A China precisa de seu próprio sonho
Em 08 de novembro, a China deverá realizar o 18º Congresso Nacional do Partido Comunista. Nós já sabemos quem será o próximo líder do partido: o vice-presidente Xi Jinping. O que não sabemos é o que importa: se Xi tem um “sonho chinês” diferente do “sonho americano”? Porque se o sonho de Xi para a classe média emergente da China – 300 milhões de pessoas que devem aumentar para 800 milhões em 2025 – for exatamente igual ao Sonho Americano (um carro grande, uma casa grande e Big Macs para todos), então precisaremos de outro planeta.
Passe uma semana na China e você verá o porquê. Eis uma manchete do Shanghai Daily de 7 de setembro: "Cidade é alertada para a falta de recursos hídricos”. A matéria dizia: “Xangai pode enfrentar uma falta de recursos hídrigos se a população continuar subindo. (…) A capacidade atual de abastecimento de água da cidade é de cerca de 16 milhões de toneladas por dia, o que é capaz de suprir a demanda de 26 milhões de pessoas. Entretanto, se a população chegar a 30 milhões, a demanda aumentará para 18 milhões de toneladas por dia, superando a capacidade atual. "Xangai chegará a 30 milhões de habitantes em cerca de sete anos!”
"O sucesso no 'sonho americano' costumava significar apenas uma casa, uma família de quatro pessoas e dois carros, mas agora ele aumentou para um consumo excessivo como exemplificado por Kim Kardashian. A China simplesmente não pode seguir esse caminho – ou o planeta será despido totalmente dos recursos naturais para fabricar tudo o que os consumidores chineses querem consumir”, observa Peggy Liu, fundadora da Colaboração para Energia Limpa entre EUA e China, ou Juccce "
Liu, formata pelo MIT e ex-consultor da McKinsey, afirma que os chineses hoje anseiam por criar uma nova identidade nacional, que mescle valores tradicionais chineses, como o respeito e o equilíbrio, com a sua realidade urbana moderna. Ela acredita que a criação de um "sonho chinês" sustentável, que quebre a ligação histórica entre o crescimento da renda e o aumento do consumo de recursos poderia ser uma parte dessa nova identidade, que poderia ecoar no mundo inteiro.
Então a Juccce tem trabalhado com prefeitos chineses e redes sociais, especialistas em sustentabilidade e agências de publicidade ocidentais para incentivar hábitos sustentáveis na classe consumidora emergente, redefinindo o que é prosperidade pessoal – à qual muito mais chineses estão ganhando acesso pela primeira vez – como ter “mais acesso a melhores produtos e serviços, não necessariamente através da posse, mas também pela partilha – de forma que todos fiquem com um pedaço de uma torta melhor.”
Isso significa, entre outras coisas, melhor transporte público, melhores espaços públicos e melhores condições de moradia que encoragem densos edifícios verticais, que são mais eficientes energeticamente e facilitam o compartilhamento de serviços, e mais oportunidades de educação à distância para reduzir o deslocamento das pessoas. Enfatizar o acesso em oposição à propriedade não só é mais sustentável, como também ajuda a aliviar o atrito das diferenças entre ricos e pobres. Na verdade, a Juccce traduz o sonho chinês como um “Sonho harmonioso e feliz” em mandariam. (O conceito “verde” não tem tanto apelo na China.)
Os chineses são mais abertos do que nunca para isso. Há uma década, a atitude predominante era: "Ei, vocês norte-americanos cresceram de forma não sustentável por 150 anos. Agora é a nossa vez.” Há algumas semanas, porém, participei da inauguração do Instituto de Arquitetura e Planejamento Urbano da Universidade Tongji em Xangai e perguntei aos alunos se eles ainda se sentiam assim. Tive uma resposta muito diferente. Zhou Lin, que estuda sistemas de energia na pós-graduação, levantou-se e declarou, enquanto seus colegas assentiam: “Você pode politizar esta questão o quanto quiser, mas, no final, isso não nos acrescenta nada.” Não se trata mais de justiça, disse ele. Encontrar um caminho de crescimento “mais limpo” é para o bem da China.
Dizer que a China precisa de seu próprio sonho de forma alguma isenta os norte-americanos ou europeus de redefinirem os seus. Todos nós precisamos repensar como sustentaremos classes médias em ascensão com rendas maiores num mundo em aquecimento, caso contrário, a convergência entre aquecimento, consumo e multidão significará que estamos crescendo em direção à morte.
O último plano quinquenal da China – 2011a 2015 – estabeleceu metas impressionantes de sustentabilidade para a redução do consumo de energia e água por unidade de PIB. Todos esses objetivos são essenciais para a sustentabilidade da China, mas não são suficientes, afirma Liu. Com o aumento das vendas no varejo em 17% ao ano desde 2005 e renda urbana em até 150% na última década, “o governo também precisa ter um plano para orientar o comportamento do consumidor em direção a um caminho sustentável”, acrescenta Liu. “Mas ainda não tem.”
Então, Xi Jinping tem dois desafios muito diferentes em relação a seu antecessor. Ele precisa garantir que o Partido Comunista continue governando – apesar da pressão dos cidadãos por uma reforma – e isso requer mais crescimento elevado para manter a população satisfeita com o controle do partido. Mas ele também precisa administrar todos os aspectos negativos desse crescimento – desde as disparidades de renda cada vez maiores e a migração em massa das zonas rurais para as urbanas, até a poluição asfixiante e a destruição ambiental.
A única maneira de conciliar tudo isso é com um novo Sonho Chinês que case as expectativas de prosperidade das pessoas com uma China mais sustentável. Será que Xi sabe disso, e, se souber, será que é capaz de movimentar o sistema rápido o suficiente? Há muita coisa em jogo nas respostas para essas perguntas.
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