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Uruguaiana atrai estrelas do samba em Carnaval fora de época

Bambas da Alegria desfila no Carnaval de Uruguaiana  - Reprodução/Facebook/carnavaluruguaiana2019
Bambas da Alegria desfila no Carnaval de Uruguaiana Imagem: Reprodução/Facebook/carnavaluruguaiana2019

25/03/2019 18h50

Na fronteira entre o Brasil e a Argentina, Uruguaiana transforma-se, durante três dias no ano, na capital brasileira do Carnaval. Pioneira no modelo de folia fora de época, a cidade de 100 mil habitantes viveu, entre quinta-feira (21) e sábado (23), em função dos desfiles das escolas de samba. Com o reforço de sambistas do eixo Rio-SP, seis agremiações do Grupo Especial e duas do Grupo de Acesso se apresentaram para um público estimado em mais de 10 mil pessoas por noite na passarela montada na Avenida Presidente Vargas.

Cidade notabilizada como um dos principais eixos da cultura gaúcha e que sediou, por muitos anos, a Califórnia da Canção Nativa, um dos principais festivais do gênero, Uruguaiana tem uma forte tradição carnavalesca. Tudo começou nos anos 1950, quando, por influência dos fuzileiros navais, em grande parte, advindos do Rio de Janeiro, surgiram as primeiras escolas de samba. Ao longo dos anos, a folia se desenvolveu convivendo tranquilamente com os centros de tradições gaúchas. Hoje, é natural um uruguaianense desfilar em uma escola de samba e participar dos grupos típicos ao longo do ano.

Em meados da década passada, uma medida do Ministério Público proibiu as escolas de realizarem seus ensaios - o que prejudicou a arrecadação. Ao sanar o problema, o então prefeito Sanchotene Felice propôs às agremiações que o desfile fosse realizado após a data normal do Carnaval. O sucesso foi tamanho que tornou-se regra e foi copiado por várias cidades do Rio Grande do Sul. Por conta da mudança de data, o desfile de Uruguaiana passou a atrair a atenção de sambistas de outros estados.

As atrações dos sambódromos do Rio e de São Paulo tornaram-se frequentes em Uruguaiana. Neste ano, desfilaram os intérpretes Wantuir (Unidos da Tijuca), Igor Sorriso (Mocidade Alegre), Tinga (Vila Isabel), Gilsinho (Portela), Emerson Dias (Salgueiro), Leonardo Bessa (Acadêmicos do Tucuruvi), Leozinho Nunes (São Clemente) e Pixulé (Unidos de Padre Miguel).

Casais de mestre-sala e porta-bandeiras consagrados, como Claudinho e Selminha Sorriso (Beija-Flor) e Raphael e Denadir (Vila Isabel), também marcaram presença. Mas Uruguaiana não apenas importa talentos. Severo Luzardo, carnavalesco da União da Ilha, é natural da cidade e ganhou vários títulos (incluindo o deste ano) comandando o barracão d´Os Rouxinóis, escola mais premiada da cidade, com 31 títulos em sua sala de troféus.

Parceria público-privada

Durante os dias de folia, Uruguaiana se transforma. A cidade de fronteira, acostumada com o vai e vem de comerciantes entre o Brasil e a Argentina, torna-se um disputado destino turístico, procurado por brasileiros, uruguaios e argentinos. A sua rede hoteleira registrou 100% de ocupação nas duas últimas semanas. Segundo o prefeito, Ronnie Mello, o incremento na economia da cidade é visível: "Os três dias de folia representam em torno de 3% da arrecadação anual do município. O Carnaval é vital para Uruguaiana, pelo aspecto cultural e econômico", atesta.

Desde que assumiu a prefeitura, Mello impôs um novo modelo de gestão de Carnaval. Com uma parceria com uma empresa de eventos, o poder público dá o suporte para a realização do evento, com a parte de estrutura de avenida e subvenção das escolas ficando para a iniciativa privada. "A cidade arrecada, as escolas recebem subvenções e os empresários investem, com retorno garantido", afirma o prefeito.

Os Rouxinóis são campeões

O Carnaval de Uruguaiana tem algumas diferenças em relação aos desfiles dos grandes centros. A principal é que as seis grandes escolas desfilam duas vezes. As duas primeiras noites contam com a passagem de três agremiações do Grupo Especial e uma do Acesso - que desfila apenas uma vez. Na noite de sábado, as seis principais voltam à pista e são avaliadas novamente pelo grupo de 22 jurados, trazidos do Rio de Janeiro e São Paulo.

O título ficou com Os Rouxinóis, que venceu a campeã de 2017, Unidos da Ilha do Marduque, por 9 décimos de vantagem. Em terceiro lugar, ficou a jovem e surpreendente Imperadores do Sol. Escola de maior torcida, a Unidos da Cova da Onça teve bastante problemas com seus carros alegóricos na primeira noite de desfiles e ficou em quarto lugar. Bambas da Alegria ficou em quinto e Deu Chucha Na Zebra foi rebaixada para o Grupo de Acesso, onde o Império Serrano foi o campeão.

Anderson Baltar