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Obama deve se focar nos EUA, não em Israel

13/11/2012 00h01

Amigos israelenses têm me perguntado se, após reeleito, o presidente Barack Obama vai se vingar de primeiro-ministro Bibi Netanyahu devido à maneira como ele e Sheldon Adelson, seu imprudente financiador, abertamente apoiaram Mitt Romney. Minha resposta para os israelenses é esta: vocês teriam muita sorte se esse fosse o caso.

Vocês teriam muita sorte se o presidente acreditasse que tem tempo, energia e capital político para dispender lutando com Bibi para forjar a paz entre israelenses e palestinos. Eu não vejo isso acontecendo tão cedo. Obama tem que cumprir as ordens do povo norte-americano: focar em Belém, no Estado da Pensilvânia, e não em Belém, na Palestina, e se concentrar em nos tirar de atoleiros (Afeganistão), e não em nos colocar neles (Síria). Não, meus amigos israelenses, é muito pior do que vocês pensam: vocês estão sozinhos.

É claro que ninguém aqui vai dizer isso a vocês. Ao contrário – certamente haverá um novo secretário de Estado visitando seu país no ano que vem, com o enésimo plano de “medidas para a construção da confiança” entre israelenses e palestinos. Ele ou ela pode até lhes dizer que “este será o ano da decisão”. Mas tenha cuidado. Nós já estivemos aí antes. Se você buscar no Google os termos “Ano de decisão no Oriente Médio”, você vai encontrar mais de 100 milhões de links.

Isso é bom para Israel? Não. É insalubre. A combinação do foco doméstico dos Estados Unidos, do tumulto pós-Primavera Árabe e do cansaço dos palestinos significa que Israel pode ficar na Cisjordânia indefinidamente – a um custo muito pequeno no curto prazo, mas a um custo muito alto no longo prazo, que pode significar a perda de sua identidade como uma democracia judaica. Se os israelenses quiserem escapar desse destino, é muito importante que eles entendam que não somos mais os EUA de seus avós.

Para começar, a força política em ascensão nos EUA não é aquela com a qual Bibi alinhou Israel. Como o colunista israelense Ari Shavit observou no jornal Haaretz, na semana passada: “No passado, tanto o movimento sionista quanto o Estado judeu tinham o cuidado de serem identificados com as forças progressistas do mundo. ... Mas, nas últimas décadas, um número cada vez maior de israelenses se inclinou para o lado das forças reacionárias da sociedade norte-americana. Era conveniente contar com elas. Os evangelistas não faziam perguntas difíceis sobre os assentamentos, os membros do Tea Party não disseram uma palavra sobre a exclusão das mulheres e das minorias nem sobre os ataques de colonos judeus ou sobre os atos de vandalismo contra os palestinos e os ativistas defensores da paz. A ala branca, religiosa e conservadora do Partido Republicano não se importou quando a Suprema Corte de Israel foi atacada e o Estado de direito em Israel foi pisoteado”. Israel, Shavit acrescentou, pressupôs que “com o patrocínio de uma América radical e de direita poderemos levar a cabo uma política radical e de direita sem termos que pagar o preço por isso”. Nada mais, nada menos. Netanyahu ainda pode vir a ser aplaudido de pé pelo lobby pró-Israel, mas não na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

Ao mesmo tempo, os legisladores norte-americanos aprenderam que o Oriente Médio só coloca um sorriso em nossos rostos quando a coisa começa com eles mesmos: ou seja, com os próprios israelenses e árabes. As negociações de Camp David começaram com eles. As conversações de Oslo começaram com eles. A Primavera Árabe começou com eles. Quando eles se apropriam da paz ou de movimentos democráticos, essas iniciativas podem ser autossustentáveis. Podemos ampliar o que eles começam, mas não podemos criar nada. Nós podemos mediar e até mesmo providenciar os bufês para esses eventos, mas as negociações têm que começar com eles.

Nós aprendemos algo mais com nossas intervenções no Afeganistão e na Líbia: nós desejamos os fins, mas não desejamos os meios – isto é, fazer tudo o que for necessário para transformar essas sociedades. É por isso que nós estamos saindo do Afeganistão, que não queremos entrar na Síria e que contamos com sanções, pelo período que for possível, para dissuadir o Irã de construir uma bomba nuclear. Esses países são muito difíceis de corrigir, mas muito perigosos para serem ignorados. Ainda vamos tentar ajudar, mas vamos esperar que as potências regionais, e os habitantes locais, assumam mais responsabilidade sobre essas situações.

Finalmente, nós realmente temos trabalho a fazer em casa. Logo, os norte-americanos vão ter que pagar mais impostos para ter menos governo. E isso já está acontecendo. Essa situação não vai nos tornar isolacionistas, mas vai mudar a nossa disposição e vai nos fazer muito mais seletivos em relação a onde vamos nos envolver. Isso significa que apenas uma mudança radical adotada por palestinos ou por israelenses nos convencerá a nos engajar totalmente de novo.

Outro dia, em uma entrevista concedida ao Canal 2, de Israel, o presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina declarou: “Para mim, a Palestina é formada pelas fronteiras de 1967, e tem Jerusalém Oriental como capital. Esta é a Palestina. Eu sou um refugiado. Eu vivo em Ramallah. A Cisjordânia e a Faixa de Gaza são a Palestina. Todo o resto é Israel”.

Este foi um grande sinal, mas Bibi o desprezou. O romancista israelense David Grossman escreveu uma carta aberta a Netanyahu no jornal Haaretz, na qual criticava o primeiro-ministro: “Isto é um pouco embaraçoso, mas eu vou lembrá-lo, senhor Netanyahu, de que o senhor foi eleito para liderar Israel justamente com o intuito de identificar essas raras janelas de oportunidade, a fim de transformá-las em uma possível alavanca para livrar seu país do impasse no qual ele tem estado preso há décadas”.

Então, o meu melhor conselho para os israelenses é: concentrem-se em sua própria eleição – e não na nossa –, que ocorrerá em 22 de janeiro próximo. Para mim, é muito triste que em um país com tanto talento humano, os políticos israelenses de centro e de esquerda ainda não tenham conseguido escolher uma figura de projeção nacional capaz de disputar o cargo com Netanyahu e com seu truculento parceiro, o chanceler Avigdor Lieberman – um homem cujo compromisso com a democracia está mais próximo de Vladimir Putin do que de Thomas Jefferson. Não contem com os EUA para organizar o resgate. Tem que começar com vocês.

O meu presidente está ocupado.