Por que uma missão espacial tão audaciosa terminou com a autodestruição da sonda Rosetta?
Depois de lançamento há 12 anos, equipamento foi programado para colidir contra corpo celeste congelado de 4 km de largura.
O fim de uma das missões espaciais mais audaciosas da história.
Assim foi descrita a última manobra da sonda Rosetta, que acaba de realizar uma aterrissagem forçada em um cometa de 4 km de largura, depois de estudá-lo por mais de dois anos.
Durante a descida e aproximação, a sonda enviou imagens cada vez mais detalhadas do cometa 67P, que ilustram essa reportagem.
Cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), responsável pela missão, disseram que a sonda havia chegado ao fim de sua vida útil e queriam fazer as últimas medições da superfície do cometa a uma distância bem pequena.
Ainda que o impacto não tenha sido fulminante e alguns de seus sistemas pudessem seguir funcionando, o software de bordo garantiu que tudo fosse desligado instantes antes da colisão.
Mas por que encerrar de maneira tão definitiva uma missão tão bem sucedida?
Exploração histórica
A Rosetta chegou ao cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko (seu nome completo) em agosto de 2014, após uma viagem de mais de dez anos a partir da Terra.
Por mais de dois anos, rondou esse imenso corpo estelar, acumulando mais de 100 mil imagens e leituras por instrumentos. Isso permitiu analisar de forma inédita o comportamento do cometa, sua estrutura e composição química.
A sonda inclusive lançou um pequeno módulo até a superfície do cometa em novembro de 2014 para obter informações adicionais, um feito histórico na exploração espacial.
Os cientistas acreditam que os cometas sejam restos intactos da formação do Sistema Solar, e os dados acumulados sobre o 67P oferecerão informações extraordinárias sobre as condições que existiam há 4,5 bilhões de anos.
'Aventura incrível'
Os cientistas ressaltaram o entusiasmo que a missão gerou pelo planeta.
"Levamos ao mundo uma emocionante travessia científica ao coração de um cometa e vimos o mundo levar em seus corações a aventura incrível da Rosetta", disse Mark McCaughrean, principal conselheiro científico da ESA.
Ainda que a missão tenha acabado, não será o fim da pesquisa. "Os dados da Rosetta serão analisados por décadas", disse o diretor de voo Andrea Accomazzo.
Com o 67P a 573 milhões de km do Sol e afastando-se constantemente, havia pouca energia solar para operar os sistemas da sonda.
Além disso, a velocidade com que chegavam os dados a essa distância era muito lenta: 40 kbps, semelhante à velocidade de conexão discada de internet.
Em vez de fazer a sonda hibernar ou deixá-la se apagar lentamente, a equipe decidiu encerrar a aventura dramaticamente.
Os controladores do centro de operações da ESA, em Darmstadt, na Alemanha, ordenaram que a sonda mudasse seu rumo na quinta-feira, dia 29.
'Adeus'
A manobra alterou sua ampla órbita ao redor do cometa e a colocou em uma trajetória de impacto direto.
A velocidade do impacto foi lenta, de menos de um metro por segundo, a mesma de uma pessoa caminhando, mas a sonda nunca foi feita para pousar na superfície, então vários de seus componentes ficaram inutilizados, impossibilitando a comunicação.
Matt Taylor, cientista de projetos da ESA, havia debatido a ideia de fazer a Rosetta dormir por alguns anos e despertá-la de novo quando o 67P estivesse próximo do interior do Sistema Solar. Mas não se tinha certeza se a sonda continuaria funcionando.
Devido à distância em que a Rosetta se encontrava, ainda levará algum tempo até que seja possível saber quantas imagens ela fez em sua descida, mas espera-se que haja registros a 15 ou 20 metros da superfície.
No centro de controle, quando a perda do sinal de rádio da sonda foi confirmada, indicando que ela havia colidido com o 67P, os cientistas comemoraram em silêncio, com apertos de mão, em um clima de alegria e tristeza, já que alguns deles trabalharam no projeto por boa parte dos seus 30 anos de duração.
Pouco depois da colisão final, o diretor da ESA, Patrick Martin, anunciou o sucesso da última etapa da missão e despediu-se da sonda: "Adeus, Rosetta: você fez seu trabalho. Foi ciência espacial de primeira linha."
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