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Reduzindo o carbono

Paul Krugman

31/05/2014 00h04

Na semana que vem, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) deverá anunciar novas regras visando limitar o aquecimento global. Apesar de ainda não sabermos os detalhes, grupos antiambientais já estão prevendo vastos custos e desgraça econômica. Não acredite neles. Tudo o que sabemos sugere que podemos conseguir grandes reduções nas emissões dos gases do efeito estufa a um custo pequeno para a economia.

Basta perguntar à Câmara do Comércio dos Estados Unidos.

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OK, essa não era a mensagem que a Câmara do Comércio tentava passar no relatório que apresentou na quarta-feira. Ele claramente visava dar a impressão de que as novas regras da EPA provocariam o caos. Mas se você se concentrar no conteúdo do relatório, em vez de sua retórica, você descobrirá que apesar dos esforços da câmara para distorcer as coisas –como explicarei depois, o relatório quase certamente exagera o custo real da proteção climática– os números são notavelmente pequenos.

Especificamente, o relatório considera um programa de redução de carbono que provavelmente é consideravelmente mais ambicioso do que aquele que de fato veremos, e concluiu que entre agora e 2030, o programa custaria US$ 50,2 bilhões de dólares por ano. Isso supostamente deveria soar como grande coisa. Mas, se você souber algo sobre a economia americana, soa como o dr. Evil dizendo "um milhão de dólares". Atualmente, isso não é muito dinheiro.

Lembre-se, atualmente temos uma economia de US$ 17 trilhões, e vai crescer com o passar do tempo. Logo, o que a Câmara do Comércio está de fato dizendo é que podemos dar passos dramáticos a respeito do clima –passos que transformariam negociações internacionais, preparando o terreno para uma ação global– enquanto reduzimos nossas rendas em apenas um quinto de ponto percentual. Isso é barato!
Por outro lado, considere a estimativa da câmara de custos por lar: US$ 200 por ano. Como os lares americanos têm uma renda média de mais de US$ 70 mil por ano, e vai crescer com o passar do tempo, nós de novo estamos olhando para custos que representam não mais que uma pequena fração de 1%.

Uma comparação mais útil: o Pentágono alertou que o aquecimento global e suas consequências representam uma ameaça significativa à segurança nacional. (Os republicanos na Câmara responderam com uma emenda legislativa que proibiria os militares de sequer pensar no assunto.)

Atualmente, nós gastamos US$ 600 bilhões por ano em defesa. É realmente extravagante gastar outros 8% desse orçamento para reduzir uma ameaça séria?

E tudo isso se baseia nos próprios números dos antiambientalistas. Os verdadeiros custos quase certamente seriam menores, por três motivos.

Primeiro, o estudo da Câmara de Comércio presume que o crescimento econômico, e o crescimento associado de emissões, será dentro da norma histórica de 2,5% ao ano. Mas deveríamos esperar um crescimento menor à medida que a geração "baby boomer" (pós-Segunda Guerra Mundial) se aposentar, tornando as metas de emissões mais fáceis de atingir.

Segundo, na análise da câmara, grande parte da redução de emissões vem da substituição do carvão pelo gás natural. Isso negligencia o progresso tecnológico dramático transcorrendo entre energias renováveis, especialmente na energia solar, que deve tornar a redução do carbono ainda mais fácil.

Terceiro, a economia americana ainda está deprimida –e em uma economia deprimida, muitos dos supostos custos de cumprimento de regulações de energia não são custos. Em particular, construir novas usinas elétricas de baixa emissão empregaria tanto trabalhadores e capital que, caso contrário, estariam ociosos, o que daria, no mínimo, um impulso à economia americana.

Você poderia se perguntar por que a Câmara de Comércio é tão ferozmente contrária a uma ação contra o aquecimento global, se o custo da ação é tão pequeno. A resposta é, é claro, que a câmara está servindo interesses especiais, notadamente a indústria do carvão –o que é bom para os Estados Unidos não é bom para os irmãos Koch, e vice-versa– e atendendo aos cada vez mais poderosos sentimentos anticiência do Partido Republicano.

Finalmente, permita-me abordar a última linha de defesa dos antiambientalistas –a alegação de independente do que fizermos, não importa, porque outros países, a China em particular, continuarão queimando ainda mais carvão. Isso coloca as coisas de modo totalmente errado. Sim, nós precisamos de um acordo internacional para redução das emissões, incluindo sanções contra os países que não o assinarem. Mas a não disposição dos Estados Unidos em agir tem sido o maior obstáculo para esse acordo. Se começarmos a adotar medidas sérias contra o aquecimento global, o terreno estará preparado para que a Europa e o Japão façam o mesmo, e para uma pressão orquestrada sobre o restante do mundo.

Nós ainda não vimos os detalhes da nova proposta de ação climática, e uma análise completa –tanto econômica quanto ambiental– terá que esperar. Mas podemos estar razoavelmente certos que os custos econômicos da proposta serão pequenos, porque isso é o que a pesquisa –até mesmo a pesquisa paga pelos antiambientalistas, que claramente desejam encontrar o oposto– nos diz. Salvar o planeta seria incrivelmente barato.

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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