A lavradora que realizou sonho de reencontrar ararinha desaparecida na natureza havia 15 anos
Maria de Lourdes Oliveira, de 50 anos, e sua filha Damilys, de 16 anos, foram as responsáveis por mostrar ao mundo uma ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) na natureza, 15 anos depois de seu desaparecimento.
A ave brasileira era considerada extinta em seu habitat natural, a caatinga, e apenas cerca de 130 indivíduos da espécie existem atualmente, em cativeiro, em projetos de reprodução no Catar, na Alemanha e no Brasil. Pesquisadores pretendem começar a reintroduzi-las na natureza a partir do ano que vem.
Mas, no último sábado, uma ararinha foi vista na zona rural de Curaçá, no extremo norte da Bahia, pela população local. A ararinha que ficou conhecida no Brasil como última de sua espécie na natureza também foi encontrada lá, em 1990, e desapareceu em 2000.
Pesquisadores da ONG de conservação SAVE Brasil e do ICMBio (órgão ambiental ligado ao governo federal), que fazem parte do projeto Ararinha na Natureza, foram notificados e se juntaram aos moradores em uma expedição de busca pelo animal. Sua origem ainda é um mistério.
A ararinha foi vista dentro da reserva natural na fazenda Caraibeiras, que pertence a Lourdes. Seu pai, que faleceu em 2015, aos 94 anos, sonhava em ver novamente os animais, que eram comuns em sua infância.
Confira o relato concedido à BBC Brasil:
"A esposa do nosso vizinho Nauto viu a arara pousar, mas não reconheceu que pássaro era e chamou ele pra mostrar que tinha um pássaro diferente. Quando ele olhou, viu que era uma ararinha. Aqui tem área de reserva e tem muitas placas com a foto dela. Depois, ele a viu cantando num pé de caraibeira (pau d'arco, árvore comum na região).
Domingo de madrugada, às 3 da manhã, eu fui logo pra lá com minha menina para ver a ararinha. Não conseguimos. Quando estávamos voltando para casa, ela cantou. Eram 6h20.
Voltamos para lá e ficamos um tempo para conseguir vê-la porque ela estava dentro das folhas da caraibeira, escondidinha. Veio um vento, as folhas balançaram e ela abriu as asas. A gente viu que era realmente uma ararinha-azul da nossa região. Aqui já teve muitas no passado.
Não tenho dúvidas de que é ela. Eu mesma vi a outra, que foi encontrada aqui (em 1990) voando com um maracanã (outro pássaro da caatinga). E tem um senhor aqui vizinho, de 70 anos, que ouviu o canto dela e na hora disse: 'é uma ararinha-azul'.
Era o sonho de meu pai, Crispiniano, ver as ararinhas de novo, por isso que ele doou essa terra para fazer a área de reserva. Ele contava que nos anos 1960 elas andavam em bando e que era muito bonito.
Foi uma emoção muito grande. Eu nem consegui dormir à noite antes de vê-la e até hoje não consigo dormir direito, porque é uma emoção saber que ela está novamente na natureza. Minha filha Damillys até chorou. Mas ela voou de novo e não vimos mais. Estamos na busca e na esperança de que ela esteja bem.
Minha outra filha, que está na cidade, criou um grupo no WhatsApp para facilitar a informação. Tem até gringo aqui, um da Flórida e um de Los Angeles, na Califórnia, procurando a ararinha. Eles vieram ver o lugar em que ela esteve.
A vizinhança está toda envolvida na busca, todo mundo só fala disso. Quando chego das casas das pessoas, ninguém nem mais dá bom dia. As pessoas já perguntam "ê, você viu a ararinha?". Fica todo mundo na ansiedade. Acordamos cedo e vamos direto pra a caatinga pra procurá-la.
A gente não tem ideia de onde ela veio. Já vieram uns biólogos, e eles acham que ela estava em algum cativeiro e pode ter fugido. Aí ela veio para o habitat dela, porque o lugar dela é aqui. Mas no dia em que vimos ela estava bem, porque ela voou muito distante, não posou em canto nenhum. Deu pra ver que ela estava saudável.
As pessoas estão há muito tempo esperando, mas a ararinha-azul demorou muito a vir e agora parece que resolveu vir de vez. Sabemos que ela está por aí, mas a mata é muito grande. Ela está na natureza, é só paciência pra vê-la novamente."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.