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A louca economia climática

Paul Krugman

13/05/2014 00h01

Para qualquer lugar que você olhe hoje em dia, verá o marxismo em ascensão. Bem, OK, talvez não veja - mas os conservadores veem.

Se você chegar a mencionar a desigualdade de renda, será denunciado como a segunda vinda de Josef Stalin; Rick Santorum declarou que qualquer utilização da palavra “classe” é “linguagem marxista”. Aos olhos da direita, motivos sinistros espreitam em toda parte - por exemplo, George Will diz que o único motivo pelo qual os progressistas preferem os trens é seu objetivo de “diminuir o individualismo dos americanos para torná-los mais propensos ao coletivismo”.

Por isso, não é preciso dizer que o Obamacare, baseado em ideias originalmente desenvolvidas na Fundação Carnegie, é um esquema marxista - ora, exigir que as pessoas comprem um seguro é praticamente a mesma coisa que enviá-las para gulags.

E espere até que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) anuncie regras destinadas a reduzir o ritmo da mudança climática.

Até agora, a loucura climática da direita se concentrou principalmente em atacar a ciência. E tem sido um verdadeiro espetáculo: nesta altura, quase todos os conservadores de carteirinha endossam a opinião de que a mudança climática é uma gigantesca farsa, e milhares de trabalhos de pesquisa que mostram o planeta o aquecimento do planeta - 97% da literatura existente - são o produto de uma vasta conspiração internacional.

Mas enquanto o governo Obama avança para realmente fazer alguma coisa com base na ciência, a economia climática maluca ganhará vida própria.

Você já pode sentir um sabor do que vai acontecer nas opiniões dissidentes de uma recente decisão da Suprema Corte sobre a poluição das usinas energéticas.

A maioria dos juízes concordou que a EPA tem o direito de regulamentar a poluição aérea das usinas de energia movidas a carvão, que ultrapassam os limites estaduais. Mas o juiz Antonin Scalia não apenas discordou; ele sugeriu que a regra proposta pela EPA - que amarraria o tamanho das reduções de fumaça exigidas ao custo - refletia o conceito marxista de “cada um conforme sua capacidade”.

Levar o custo em consideração é marxista? Quem sabia disso?

Se você pode apenas imaginar o que acontecerá quando a EPA, instigada pela decisão da poluição, passar à regulamentação das emissões de gases do efeito estufa.

O que eu quero dizer com economia climática louca?

Primeiro, veremos qualquer esforço para limitar a poluição ser denunciado como um ato tirânico. A poluição nem sempre foi uma questão profundamente partidária: economistas no governo George W. Bush escreveram odes aos controles de poluição “baseados no mercado”, e em 2008 John McCain incluiu propostas para limitar os gases do efeito estufa em sua campanha presidencial.

Mas quando os democratas da Câmara realmente aprovaram uma lei de limitação de poluição e créditos (“cap-and-trade”) em 2009, ela foi atacada como... adivinhou, marxista. E hoje em dia, os republicanos vêm ao primeiro plano para se opor até às regulamentações mais obviamente necessárias, como o plano para reduzir a poluição que está matando a baía de Chesapeake.

Segundo, veremos alegações de que qualquer esforço para limitar as emissões terá o que o senador Marco Rubio já está chamando de “um impacto devastador para nossa economia”.

Por que isso é maluco? Normalmente, os conservadores elogiam a magia dos mercados e a adaptabilidade do setor privado, que supostamente é capaz de transcender com facilidade quaisquer restrições impostas por, digamos, oferta limitada de recursos naturais.

Mas assim que alguém propõe acrescentar alguns limites que reflitam as questões ambientais - como um limite das emissões de carbono -, essas corporações capazes de tudo supostamente perdem qualquer capacidade de enfrentar a mudança.

Agora, as regras que a EPA deverá impor não darão ao setor privado muita flexibilidade como ele teria tido para lidar com um limite de carbono em toda a economia ou um imposto sobre as emissões.

Mas os republicanos só podem culpar a si mesmos: sua oposição arrasadora a qualquer tipo de política climática deixou a ação executiva da Casa Branca como único caminho a seguir.

Além disso, enfocar a política climática nas usinas a carvão não é mau como primeiro passo. Essas usinas não são a única fonte de emissões de gases do efeito estufa, mas são uma grande parte do problema - e as melhores estimativas que temos do caminho a seguir sugerem que reduzir as emissões das usinas de energia será uma grande parte de qualquer solução.

E que tal o argumento de que a ação unilateral dos EUA não funcionará porque a China é o verdadeiro problema? É verdade que não somos mais o número 1 em gases do efeito estufa - mas ainda somos um forte número 2. Além disso, a ação dos EUA sobre o clima é um primeiro passo necessário em direção a um acordo internacional mais amplo, que certamente incluirá sanções aos países que não participarem.

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Por isso a tempestade de fogo que se aproxima sobre os novos regulamentos das usinas energéticas não será um debate genuíno - assim como não há um debate verdadeiro sobre a ciência climática.

Em vez disso, as ondas aéreas serão preenchidas por teorias da conspiração e afirmações malucas sobre custos, todas as quais deveriam ser ignoradas. A política climática pode finalmente estar chegando a algum lugar; não deixemos que a louca economia climática interrompa seu curso.