas mudarem de ideia.

Além disso, se alguém olhar para o que defende na prática o Partido Republicano moderno, ele é claramente hostil aos interesses dos brancos pobres que o partido supostamente pode reconquistar. Nem um imposto único e nem um retorno ao padrão ouro estão de fato na mesa; mas cortes no seguro-desemprego, nos cupons para alimentos e no Medicaid (o seguro-saúde para pessoas de baixa renda) estão. (Até onde existe alguma substância no plano de Ryan, ele envolveria principalmente cortes brutais na ajuda aos pobres.) E apesar de muitos americanos não brancos dependerem desses programas de ajuda, muitos brancos pobres também dependem –os mesmos eleitores que o populismo libertário supostamente visa.

Especificamente, mais de 60% das pessoas que se beneficiam do seguro-desemprego são brancas. Pouco menos da metade dos beneficiários dos cupons de alimentos é branca, mas nos Estados sem inclinação partidária definida a proporção é muito maior. Por exemplo, em Ohio, 65% dos lares que recebem cupons de alimentos são brancos. Nacionalmente, 42% das pessoas com direito ao Medicaid são brancas não latinas, mas, em Ohio, o número é de 61%.

Logo, quando os republicanos planejam cortes profundos nos benefícios para os desempregados, bloqueiam a ampliação do Medicaid e buscam cortes nos recursos para os cupons de alimentos –e eles fizeram de fato tudo isso– eles podem prejudicar desproporcionalmente Aquelas Pessoas; mas também estão infligindo muito mal às famílias brancas do Norte que supostamente mobilizarão.

O que nos traz de volta ao motivo do populismo libertário ser, como eu disse, uma farsa. É possível argumentar que a destruição da rede de segurança social é um ato libertário –talvez liberdade seja apenas outra palavra para não ter nada a perder. Mas populista é que não é.