Em marcha lenta, reunião do clima entra na reta final
Com a chegada de ministros e chefes de governo a Durban, na África do Sul, começa nesta segunda-feira a etapa final da 17ª conferência das Nações Unidas sobre mudança climática.
O encontro começou em marcha lenta, contrastando com a urgência sugerida por pesquisas científicas recentes que apontam para uma aceleração no aquecimento global e aumento recorde de emissões de dióxido de carbono - considerado o principal responsável pelo efeito estufa - nos últimos anos.
Ao fim de uma semana de negociações, o chamado segmento técnico do encontro produziu poucos avanços rumo a uma nova fase de redução de emissões sob o Protocolo de Kyoto, que vence em 2012, mas segundo observadores mais otimistas, as discussões parecem estar no rumo certo.
O problema é que o encontro tem que terminar na sexta-feira e, como brincou um negociador, com a chegada dos ministros "perde-se dois dias de trabalho", já que todos se reúnem na grande plenária para ouvir as declarações dos quase 200 países participantes.
Enquanto, nas palavras da presidente da chefe das Nações Unidas para o clima, Cristiana Figueres, o mundo "se arrasta rumo a uma economia de baixo carbono", a dificuldade maior para a segunda etapa do encontro sul-africano será acomodar as diferentes exigências para a continuação do único acordo internacional sobre redução de emissões.
Cancún
No ano passado, em Cancún, os participantes concordaram em tomar providências para manter o aquecimento global em 2ºC acima dos níveis pré-industriais, mas ainda não se sabe como isso será possível.
Cientistas afirmam que, para que a meta seja cumprida, seria preciso que as emissões globais de CO2 começassem a entrar em declínio a partir de 2020, ou seja, teriam que atingir o seu pico antes disso.
No entanto, em vez de estarem em vias de estabilização, elas parecem estar em crescimento acelerado. E os países em desenvolvimento, principalmente, China e Índia são os maiores contribuintes para o aumento das emissões.
O argumento dos Estados Unidos, engrossado por Canadá e Japão, é que um acordo obrigatório de redução de emissões sem estes países (e o Brasil) não teria o efeito desejado.
Essa exigência de metas de redução obrigatórias para os países em desenvolvimento esbarra, no entanto, em forte resistência dos últimos, que afirmam ter o direito de aumentar as suas emissões se isso for garantir o crescimento de suas economias.
Cabo de guerra
Uma das soluções de meio termo que vêm sendo estudadas seria aguardar até 2015 para então fechar-se um acordo que abarcasse todos os envolvidos.
Neste cabo de guerra, a União Europeia tem dado sinais de que estaria disposta a assumir metas obrigatórias em um acordo que previsse a adesão de outros países a partir de 2015 - como uma versão light do Protocolo de Kyoto.
Como a Europa hoje responde por cerca de 10% das emissões mundiais apenas, a ideia foi apelidada por alguns de "Kyotinho".
O mecanismo de incentivo à redução de emissões provocadas por desmatamento, o chamado REDD, também continua emperrado.
Nos próximos dias, segundo observadores, será preciso muita conversa entre os envolvidos para que se chegue a acordos sobre a salvaguardas previstas no mecanismo.
Entre outros detalhes, discute-se de que forma o REDD pode conter salvaguardas para, por exemplo, preservar a biodiversidade e os direitos de populações locais ou indígenas.
Outro tema que avançou lentamente na primeira semana foi a concretização do Fundo Verde para o Clima, outra ideia lançada no encontro de Copenhague e oficializada no ano passado em Cancún.
A ideia é que os países ricos liberem US$ 100 bilhões até 2020 para ajudar os afetados pelas mudanças do clima.
No entanto, o governo americano já se afastou do plano, e organizações ambientalistas denunciam que os países ricos tentaram, ao longo da semana passada, jogar a responsabilidade por estes recursos para a iniciativa privada.
Até sexta-feira, os negociadores terão uma semana cheia.
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