General investigado diz à PF que soube do 8 de janeiro 'vendo na televisão'
Considerado pela Polícia Federal uma peça-chave nas articulações de tentativa de golpe em 2022, o general Estevam Theophilo disse em um depoimento complementar que tomou conhecimento do ato antidemocrático do 8 de janeiro "assistindo televisão" e logo depois dirigiu-se para o Comando Militar do Planalto para prestar apoio à cúpula das Forças Armadas.
"Pegou todos de surpresa, eu estava em casa assistindo televisão quando começou tudo; liguei para o Comandante do Exército [Júlio Cesar de Arruda] e questionei se ele estava vendo. Quando viu, disse que ia para o Comando Militar do Planalto, que é o responsável pela segurança do Palácio do Planalto (interna), dado que as demais áreas não competem ao Exército. De imediato e por apoio ao Comandante, os oficiais generais que estavam em Brasília (...) dirigiram-se também para o CMP", relatou.
A defesa do general decidiu apresentar esclarecimentos complementares à PF, por escrito, por considerar que havia lacunas na investigação sobre as quais ele não foi questionado em seu primeiro depoimento, prestado em fevereiro. O depoimento complementar foi enviado à PF no fim de março e está sob sigilo.
Os investigadores consideram Theophilo uma peça-chave porque seu nome é citado em mensagens do ex-ajudante de ordens Mauro Cid como um dos militares da cúpula do Exército que poderia apoiar um decreto golpista estudado pelo então presidente Jair Bolsonaro. Em um dos diálogos, Cid diz: "Ele quer fazer... Desde que o PR assine". Para a PF, as conversas indicam que o general executaria medidas golpistas caso Bolsonaro as decretasse.
O general também é considerado importante porque, na época, ele chefiava o Comando de Operações Terrestres (Coter). O Coter não possui tropas diretamente, mas tem a disponibilidade de acionar o Batalhão de Forças Especiais. As investigações da PF suspeitam que as Forças Especiais, que constituem um grupo de elite do Exército, estariam diretamente envolvidas nas tratativas golpistas e também nas ações do 8 de janeiro.
O general Theophilo se reuniu a sós com o então presidente Jair Bolsonaro em 9 de dezembro de 2022, depois que Bolsonaro fez modificações em um decreto golpista.
Em seu depoimento complementar, o general falou novamente sobre essa reunião e reiterou que não houve discussão sobre nenhuma medida golpista.
"Durante a reunião, como dito no meu depoimento, limitei-me a ouvir as queixas do ex-presidente sobre o resultado das eleições, e não emitir opinião. (...) Eu não tinha autoridade, não tinha nenhuma tropa sob meu comando, e jamais decidiria qualquer coisa ou opinaria fora de minhas atribuições", afirmou.
Theophilo também citou que, caso a suspeita da PF sobre ele ter aceitado uma proposta golpista fosse verdadeira, seria possível supor que o então presidente Jair Bolsonaro iria nomeá-lo comandante do Exército.
"Hipoteticamente, se, tal como alegado pela acusação policial, tivesse ocorrido qualquer proposta e aceitação de caráter golpista durante a reunião, por que o então presidente não teria destituído o comandante e me nomeado? E, como não fez nada disso, como o comandante do Exército me manteria no cargo diante de suposta tamanha traição? Ao contrário, o testemunho do comandante deixou claro a continuidade da relação de confiança e amizade comigo até a transição do comando", relatou.
A defesa de Theophilo também anexou uma carta do ex-comandante do Exército Júlio César Arruda, que chefiou a Força no início do governo Lula mas foi demitido após o 8 de janeiro.
Na carta, Arruda defendeu a trajetória de Theophilo e disse que, durante o período em que comandou o Exército, o general foi "extremamente disciplinado, honesto, leal, franco e camarada comigo".
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