Focar no crescimento econômico seria uma arma de Hillary para bater Trump
Talvez eu só não tenha visto. Mas em todos os depoimentos na convenção democrata sobre o que Hillary Clinton havia feito para outras pessoas, não me lembro de ninguém dizendo: “Comecei um negócio por causa de Hillary Clinton”. Ou: “Contratei alguém por causa de Hillary Clinton.”
Ouvimos de socorristas, veteranos de guerra, pais que perderam seus filhos e vítimas de terrorismo, de estupro e diversas formas de discriminação. Só um grupo estava visivelmente ausente: as pessoas que estimulam nossa economia ao inventarem coisas ou emprestarem dinheiro para abrir empresas que de fato empregam pessoas.
Ao assistir à convenção, você nunca saberia que o que também torna os Estados Unidos grandiosos é que a cada geração, pessoas cheias de ideias arriscam suas poupanças para abrir empresas que fornecem trabalho e salários. E é só gerando mais desses aventureiros é que mais pessoas serão contratadas para os bons empregos que Hillary prometeu.
As únicas coisas remotamente relacionadas com crescimento em seu discurso eram referências indiretas a um programa de investimentos em infraestrutura comandado pelo governo ("Go for it! - "vai fundo!', em tradução livre) e sua promessa de “dar um incentivo a pequenos negócios. Tornar mais fácil conseguir crédito.”
No entanto, fazer isso seria se confrontar com o sentimento anti-bancos do Partido Democrata, já que pequenos bancos comunitários fornecem cerca de metade dos empréstimos para pequenos negócios, e são exatamente esses bancos que mais foram sufocados pelas regulações pós-2008. Precisamos evitar imprudências, e não que as pessoas deixem de assumir riscos.
Digo isso por duas razões. A primeira: Donald Trump pode não continuar sendo um idiota para sempre (embora ele possa!), e portanto Hillary terá de derrotá-lo na essencial questão econômica do crescimento. Trump passou os últimos dias destruindo os pais de um heroico soldado americano muçulmano que perdeu sua vida no Iraque. Os pais haviam criticado Trump, com razão. Mas em sua réplica, Trump deu um tiro em seus dois pés, perdendo apoio dentro de seu próprio partido.
Trump justificou seu “piti” no Twitter contra os pais do soldado com um argumento de aluno de quinta série: “Ele me xingou.” Ele se esqueceu de que sua própria convenção começou a gritar ensandecidamente para que Hillary fosse “presa”, mas ela ignorou o fato e se ateve à sua mensagem. É o que adultos costumam fazer.
Só para constar, eu espero que Trump continue em seu modo totalmente estapafúrdio, porque isso desviou a atenção das últimas notícias—que seriam perfeitas para Trump se aproveitar politicamente—de que a economia havia crescido somente 1,2 ponto no segundo trimestre, e que o crescimento no primeiro trimestre havia sido revisto para baixo. Essa notícia sobre economia foi arranjadinha para Trump, o autoproclamado criador de empregos, e ele a desperdiçou de tal forma que ela nunca mais foi ouvida.
Trump chegou incrivelmente longe sem ter feito nenhuma lição de casa em preparo para a presidência, e em vez disso contou com os tuítes com os quais alimentava um ansioso eleitorado republicano. Sua candidatura deveria ter acabado a esta altura. Mas não acabou.
Fico assustado com o fato de que as pessoas estejam tão fartas das elites, de que elas odeiem e desconfiem tanto de Hillary e estejam tão preocupadas com o futuro, pensando em empregos, globalização e terrorismo, a ponto de uma pequena minoria ainda poder cair no conto desse fanfarrão narcisista caso ele tenha um mínimo de cérebro político.
E isso leva a meu segundo motivo para pressionar Hillary a injetar um pouco de capitalismo em seu plano econômico: a coalizão que ela poderia liderar. Se existe uma coisa que não vai reavivar o crescimento agora, é uma agenda anti-comércio, regulatória e pesada que o Partido Democrata foi mudando sob a influência de Bernie Sanders.
O socialismo é o maior sistema já inventado para tornar as pessoas igualmente pobres. O capitalismo torna as pessoas desigualmente ricas, mas prefiro fazer com que nosso bolo cresça maior e mais rápido para ajustar melhor as fatias do que redividir um bolo que está encolhendo.
Existem muitos republicanos de centro-direita hoje que se sentem órfãos por causa de Trump. Eles não conseguem votar nele, mas muitos deles ainda alegam não conseguir votar em Hillary, tampouco. Hillary deveria tentar conquistá-los com uma verdadeira agenda que envolva crescimento, startups, desregulação e empreendedorismo, para lhes dar uma razão positiva para que votem nela.
Faz sentido do ponto de vista político: enfrente Trump usando seu próprio autoproclamado ponto forte. E faz sentido do ponto de vista econômico: se Hillary ganhar, ela precisará realizar coisas, não somente dar coisas.
Eu entendo que ela tenha tido que se voltar para Sanders e seus eleitores para vencer a nomeação; suas preocupações com justiça e desigualdade são nobres. Mas essas preocupações só podem ser resolvidas com crescimento econômico; os crescentes sentimentos anti-imigração no país só podem ser acalmados com crescimento econômico; a ansiedade geral que alimenta o trumpismo só pode ser amainada com crescimento econômico.
Sanders não tinha qualquer tipo de plano para o crescimento. Trump também não tem, mas ele sabe fingir. Está na hora de Hillary dar uma guinada. O país hoje não precisa de uma primeira presidente mulher. Ele precisa de um primeiro presidente em muito tempo que consiga governar com uma coalizão de centro-esquerda e centro-direita, e de fato acabar com o entrave na política fiscal de uma forma inteligente.
Se Trump continuar a se derreter em uma poça de bile, cada vez mais republicanos poderão mudar de lado. Com as políticas econômicas certas pró-crescimento, Hillary teria uma brecha não só para conquistá-los para ajudá-la a vencer, mas também para construir uma coalizão governamental para o futuro.
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