Topo

Partido Republicano é visto como inimigo dos pobres nos EUA

Paul Krugman

14/01/2014 00h01

De repente virou normal, e até obrigatório, os políticos com ambições nacionais falarem em ajudar os pobres. Isso é fácil para os democratas, que podem lembrar que são o partido de Franklin Roosevelt e Lyndon Johnson. É muito mais difícil para os republicanos, que estão tendo dificuldades para se livrar de sua reputação de robin-hoodismo inverso - de ser o partido que tira dos pobres para dar aos ricos.

E a razão pela qual essa reputação é tão difícil de eliminar é que ela é justificada. Não é tanto exagero dizer que hoje os republicanos estão fazendo o possível para prejudicar os pobres, e eles teriam causado um vasto dano adicional se tivessem ganhado a eleição de 2012. Além disso, a rigidez do PR em relação aos menos afortunados não é apenas uma questão de desprezo (embora faça parte dela); está profundamente enraizada na ideologia do partido, e é por isso que discursos recentes de republicanos importantes declarando que se importam com os pobres foram quase totalmente despidos de especificidades políticas.

Comecemos com o histórico republicano recente.

O mais importante avanço político atual nos EUA é o desdobramento da lei de acesso à saúde, conhecida como Obamacare. A maioria dos Estados controlados por republicanos, porém, se recusa a implementar uma parte vital da lei, a expansão do Medicaid, assim negando cobertura de saúde a quase 5 milhões de americanos de baixa renda. E o mais incrível é que eles se esforçam para bloquear a ajuda aos pobres apesar de que aprovar a ajuda não custaria quase nada; quase todos os custos da expansão do Medicaid seriam pagos por Washington.

Enquanto isso, esses Estados controlados por republicanos estão cortando os benefícios aos desempregados, o financiamento à educação e outros. Como eu disse, não é muito exagero dizer que o PR está prejudicando os pobres o máximo possível.

O que os republicanos teriam feito se tivessem ganhado a Casa Branca em 2012? Muito mais da mesma coisa. Lembre-se de que todo orçamento que os republicanos apresentaram desde que assumiram a presidência da Câmara em 2010 envolve cortes selvagens em Medicaid, cupons de alimentação e outros programas de combate à pobreza.

Mas os republicanos não podem mudar sua abordagem? A resposta, sinto dizer, é quase certamente não.

Em primeiro lugar, eles estão profundamente comprometidos com a visão de que as iniciativas para ajudar os pobres na verdade perpetuam a pobreza, ao reduzir os incentivos a trabalhar. E para ser justo essa opinião não está completamente errada.

É verdade que é um absurdo total quando aplicada ao seguro-desemprego. A ideia de que o desemprego está alto porque estamos "pagando às pessoas para não trabalhar" é uma falácia (não importa quão desesperados você deixe os desempregados, o desespero não cria empregos) envolvida em uma falsidade (muito poucas pessoas decidem continuar desempregadas e continuam recebendo benefícios).

Mas nossa sistema descoordenado de programas contra a pobreza, uma colcha de retalhos, tem o efeito de penalizar os esforços das famílias de baixa renda para melhorar sua posição: quanto mais elas ganham, menos benefícios podem receber. De fato, essas famílias enfrentam alíquotas de imposto de renda muito altas. Uma grande parcela, em alguns casos 80% ou mais, de cada dólar adicional que elas ganham cai nas garras do governo.

A pergunta é o que podemos fazer para reduzir essas altas taxas de impostos. Poderíamos simplesmente cortar os benefícios; isso reduziria o desincentivo a trabalhar, mas só intensificando o sofrimento dos pobres. E os pobres se tornariam menos produtivos, além de mais miseráveis; é difícil tirar vantagem de uma alíquota menor de imposto de renda quando se sofre desnutrição e se tem um atendimento de saúde inadequado.

De modo alternativo, poderíamos reduzir o ritmo de redução do benefício. Na verdade, uma das virtudes não apregoadas do Obamacare é que ele faz exatamente isso. Ou seja, não apenas melhora a vida dos pobres, como melhora seus incentivos, porque os subsídios que as famílias recebem para saúde diminuem progressivamente com o aumento da renda, em vez de simplesmente desaparecer para uma pessoa rica demais para receber o Medicaid. Mas melhorar os incentivos dessa maneira significa gastar mais, e não menos, com a rede de segurança, e os impostos sobre os ricos têm de aumentar para pagar por esse gastos. E é difícil imaginar algum republicano importante disposto a seguir esse caminho - ou sobreviver ao inevitável desafio caso o faça.

A questão é que um partido comprometido com o governo pequeno e baixos impostos para os ricos é, mais ou menos necessariamente, um partido comprometido com prejudicar os pobres, e não ajudá-los.

Isso mudará algum dia? Bem, os republicanos nem sempre foram assim. Na verdade, todos os nossos principais programas anti-pobreza -- Medicaid, cupons de alimentação, restituição de imposto de renda -- costumavam ter o apoio dos dois partidos. E talvez algum dia a moderação volte ao Partido Republicano.

Por enquanto, porém, os republicanos são, em um sentido profundo, inimigos dos americanos pobres. E isso continuará sendo verdade por mais que pessoas como Paul Ryan e Marco Rubio tentem nos convencer de que não.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves