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As diferenças dos partidos em relação ao crescimento

Números da economia americana sob Barack Obama são melhores do que sob George W. Bush - Nicholas Kamm/ AFP
Números da economia americana sob Barack Obama são melhores do que sob George W. Bush Imagem: Nicholas Kamm/ AFP

03/11/2015 14h00

Na semana passada, “The Wall Street Journal” publicou um artigo da Carly Fiorina intitulado “Hillary Clinton é Reprovada em Economia”, ridicularizando as afirmações de Clinton de que a economia norte-americana tem melhor desempenho em governos democratas. “Os EUA precisam de alguém na Casa Branca que realmente saiba como a economia funciona”, declarou Fiorina.

Bem, até aí nós concordamos.

O posicionamento partidário em relação à economia é realmente bem estranho. Os republicanos falam de crescimento econômico o tempo todo. Eles atacam os democratas por regulamentações governamentais “que acabam com o trabalho” e prometem grandes coisas, sugerindo planos fiscais que pressupõem um forte crescimento aumento das receitas.

Os democratas são muito mais cautelosos. No entanto, Clinton está completamente certa: historicamente, a economia de fato se saiu melhor em governos democratas.

Esse contraste levanta duas grandes questões. Em primeiro lugar, porque a economia apresenta um desempenho melhor com os democratas? Em segundo lugar, diante desse dado histórico, por que os republicanos são muito mais propensos a se vangloriarem de sua capacidade de promover o crescimento?

Antes de abordar essas perguntas, vamos aos fatos.

A matemática das diferenças partidárias é realmente impressionante. No ano passado, os economistas Alan Blinder e Mark Watson circularam um documento comparando o desempenho econômico dos presidentes democratas e republicanos desde 1947.

Com os democratas, a economia cresceu, em média, 4,35% ao ano; com os republicanos, apenas 2,54%. Durante todo o período, a economia ficou em recessão por 49 trimestres; os democratas estavam na Casa Branca durante apenas oito desses trimestres.

Mas não é diferente com Obama? Nem tanto. Sim, a recuperação da Grande Recessão de 2007-2009 tem sido lenta. Mesmo assim, os números de Obama são melhores do que os de George W. Bush em uma série de indicadores. Em particular, apesar de toda a falação sobre políticas que acabam com o trabalho, o emprego no setor privado tem 8 milhões de vagas a mais do que quando Barack Obama tomou posse, o dobro do crescimento alcançado sob o seu predecessor antes da recessão.

Por que os números dos democratas são muito melhores? A resposta curta é que nós não sabemos.

Blinder e Watson estudaram uma variedade de explicações possíveis, mas não encontraram uma resposta totalmente satisfatória. Não há nenhuma indicação de que a vantagem democrata possa ser explicada por políticas monetárias e fiscais melhores. Os democratas parecem ter tido mais sorte do que os republicanos com os preços do petróleo e o progresso tecnológico.

No geral, porém, o padrão permanece misterioso. Certamente, nenhum candidato democrata poderia prometer um crescimento dramaticamente superior, caso fosse eleito. E, de fato, os democratas nunca o fazem.

Os republicanos, no entanto, tem o costume de fazer tais afirmações: todo candidato com uma chance real de conseguir a nomeação do Partido Republicano afirma que seu plano fiscal produzirá um enorme onda de crescimento --uma reivindicação que não tem base na experiência histórica. Por quê?

Parte da resposta é uma questão de fechamento epistêmico: os conservadores modernos geralmente vivem em uma bolha na qual fatos inconvenientes não podem penetrar. Ouvimos constantemente afirmações de que Ronald Reagan alcançou um crescimento econômico e de emprego nunca visto, antes ou depois, quando a realidade é que Bill Clinton ultrapassou-o nas duas medidas.

A mídia de direita alardeia as decepções econômicas dos anos de Obama e quase nunca menciona as boas notícias. Assim, o mito da superioridade econômica conservadora segue incontestado.

Além disso, os republicanos precisam prometer milagres econômicos como uma maneira de vender as políticas que favorecem esmagadoramente a classe dos doadores de campanha.

Seria bom ter alguma variedade, talvez pelo menos um importante candidato do Partido Republicano falando contra grandes cortes de impostos para o 1%. Mas nenhum faz isso, e todos os grandes jogadores têm pedido cortes que subtraem trilhões da receita. Para compensar esta perda de receita, seria necessário fazer cortes drásticos em grandes programas --isto é, Previdência Social e/ou Medicare.

Contudo, os americanos acreditam esmagadoramente que os ricos pagam menos impostos do que deveriam, e até mesmo os republicanos são divididos nesta questão. E o povo quer que a Previdência Social seja expandida, não cortada.

Então, como pode um político vender a proposta de corte de impostos? A resposta é prometer esses milagres; insistir que os cortes de impostos sobre os rendimentos elevados iria se pagar e ainda produzir ganhos econômicos maravilhosos.

Daí a assimetria entre os partidos. Os democratas podem se dar ao luxo de serem cautelosos em suas promessas econômicas precisamente porque suas políticas podem ser vendidas por seus méritos próprios.

Os republicanos devem vender uma agenda essencialmente impopular declarando confiantemente que eles têm a receita para a prosperidade --e esperar que ninguém aponte para seus dados históricos deficientes.

E se alguém apontar para esses dados, você já sabe como vão reagir: vão começar a gritar sobre a parcialidade da imprensa.