Por que Múcio e Lewandowski são ministros que Lula não vai demitir
As discussões sobre mudanças na Esplanada dos Ministérios não pararam nem com a internação do presidente Lula (PT). Enquanto aliados traçam cenários desejados, o governo estuda o impacto das trocas de ministros.
Alguns nomes, no entanto, são apontados como praticamente blindados por Lula. Pelo menos, era o que o presidente sinalizava antes da cirurgia.
Ricardo Lewandowski e José Múcio Monteiro, ministro da Justiça e da Defesa, respectivamente, têm algumas coisas em comum que explicam a confiança do presidente e a disposição de não mexer nessas cadeiras.
Ambos com 76 anos, são considerados da "cota pessoal" de Lula. Colegas de geração do presidente —que tem 79 anos—, eles são descritos no Planalto como "acumuladores de experiência", por isso foram escalados para lidar com áreas bastante sensíveis: a segurança e os militares.
Lula teve que fazer um trabalho de convencimento para trazer os dois para o governo.
Lewandowski já havia se aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) e estava ganhando bastante dinheiro na iniciativa privada. Múcio, por sua vez, dizia não ter mais disposição para enfrentar um cargo com tantas exigências e estava curtindo os netos, distante da política.
A desconfiança de Lula com os militares —boa parte contaminada pelo bolsonarismo— fez com que Múcio acabasse cedendo ao apelo.
O ministro da Defesa é apontado na Esplanada como um dos mais hábeis pacificadores do governo. Pernambucano e de perfil informal, Múcio é citado pela sua simpatia mesmo quando os assuntos são extremamente espinhosos.
Já Lewandowski é descrito como alguém formal, que ajuda numa imagem de credibilidade da Justiça e da Segurança, o que significa também o desempenho da Polícia Federal, que mesmo autônoma, é subordinada à sua pasta.
Auxiliares da Defesa e do MJ admitem que sentem o "fogo amigo" interno do governo. Culpam a autofagia do PT, que estimula a ideia de que o presidente deve deixar sua cota pessoal para ampliar a chamada governabilidade.
Seniores e de perfis complementares, Lewandowski e Múcio procuram ficar longe das brigas políticas. São considerados duas torres que cuidam de temas sensíveis e falam com o presidente "do alto da sabedoria acumulada" dos três, dizem.
Apesar da falta de disposição de Lula em mexer nesses postos, há quem aposte no cansaço de ambos para que alguma dessas vagas seja aberta.
Múcio até chegou ao governo dizendo que faria um trabalho de um ano para ajustar a relação com as Forças Armadas e depois se aposentaria de vez. Às vésperas do terceiro ano, porém, o ministro admite que pode ficar até o fim do terceiro mandato de Lula.
Lewandowski, afirmam pessoas próximas ao ministro, também não demonstra interesse em deixar o cargo. Costuma dizer que quer deixar marcas da sua passagem e na sua biografia, principalmente na segurança pública, já que sua carreira jurídica já tem um currículo extenso.
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